Poemas publicados no HUMANITAS nº 23 –
Junho/2014
Acaso
Rafael
Rocha – Recife/PE
O homem é um
acaso de tão grande tamanho
Um lusco-fusco
entre bondade e ruindade.
Pensa ser dono do
mundo. Faz-se rebanho
Cometendo no
planeta toda iniquidade
O homem é a
partitura de um erro tacanho
Da natureza e dos
átomos desde tenra idade
Criador de um
deus a completar o arreganho
Da extrema
idiotice e maciça falsidade.
Assim o poeta faz
lucrar o seu ofício
Preferindo ser
areia e pedra e floresta
A buscar na
crença o gozoso benefício.
E o pensamento
que a vida lhe empresta
É aquele mínimo
ritmo fictício
A fazer deste
soneto uma grande festa.
*****
Poema venal
Karline Batista –
Aracati/CE
A alma sente sede de coisas
etéreas
Então não tornais a alimentá-la
Dessa matéria efêmera
Desse prazer adâmico
Desse beijo orgânico
Porque tua alma sabe das outras realidades
Enquanto tu finges meias verdades
No ledo frêmito de veias minguantes
Diga lá a tua miséria
Que tu não temes a morte
Não lutas contra a sorte
Posto que é vão ir contra o vau
Quando somos apenas gota
Líquida e errante
Do soberbo manancial.
Então não tornais a alimentá-la
Dessa matéria efêmera
Desse prazer adâmico
Desse beijo orgânico
Porque tua alma sabe das outras realidades
Enquanto tu finges meias verdades
No ledo frêmito de veias minguantes
Diga lá a tua miséria
Que tu não temes a morte
Não lutas contra a sorte
Posto que é vão ir contra o vau
Quando somos apenas gota
Líquida e errante
Do soberbo manancial.
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A tatuagem
Antônio Carlos Gomes – Guarujá/SP
Fez a tatuagem...
Era um quadro erótico
Numa simples rosa errática
Andando junto ao mar.
A brisa e seus sentidos
Neste filme pornográfico
Fez a tatuagem...
Era um quadro erótico
Numa simples rosa errática
Andando junto ao mar.
A brisa e seus sentidos
Neste filme pornográfico
De mulher desejante
talvez o altar
Apenas amar...
O quadro mulher
Sentada na areia
A rosa e a sereia
Cantando amar
Valsando no dia
Imaginando o luar.
Apenas amar...
O quadro mulher
Sentada na areia
A rosa e a sereia
Cantando amar
Valsando no dia
Imaginando o luar.
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TRIBUTO A FRANCISCA CLOTILDE
A
UM POETA – Francisca Clotilde
Detém a inspiração e o estro ousado
Passa altivo no mundo o indiferente;
Que te importa o sofrer mais apurado
A beleza, a ilusão, o sonho ardente?
Tudo é vão, tudo passa, tudo mente:
Do teu canto o vibrar apaixonado
Disfarça muita vez um tom magoado
E se inspira na dor, na dor somente.
Sofra embora tua alma em desatino
De não ser entendida, atroz destino
Canta e segue a penosa trajetória.
Dilacerem-te os pés rudes abrolhos
Canta à luz da alvorada a cor de uns olhos,
O mar, a imensidade, o amor, a glória.
Detém a inspiração e o estro ousado
Passa altivo no mundo o indiferente;
Que te importa o sofrer mais apurado
A beleza, a ilusão, o sonho ardente?
Tudo é vão, tudo passa, tudo mente:
Do teu canto o vibrar apaixonado
Disfarça muita vez um tom magoado
E se inspira na dor, na dor somente.
Sofra embora tua alma em desatino
De não ser entendida, atroz destino
Canta e segue a penosa trajetória.
Dilacerem-te os pés rudes abrolhos
Canta à luz da alvorada a cor de uns olhos,
O mar, a imensidade, o amor, a glória.
FRANCISCA CLOTILDE (1862-1935) – Poetisa,
contista, dramaturga, romancista, professora e abolicionista. Natural do Ceará,
nasceu na fazenda São Lourenço, em Tauá, a 19 de outubro de 1862. Sua poética
equilibrava-se na coerência existente entre a emancipação feminina, a política
e a liberdade. Criticava a submissão das mulheres ao fogão e a adoração das
mesmas à apática vida entre quatro paredes a comentar prendas domésticas. Conclamava
todas a se fazerem presentes às atividades políticas e culturais. Resistiu ao
sistema imposto pelos “poderosos”, entregando-se às mais ardentes causas
abolicionistas. Em 1902, publicou um livro que tratava de um tema bastante
polêmico para a época: o divórcio. No dia 5 de março de 1908 chega à cidade de
Aracati, atendendo a inúmeros pedidos de personalidades aracatienses e a 9 de
março do mesmo ano, funda o Externato Santa Clotilde, junto às filhas Antonieta
e Ângela Clotilde. Faleceu em Aracati.
*****
Interrogações
Thiers Rimbaud – Rio de
Janeiro/RN
Escapados das loucas tardes de abril
Sublinham um sonho qualquer
A calçada de meu pulso estremece
Rabisco instigante tempo
Eles se foram...
Pablo, Fernando, Rilke,
Whitman, Khayyam, Yeats and others
O que nos resta além das palavras
Caladas no infinito da alma?
(in Veneno Corrosivo, Bigtime Editora, 2014)
Escapados das loucas tardes de abril
Sublinham um sonho qualquer
A calçada de meu pulso estremece
Rabisco instigante tempo
Eles se foram...
Pablo, Fernando, Rilke,
Whitman, Khayyam, Yeats and others
O que nos resta além das palavras
Caladas no infinito da alma?
(in Veneno Corrosivo, Bigtime Editora, 2014)
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Flutuando
Marisa
Soveral – Porto/Portugal
Deixa-me
entrar dentro da tua cabeça
só vejo flores a rebentar
só vejo flores a rebentar
dos
teus cabelos
olha para os meus olhos, devagar
para raiares a minha vida sombria…
olha para os meus olhos, devagar
para raiares a minha vida sombria…
Gosto tanto de ti
que chega a ser insano
preciso das tuas palavras
encostadas ao meu ouvido
brisas de calor e arrepios
quero-as tanto
que perco o sono.
Desassossegada
acordo cansada e silenciosa
e tenho em mim
o ruído das palavras
que não ouvi
que apenas pressenti.
Não sei o sítio a que pertenço
O que faço aqui
Porque não estou aqui, nem aí!
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