Um debate sobre trajetórias
Especial para o Humanitas
Sandro Ari Andrade de Miranda. Advogado e Mestre em Ciências
Sociais. Mora em Pelotas/RS
Vivemos num mundo
que se impõe como unilateral, onde os caminhos e os destinos são apresentados
como únicos e já traçados.
Mesmo
que o Ocidente não reconheça no seu arcabouço jurídico o sistema de castas,
alguns grupos se assumem em condições privilegiadas e repudiam qualquer tipo de
transformação.
Ora,
se os caminhos já estão traçados, e os destinos pré-definidos, qual é a razão
de viver?
Poderíamos
ser substituídos por autônomos que, carentes de sentimentos, desejos e
vontades, teriam muito mais facilidade para seguir tal roteiro. Contudo, a
unilateralidade da vida e a restrição de alternativas, sobrevivem apenas num
campo do pensamento dominado por aqueles que destroem e subjugam os mais fracos
com o uso do seu poder, normalmente amparados na força econômica ou física.
Para
estes, a possibilidade de aceitar que o mundo pode ser transformado, que novas
forças sociais podem derrubar paradigmas, é objeto de medo constante. Não por
acaso, somos policiados diariamente em nossas mentes, dentro do nosso íntimo, e
forçados a aceitar conceitos pré-formados como únicos e verdadeiros.
Resistir
a tal domínio do pensamento é um ato de insolência.
A
rebeldia, o pensar diferente, é algo não aceito, e que deve ser punido com a
exclusão pela SS midiática.
As
crises são tratadas como insolúveis - muitas vezes maiores do que realmente
são.
E a
arte criativa e ousada do investimento na vida, e não no capital, também é
conduta condenada pelo pensamento dominante, que nos força a sermos rígidos,
amesquinhados e medíocres.
Somos
eternamente condenados a não ter medo apenas do outro, mas de nós mesmos!
Aliás, o medo absurdo que temos das nossas próprias ações, reações e
pensamentos, nos leva a considerar nossos próprios erros como tragédias, e não
como passos em busca de aprimoramento.
Pedir
perdão e se arrepender é considerado como sinal de fraqueza, e não de grandeza
moral. A assertiva frase popular errar é humano está perdendo conteúdo quando
observamos as aberrações da violência provocada por alguns.
Hoje,
ser diferente, pensar diferente, viver de forma distinta, fugir da mesmice
imposta pelo pensamento único dominante, inclusive em relação aos hábitos de
consumo, é um crime de lesa pátria. Apesar disto, ainda existe um grande
espaço de resistência e que merece ser ocupado.
Não
podemos ter medo de defender ideias, conceitos e valores destinados à
construção de uma sociedade nova, equilibrada, justa e com equidade.
Ao
contrário, esta é uma missão para as pessoas que ainda acreditam num mundo
melhor.
Assim
como Martin Luther King eu prefiro caminhar na chuva e me molhar, ser tratado
como louco, do que viver inconformado aceitando passivamente o que me é imposto
pela classe dominante. O meu papel, como militante e como agente social, é
propor o novo, transformar, mesmo que isto importe em ruptura de paradigmas.
É
preciso romper com as redomas, com as jaulas de ferro, e com os sistemas opressivos que
nos aprisionam e nos impedem de pensar, de ir adiante, e de pôr em prática os
nossos projetos.
Como
deve ser triste a vida de uma pessoa que busca exclusivamente a proteção de uma
redoma de cristal onde pode agir de forma mecânica na sua zona de conforto! É
um caminho certo para uma vida de frustrações e para um envelhecimento precoce.
O
mundo do conforto, do aprisionamento pelas horas, do controle pelo relógio, da
eficiência mecânica, da aceitação da crueldade, da perda da sensibilidade, e de
outras mazelas da sociedade, é o coveiro da nossa própria civilização!