sexta-feira, 28 de novembro de 2014

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO DE 2014 - PÁGINA 1


FELIZ ANIVERSÁRIO A TODOS OS DEUSES
NASCIDOS EM 25 DE DEZEMBRO

Lendas são lendas. E não poderia deixar de ser no tocante às lendas divinas. Neste mês de dezembro os principais mitos divinos festejam seus aniversários no dia 25.
Como salienta o jornalista Rafael Rocha em seu artigo na página 4 deste Humanitas, “a escolha do dia de natal para comemorar o nascimento de uma lenda chamada Jesus Cristo foi um aproveitamento pelos romanos de uma importante festa pagã que acontecia todos os anos no dia 25 de dezembro”.
Segundo ele, “a festa pagã chamada de “Natalis Solis Invicti” (nascimento do sol invencível), era uma homenagem ao deus persa Mitra, bastante popular em Roma”.
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BOAS FESTAS PARA TODOS!

Aproveitamos a ocasião para esclarecer: o Humanitas não comemora o nascimento de nenhum deus e de nenhuma lenda bíblica. 
Comemoramos o fim de um ciclo em torno do sol e a oportunidade de encontrar ou reencontrar pessoas queridas.
Comemoramos a beleza de estarmos vivos, pois a única certeza é esta vida e mais nenhuma outra.
Comemoramos o fim de 365 dias de vitórias, fracassos e aprendizados. Somos livres pensadores críticos e obcecados pelo conhecimento. Um brinde a isso!
Ficamos alegres ao lado de nossos amigos e familiares sem necessidade de fantasias sobrenaturais. A questão é saber amar. Amamos com a intensidade e com a certeza de que nunca mais teremos outras chances de exercer esse amor.
Comemoramos a existência de nossos leitores no “Dia do Sol Invictus”. Que todos tenham um final de ano maravilhoso ao lado dos seus amados. Carpe diem!”
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Zizi pede uma boneca especial a Papai Noel

O desejo de toda criança é receber um belo presente no dia de natal. E isso acontecia também com Zizi, que sonhava em ganhar uma boneca que chorasse e revirasse os olhos. Assim ela fez o pedido a Papai Noel e ficou aguardando ansiosamente.
A mãe dela sabia desse desejo e lastimava não poder realizar o sonho como sua filha queria.
Este é o tema do conto inserido na página 5 desta edição, de autoria do advogado, escritor e poeta Valdeci Ferraz.
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MAIS:

Eutanásia é o tema tratado pelo médico Antônio Carlos Gomes na página 8 desta edição.
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A escritora Ana Maria Leandro comenta sobre o analfabetismo e a necessidade urgente de luta contra esse problema tanto por parte do governo como das empresas. Leia na página 7.
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O autodidata Carlos Demócrito A. de Lima disserta sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos na página 6.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 8


