Refúgio Poético – Cartas dos Leitores
Soneto
Geir
Campos
1924/1999
Talvez não venham a saber jamais
quanto de mim em ti carregas quando
vais ter com ela e fico só pensando
no que costuma haver entre os casais:
em pensamento vou a quanto vais
e quando a olhas eu a estou olhando
e quando a tocas eu a estou tocando
e teus genitais são meus genitais...
Quando chegas alfim de estar com ela
vejo teus olhos e ouço os olhos dela
dizendo coisas que ela a mim não diz:
vens leve e é também minha essa leveza
- e a alegria que em mim acham acesa
é mais um jeito meu de ser feliz.
Geir Nuffer Campos foi um poeta, escritor, jornalista e
tradutor brasileiro
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Albatroz
Charles Baudelaire
Às vezes, por prazer,
os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no
convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o
viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é
semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.
Charles-Pierre Baudelaire
foi um poeta francês. É considerado um dos precursores do simbolismo.
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Oito
Cecília Meireles
Rio de Janeiro/RJ
1901/1964
Ó linguagem de
palavras
longas e
desnecessárias!
Ó tempo lento
de malbaratado
vento
nessas desordens
amargas
do pensamento…
Vou-me pelas altas
nuvens
onde os momentos
se fundem
numa serena
ausência feliz e
plena,
liso campo sem
paludes
de febre ou pena.
Por adeuses, por
suspiros,
no território dos
mitos,
fica a memória
mirando a forma
ilusória
dos precipícios
da humana e mortal
história.
E agora podeis
tratar-me
como quiserdes –
que é tarde,
que a minha vida,
de chegada e de
partida,
volta ao rodízio
dos ares,
sem despedida.
Por mais que seja
querida,
há menos
felicidade
na volta do que na
ida.
Cecília Benevides de Carvalho
Meireles, foi uma jornalista, pintora, poeta e professora brasileira.
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CARTAS DOS LEITORES
Lamentável o fim do Humanitas
impresso. Mas breve cruzaremos novamente nossas "literaturas".
Estamos apenas "de férias". Ana Maria Leandro – Belo Horizonte/MG
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