O DESENVOLVIMENTO ERÓTICO HUMANO
Texto de Rafael Rocha. Jornalista, poeta
e editor-geral deste Humanitas
Na história humana, algumas
práticas e costumes sexuais são vistas como libertinagem, erotismo e
pornografia. A hipocrisia social é grande demais pra suavizar esses termos e
diferenciar conceitos.
São muitas as dificuldades para definir o erótico e a obscenidade
corporal. Um e outro são coisas complexas e possuem circunscrição em qualquer
vivência social.
No fim do Século XIX a palavra libertinagem era basicamente um adjetivo
e significava desregramentos dos costumes e dos hábitos, bem como a ação
daqueles que não gostam de ficar sujeitos às leis da religião.
Para os libertinos os desejos são insaciáveis logo que se tornam
realidade, o que foge do contexto de igualdade com o erótico.
O termo pornografia foi utilizado em livro pela primeira vez no ano de
1899, quando Cândido de Figueiredo o dicionarizou, sendo empregado para
dissertar sobre as pinturas que retratavam temas obscenos.
Erotismo é um termo derivado de Eros, deus grego do amor (Cupido na
mitologia romana) e nunca teve a carga negativa das palavras derivadas de pornô.
No campo da indústria cultural nunca será pacífica a fronteira entre
erotismo e a pornografia quando sabemos que se costuma definir cenas eróticas
em sexo explícito e não explícito. Critério enganoso: se o erótico pode ser
explícito, nem sempre o pornográfico o é. Na verdade, o que é erótico para uma
pessoa pode ser – e frequentemente é – pornográfico para outra.
Vivemos uma época social ávida por sexo e imaginamos épocas passadas
quando o sexo era marginalizado de maneira hipócrita. É um fato concreto dizer
que, hoje, gozar tornou-se algo a ser realizado com intensidade.
O cristianismo conseguiu fazer com que as mulheres entre os séculos
XVII a XIX fossem vistas como seres traiçoeiros. Bastava utilizar o exemplo de
Eva, na Bíblia, por ter comido o fruto proibido. E mais ainda: por não
conseguirem adentrar os mistérios da fisiologia feminina como menstruação e
outras secreções corporais.
Seguindo um caminho mais rápido, vemos que o adultério era prática
comum no Século XIX e os exemplos vinham das camadas mais altas, mas em tese
era restrito aos homens porque as mulheres casadas, sempre submissas, esperavam
o retorno dos maridos em casa. Isso, porém, não impedia que algumas – em
conluio com amigas e empregados alcoviteiros – também cometessem adultério.
Os homens só tinham relações sexuais com a esposa para terem
descendentes. O prazer era buscado com a “outra”.
Isso alcançou o apogeu no século XIX o chamado “século da hipocrisia”.
Nessa época, surgiram no Brasil, as casas de prostituição, novidade importada
da Europa.
Os primeiros nus no teatro, filmes e revistas eróticas surgiram no
início do século XX, até culminar com o biquíni sempre a ficar cada vez mais
curto e com a revolução sexual nas décadas de 1960 e 1970.
Erotismo e pornografia estiveram presentes em figuras desenhadas por
artistas homens e mulheres durante os séculos aqui assinalados. A sociedade
hipócrita, vitimada por leis religiosas arcaicas e cheias de preconceito não as
apresentavam como elas hoje são apresentadas em filmes, nas TVs e em revistas.
Ao longo do tempo ocorreram mudanças na forma de sentir e ver a
sexualidade e a noção de intimidade ambas influenciadas por questões econômicas,
políticas e sociais. A mulher hoje já se expõe de corpo malhado em academias de
ginástica e vestindo roupas sensuais.
Cada vez mais as mulheres estão
conscientes do real poder feminino, utilizando
a liberdade de expressão e direitos.
Mulheres comuns estão exibindo a nudez e participando de ensaios de
fotos sensuais para presentear maridos ou namorados. A liberdade sexual
alcançada nas últimas décadas incentiva todas elas a assumirem a sensualidade,
sem constrangimentos.