A exclusão social do povo negro continua viva 
Aline Cerqueira – Itaberaba (BA) 
A população negra no Brasil vive em apartheid social disfarçado após 300 anos de escravidão. Os reflexos ainda sobrevivem nas favelas e lugares mais pobres do Brasil. A maioria negra está excluída do acesso aos direitos básicos assegurados pela Constituição brasileira. E isso é uma verdade.
A mulher negra e o homem negro foram subjugados por um sistema que cria imensas dificuldades de ascensão social. As constantes lutas pela sobrevivência estão estampadas nas ruas, nas praças e nas favelas brasileiras.
A maioria da população negra vive em condições subumanas.
Sobre o pretenso complexo de dependência do colonizado, o pensador Frantz  Fanon afirma que o negro “é escravizado por sua inferioridade, o branco escravizado por sua superioridade”, ou seja, a alienação é mútua, o colonizador ao criar uma imagem mítica do colonizado também é alienado. 
Ainda hoje no Brasil essas questões gerais aparecem de formas especificas nas expressões que dizem respeito à reflexão cultural. Vemos que a mulher negra é submetida pelo sistema a viver dentro da cultura imposta pelos europeus, incluindo valores e comportamentos. 
Frantz Fanon observa que a intensidade do peso do colonialismo no imaginário da mulher de cor, faz com que esta se sinta inferior para se relacionar com o homem branco. 
Por isso é visível a preocupação da estética como alisamento de cabelos, embranquecimento da pele e todos os aparatos estéticos que assinalam um condicionamento à cultura branca.
Essas formas culturais são ocidentais e modernas. Elas alienam e criam mecanismos para que a sociedade viva em padrões disfarçados em valores de uma “sociedade perfeita”.
Em que todos pareçam todos iguais.
Historicamente é preciso compreender que a maioria da população negra quer falar e agir, mas suas ações foram condicionadas à cultura branca, a qual chegou ao Brasil há mais de 500 anos, trazendo e impondo sua forma de pensar e de se comportar em uma sociedade. O poder dominante da raça branca europeia estabeleceu regras de submissão que predominam até hoje, ainda que os traços africanos e indígenas estejam presentes nas características faciais do povo brasileiro.
O negro no Brasil sempre foi considerado um ser inferior. Ainda existem pessoas temendo encontrar um negro nos elevadores e nos locais de pouco movimento das cidades. O negro continua sendo visto como um marginal. Essa percepção no tocante à população negra vive na cabeça de muita gente. A escravidão de 300 anos incutiu na mentalidade delas que o negro é ruim e que ele foi escravo para viver na submissão e servir.
Por que o negro ainda é o que mais morre através da violência? Por que as contradições de pobreza da população negra ocorrem nos grandes centros? Por que as mulheres negras não se apresentam como famosidades nas passarelas e nos grandes programas de audiência?
E por que quando algumas delas se apresentam se disfarçam de brancas?
É sobre esses questionamentos que entendemos como o negro permaneceu inferior e marcado para ser escravo dos padrões moralistas e racistas instalados em cada esfera de poder. É sobre essas questões de pensar o humanismo que assinalo aqui a necessidade de excluir esses padrões estabelecidos pelo sistema capitalista que segrega a maioria.
Por que grande parte dos negros vive sem entender a lógica do capitalismo? Acredito que a liberdade de expressão e o senso crítico são a chave para entender esse segredo. Precisamos ser livres pensadores. A população negra habitante das favelas é vista como marginal e precisa reagir. A luta humanista tem de romper essas correntes e ajudar o homem a pensar. O negro precisa ser protagonista da sua própria história.

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 7

O Tio Chicão
Um conto de João Victor Santos – Recife/PE – Especial para o Humanitas

Era noite de natal.
Mas também era uma dessas noites quentes de verão em que a brisa da noite nos toca a face de maneira tão suave quanto um bafo quente de um forno à lenha.
Nessas noites que você começa a achar que a lua está de férias em um cruzeiro pelos anéis de Saturno ou veraneando na praia de Tamandaré e aquela bola branca no alto da noite estrelada é só o sol com a cara cheia de pancake branco fazendo hora extra, causando até um leve bronzeado nas mais alvinhas que se arriscaram a sair à noite para um passeio sem usar protetor solar.
Foi justamente numa noite dessas que, talvez por causa da vontade de fugir do calor, que o Miolo, nosso filósofo de botequim, da varanda de seu apartamento, começou a pensar em um lugar bastante frio e logo se viu no Pólo Norte ao lado de Papai Noel, bebendo água de coco.
Foi aí que ele indagou:
- E se Papai Noel fosse brasileiro? E ainda, se morasse numa região praieira?
Daquela cabeça desmiolada começaram a surgir várias sugestões que dariam origem ao bom velhinho tupiniquim.
Primeiramente, esse lance de se chamar papai aqui no Brasil não ia dar muito certo, questionou nosso pensador, pois ia ter muita gente ingressando com ação judicial buscando reconhecimento de paternidade, sem falar dos pedidos de pensão alimentícia.
Isso poderia comprometer financeiramente a entrega dos presentes de natal. “Tio” cairia bem. Tio normalmente é como o pai que não dá bronca.
Mas “Tio Noel” também não fica bom. Soaria como uma cópia barata. Além do mais, embora ache um nome legal, Noel não é tão popular por aqui. Tio Chicão. Perfeito. Caiu como luva.
Por falar em luva, era preciso pensar no figurino do Tio Chicão, pois era óbvio que roupa de frio não combinava como o clima de sua morada. Sem luvas, botas e muito pano.
Nosso bom velhinho seria adepto da velha combinação boné, camisa regata, bermuda, chinelo de dedo. E nada de vermelho e branco. Pra ninguém dizer que nosso tio tem preferência por times de futebol com essas cores, sua roupa seria em verde e amarelo e chinelo branco.
Poderia até ser garoto propaganda da nossa seleção nas horas vagas. E tem mais. Pegando sol de maneira frequente, ele teria uma pele bronzeada.
A barba branca, que não combina com clima quente, sairia de cena. Mas a barriga de barril permanece. Sabe como é, todo velhinho que se preze carrega uma. É como um troféu dado pelo tempo. Além do mais, convenhamos que todo gordinho é legal.
Exportar rena do Pólo Norte não daria certo e como o Tio Chicão vive de aposentadoria, ele levaria os presentes numa Kombi.
Para não ficar tão realista e dar tempo de entregar todos os presentes na madrugada do dia 25 de dezembro, seria uma Kombi voadora, que atinge a velocidade da luz, concluiu nosso pensador.
Todos os brinquedos seriam feitos na “fábrica” improvisada no quintal da casa do Tio Chicão, com a ajuda da Tia Terezinha, sua esposa de longa data e sempre em companhia de Duende, seu chihuahua desdentado.
Inesperadamente, como um oásis no deserto, eis que uma brisa suave, embora agonizante, surpreendeu o Miolo, que deixou de lado seus devaneios e foi se aprontar para aproveitar o natal com sua esposa e filhos na casa de parentes.
Ao retornar para casa, já lá por volta das três da matina, prestes a deitar em sua cama, ouviu um barulho que vinha da sala e quando lá chegou viu um objeto no canto da varanda.
Era uma pequena réplica, entalhada em madeira, da escultura “O Pensador”, de Rodin.
Assim que se abaixou para apanhá-la ouviu um barulho de motor de Kombi.
Subitamente olhou para o céu, mas nada viu a não ser a noite estrelada e então sussurrou para si mesmo:
- Obrigado, Tio Chicão. Bom trabalho esta noite.

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 6

Ainda restam morangos
Ana Maria Ferreira Leandro – Belo Horizonte/MG

Levantei-me mais cedo do que de costume, querendo fazer um desjejum diferente, quem sabe “lá fora”. “Vou fazer uma linda mesa na varanda, com direito a tomar café olhando as montanhas”, pensei. E parti para a tarefa de montagem.
Olhei o mamão papaia na parte mais baixa da geladeira e o vi começando a se enverrugar, irritado com uma longa espera de ser saboreado. Já molengo para ser picado, alguns dias mais ele iria para o lixo, coisa que ele não desejava; preferia o ciclo orgânico humano mais vivo e agitado.
Decidi por fazer uma vitamina com o pequeno mamão e bananas nanicas. O tom ficou avermelhado claro, quase róseo e eu gostei do efeito. Coloquei uma pequena mesa na varanda, forrei com a toalha floral de fundo azul, que não pode faltar e comecei a complementar o “banquete”, com café quentinho, pãezinhos de cereais e bolo.
Colocadas as xícaras, fui buscar a jarra bonita da vitamina, eufórica com o ambiente criado, para uma manhã que eu recriara de repente. As varredeiras lá fora enchiam a rua com conversas e risos limpos e pensei que afinal tenho muita sorte de ter varanda, montanhas e mamão papaia enrugado.
Eis que na minha euforia, já na varanda, deixo escapar o jarro das mãos e todo o líquido precioso se esparrama pelo piso de ardósia. O jarro feito de vidro forte temperado não se quebrou, mas o conteúdo estava perdido. Isso fora a necessidade de uma formidável empreitada de limpeza do piso. Foi quando ouvi uma das varredeiras gritar para a outra lá fora: “quando perdi meu último emprego na casa dos “bacanas”, pensei que ia ficar louca, mas logo encontrei este de varredeira de rua e estou feliz! Aqui a gente até trabalha mais contente!”
Olhei para o chão, envergonhada de minha frustração com o episódio, que acabara de ser protagonista. E então lembrei: “ainda me restam morangos na geladeira. Batidos com bananas resultarão em um líquido róseo, como o que derramou”.
Parti para a empreitada da limpeza, com rodo, balde d’água e sabão, reacendendo o brilho da ardósia. A seguir fui fabricar a nova vitamina rosada, trazendo triunfante entre os braços apertados, novamente o jarro cheio. Depois chamei meu marido que dormitava, inconsciente dos meus "vôos" em uma nova manhã e convidei-o para o desjejum.
Findo o lanche, postei-me na cadeira a fitar o horizonte e a pensar: “para quantas pessoas mais, ainda existirão morangos?”
“Aquela outra oportunidade, o emprego que até ficou melhor do que o anterior, que tantas angústias causava? Por que não há mais aquele mercado, onde o bom profissional tinha alternativas de escolhas, compatíveis com suas crenças e suas verdades? Para que país caminhamos, sem reservas de morangos, que produzam líquidos róseos?”
Mas não; não cabiam estes pensamentos! A varredeira havia me dado a lição do dia: ainda existem morangos! Eles estão escondidos, talvez na couraça dos nossos medos, que nos impedem de acordar mais cedo e recriar manhãs. Eles estão sob a fumaça do terrorismo, que eclode em resposta à escravização humana.
Milênios já se passaram de história e os homens ainda não aprenderam, que a superação humana não se faz sobre o outro, mas sobre si mesmo. Ameaças, sempre ameaças, de cá e de lá. “Nós os destruiremos na surdina”, ameaça um lado. “Não ousem”, ruge o outro lado acuado pelo medo, pois eles já viram que também são vulneráveis!
A força e o poder estabelecendo o pânico, um lado escondido em cavernas, o outro no poder econômico.
No meio do caos, morrem inocentes e suicidas, por causas que eles mesmos desconhecem.
Quem sairá vencedor?
Mas será possível que não enxergam, que “não há vencedores nesta guerra?!”
Da varanda de minha casa fitei de novo as montanhas e perguntei, “até quando elas existirão?” Enquanto assim altaneiras, num rasgo verde sobre o céu anil, são ainda um privilégio abençoado pela natureza.
Perderemos nós também, esses morangos que nos restam?
Sabotados por estratégias de entreguismo, ou pela avassaladora avalanche do crime organizado, nascido no leito dos problemas sociais, nutridos por uma educação deficiente e aliado a uma política econômica de atrofiamento ao trabalho e à produção vamos perdendo nossas reservas de morangos...
Não, não quero acreditar que perderemos a força, o vigor e a alegria, que sempre marcaram esta gente brasileira. Seguiremos na luta pela democracia. Uma luta desarmada.
No trabalho, na capacidade de se sentir feliz em varrer a rua, na página de empregos que tão poucas oportunidades apresenta, mas quem sabe, lá entre elas, está o “seu morango?”
Não nos entregaremos e não nos aliaremos à insanidade do falso poder, aquele que julga se alimentar da supremacia sobre o outro.
Mas não há felicidade onde existe o egoísmo.
E não há felicidade individual, de grupos, ou de uma raça, enquanto não for possível encontrá-la em cada próximo com que cruzarmos, e em cada povo que conosco dividir o planeta, o universo, ou qualquer outra que seja a instância existencial...

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 5

A “segunda vinda” de Jesus (que não é nem a primeira)

Sérgio Mesquita Rangel – Rio de Janeiro/RJ

     
Não somente não acredito como tenho a mais absoluta certeza que ele jamais virá! Jamais virá porque jamais veio. Jesus Cristo é tão real quanto o Batman ou o Super-Homem. Sua história não passa de uma adaptação do "Mito Solar": "o pai, a mãe e a criança", para explicar os movimentos celestes do Sol, e da Terra, relativos aos doze signos do zodíaco.
Querer uma aplicação direta da lenda de Cristo é o mesmo que pretender uma aplicação direta da história de Hércules (com seus doze trabalhos), de Hórus, de Tamuz, de Krishna etc. Não existe a menor evidência histórica de que tenha existido um Jesus Cristo, filho de algum deus.
Trocando em miúdos há milênios e milênios, as pessoas, de certa forma, já “aguardavam” o nascimento de um "Messias". Esperaram, esperaram, esperaram, esperaram.
E como não aparecia ninguém com suas características “proféticas”, resolveram o problema dando o seu nascimento como já ocorrido em algum canto esquecido, há, mais ou menos uns 400 anos após os últimos vaticínios conhecidos e, então, começaram a inventar, digo, a contar a sua suposta história.
Aí começou a nascer uma lenda de construção coletiva. Todo mundo queria dar o seu palpite, a sua contribuição para a tal "História de Jesus".
Foram escritos mais de 4 mil documentos sobre sua personalidade, seu caráter, sua cor, seu tamanho, sua infância, sua adolescência, seus doces preferidos, inclusive suas opções sexuais. Todos contraditórios e muito diferentes entre si por uma única razão: nenhum deles se baseava em fatos, apenas na imaginação de seus autores.
Para conquistar a credibilidade do grande público, numa época em que não havia qualquer catalogação editorial, seus autores se faziam passar por "apóstolos", "discípulos", "doutores", "amigos íntimos" etc.
Assim, todos os evangelhos, bem como todos os livros do novo testamento (por uma incrível coincidência), são todos pseudo-epigrafados; ou seja, todos escritos como se o fossem por Paulo, Pedro, Marcos, João etc, mas apenas assumindo-se suas hipotéticas personalidades. Não há um único documento atribuído a “tal autor” que tenha sido realmente escrito por ele.
E mais: eram cópias. Nunca, em nenhum momento da história cristã conhecida, houve sequer qualquer menção aos originais de qualquer documento, fosse que documento fosse.
Eram sempre cópias, sempre cópias, desde o princípio; o que nos faz suspeitar, ainda mais fortemente, de sua suposta “originalidade”.
A coisa realmente estava fervilhando...
Até que, ocasionalmente, estava passando por ali um sujeito chamado Constantino, o Imperador de uma Roma falida e decadente. Quando viu tudo aquilo uma lâmpada se acendeu em sua mente... Eureka!!...
“Podemos, ao invés de um Império Político, construir um Império Religioso, pois está mais do que provado que a religião em muito supera a política quando o objetivo é governar!”
O medo religioso é muito maior que o simples medo político! O medo político vem daquilo que eu vejo, peso e observo. O medo religioso vem do desconhecido e o desconhecido fica a cargo da imaginação de cada um.
Jesus Cristo, amigos, não virá nem daqui a dez milhões de anos!
Comparem a "história" de Jesus, com a de qualquer outro mito solar. Depois se perguntem se um raio cai no mesmo e exato lugar duas vezes... Não! Três vezes... Não! É muita semelhança para ser só coincidência...
Se você passar, daqui pra frente, a pedir as coisas ao coelhinho da Páscoa, ao Super-Homem ou ao Chapolin Colorado, com certeza que alguns pedidos serão atendidos. Até mesmo a cura de um câncer desenganado. O problema é que as “orações atendidas” seguirão, à risca, as estatísticas matemáticas para a cura de cada doença.
Se as estatísticas dizem que 0,00001% das pessoas com câncer em estado terminal de repente e inexplicavelmente ficam curadas, elas ficarão curadas quer você peça ao Batman, ao coelhinho da Páscoa, ao Super-Homem, ao Chapolin Colorado ou até mesmo a “Deus”. Ou seja, “Deus” atende aos pedidos de cura na mesma e exata proporção em que as estatísticas apontam essa cura matematicamente.


HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 4


A inconsistência da fé 
Jorge Oliveira de Almeida – Rio de Janeiro/RJ 

Para começar, é preciso deixar claro que o tema a ser tratado aqui é a fé religiosa, não outros tipos de fé, como a fé política, por exemplo, que se pauta normalmente por ideias filosóficas e opiniões.
A fé religiosa deve-se pautar (ou pelo menos assim deveria ser) por um único conceito: a verdade.
Muitos consideram que a verdade não é uma só, mas várias, dependendo da opinião de cada um.
Este é um raciocínio falho, uma vez que não existe meia verdade. Ou ela é, ou não é! Portanto, tem que ser única.
As escolas e por extensão as Universidades existem para divulgar os conhecimentos que o homem conseguiu adquirir ao longo de sua evolução.
Aos alunos é ensinado que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
Entretanto, não existe uma determinação ou um interesse por parte dos professores (nem dos pais ou da sociedade) de levar os alunos a exercitarem o pensamento crítico.
Julgam-se os professores na obrigação de "passar a matéria" e aos alunos compete decorar fórmulas que deveriam ser entendidas e ideias que deveriam ser discutidas e julgadas, mas não é assim que acontece.
Aquela lei acima comentada, a da conservação da massa e da energia, enunciada inicialmente por Lavoisier, como todos sabemos, deveria abrir os olhos dos alunos para uma realidade física, concreta, mas não!
Eles a decoram para "passar de ano". O mesmo acontece com as demais leis físicas. Não convém interpretar, que decorem!
Não é um absurdo?
Nas igrejas os pequenos seres (grandes homens de amanhã!) aprendem coisas incríveis como considerar que a Terra tem 4 mil anos de existência ou é o centro do Universo.
Levados pelas circunstâncias (os pais que são muito bons, os padres e pastores que não mentem e só querem ajudar, e pela sociedade, que instiga toda essa situação) aqueles alunos, aos quais não houve conveniência ou interesse de serem levados a pensar, aceitam sem pestanejar (mesmo porque não têm ainda conhecimentos e capacidade para julgar) a ideia do "milagre", que é a base sobre a qual se assenta todo e qualquer ideário religioso. Ora, convenhamos, o "milagre" é a negação das leis físicas, que são provadas pelo homem.
Ora, se as leis físicas são verdadeiras e o "milagre" é a sua negação e se as primeiras são verdadeiras, não pode o último também sê-lo.
Trata-se de uma questão de bom senso e coerência. Outros tipos de inconsistência existem aos milhares.
Por exemplo: um médico estuda muito e se esforça ao máximo para salvar um doente, que acaba por salvar-se (da doença, logicamente).
A família não agradece ao médico nem à ciência, mas a um deus, que não deveria ter permitido que o doente tivesse deixado de ser são!
Há um contrassenso muito grande nos hospitais, onde não encontramos um espaço onde não haja uma cruz (ou qualquer outro símbolo religioso), símbolo do poder divino.
Poder que se fosse tão bom ou tão grande, não teria ensejado aos homens a construção de hospitais.
Onde existe fé não existe racionalidade, e o homem pelo menos se julga um ser racional.
Não vamos decepcioná-lo!

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 3


REFÚGIO POÉTICO

Boêmio 
Antonio Carlos Gomes - Guarujá/SP 

Boêmio é o que procura a vida
Sem o mapa do tesouro.

Que vive a noite esperando o dia
Onde está o destino imaginário

Que cheira álcool e pensa flores
Que para rimar lhe abrirão amores
Talvez o amor seja um cheiro doce
Que apenas o faça sonhar.

Boêmio é repetir
Repetir o mesmo lugar
Esperando encontrar outro
Sem dar passo nenhum.

É vaporar no etílico
Fantasias, sempre fortes
De amor eterno
De eterna morte

É chorar no violão
A canção nostálgica
De uma paixão
Que nunca aconteceu.

Boêmio é homem brilhante
Que vive triunfante
Mas não nasceu.
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HOMENAGEM A CECÍLIA MEIRELES

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Em 1919 publicou seu primeiro livro de poesias, "Espectro". Seguiram-se "Nunca mais... e Poema dos Poemas", em 1923, e "Baladas para El-Rei”, em 1925. Casa-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas:  Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada.  Publica, em Lisboa - Portugal, o ensaio "O Espírito Vitorioso", uma apologia do Simbolismo.
O marido Correia Dias suicida-se em 1935 e, em 1940, Cecília casa-se  com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo. De 1930 a 1931, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação.
Em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos no antigo Pavilhão Mourisco, no bairro de Botafogo.
A concessão do Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela Academia Brasileira de Letras, ao seu livro Viagem, em 1939, resultou em animados debates, que tornaram manifesta a alta qualidade de sua poesia. Publica, em 1939/1940, em Lisboa - Portugal, em capítulos, "Olhinhos de Gato" na revista Ocidente. Em 1940, leciona Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas (USA).
Em 1942, torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ). Aposenta-se em 1951 como diretora de escola, porém continua a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro (RJ). Em 1952, torna-se Oficial da Ordem de Mérito do Chile, honraria concedida pelo país vizinho.
Realiza numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou. Em Délhi, Índia, no ano de 1953, é agraciada com  o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Délhi.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 9 de novembro de 1964.

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 2


EDITORIAL

Equilíbrio versus desequilíbrio

Equilíbrio é a base da vida. Sem equilíbrio as vidas humanas, animais e vegetais não coexistem. Isso também tem ligação na política. O equilíbrio impede que um país se sobreponha a outro, subjugando os mais fracos.
Quando existiam duas forças antagônicas no mundo no século passado, os EUA de um lado e a União Soviética do outro havia um equilíbrio no mundo. Hoje temos os EUA e no extremo oposto, a China.
O mesmo processo pode e deve acontecer na religião. Se deixarmos que uma força religiosa cresça por sobre as outras ocorrerá um desequilíbrio de paixões. Essa força se expandirá de tal forma que terminará por dominar um país, encaminhando-o para uma teocracia.
O poder de fogo dos evangélicos fundamentalistas está a trazer esse perigoso precedente para o Brasil. Arrecadando cada vez mais dinheiro e poder as seitas fundamentalistas ganham força. É preciso que apareça algo para se contrapor a elas.
O fundamentalismo evangélico é um perigo para a liberdade de pensamento e de expressão. Se o Brasil é um estado laico (e temos de lutar para que continue sendo) os evangélicos fundamentalistas cristãos representam o atraso e um perigoso retrocesso.
Na verdade, o caminho político que nosso país segue no tocante à religião não é promissor para quem deseja viver em paz, exercendo ideias livres e pensamentos próprios. O governo e os legisladores são os principais culpados quando não fiscalizam as entidades religiosas, dando-lhes liberdade e privilégios. Assim, surgem os espertalhões, montando impérios de poder e de dinheiro, utilizando para isso o nome de um deus.
Tem de aparecer uma força para se contrapor a essa força. E logo.
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CARTAS DOS LEITORES

Gostei do novo formato do jornal. O importante é que ele continue a chegar às mãos dos leitores. Karla Mendes – Salvador/BA
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Adoro ler o Humanitas. Um jornal corajoso. Sílvio Rocha – Natal/RN
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O Humanitas é uma criação especial e gosto muito de lê-lo. Cláudia Carvalho – Rio de Janeiro/RJ
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Sugiro que alguém escreva algo sobre a eutanásia. Marcelo Vieira de Lima – Recife/PE
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Água: miséria pouca é bobagem
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP

Com a represa de Cantareira seca em São Paulo a escassez de água tornou-se uma realidade.
A hiper metrópole com toda poluição própria da aglomeração dos humanos com seus carros e a dificuldade de realizar uma higiene mais demorada, causou enorme mal-estar.
As famílias de maiores posses, possuidoras de casas e apartamentos no litoral, apesar do frio relativo de final de Inverno, começaram migrar nos finais de semana para a baixada.
É possível, sem muito esforço, imaginar a alegria de demoradamente estas pessoas lavarem os cabelos, o ouvido, os pés... (não vamos ser maliciosos).
Passam em sua propriedade o final de semana, já que a caixa está cheia de água e o lado Atlântico da Serra do Mar não sofre com a estiagem.
No domingo, enchem alguns galões do precioso líquido e retornam à lida diária.
Uma afecção respiratória esperava os visitantes, a população local apresentava o nariz entupido, coriza, uma tosse forte de origem na garganta que chegava afogar e febrícula com dor no corpo. Certamente muitos adquiriram tal doença aqui aportando.
Voltaram para a capital hidratados e resfriados, como se diz no ditado: “Miséria pouca é bobagem.”