O DIA EM QUE A FRANÇA FICOU COBERTA DE SANGUE
Rafael Rocha é jornalista e editor deste
Humanitas. Atua na cidade do Recife/PE
O
massacre da noite de São Bartolomeu retrata as violentas guerras entre
católicos e protestantes e ocorreu em Paris, no dia 24 de agosto de 1572.
No dia seguinte à matança, o papa Gregório
XIII, feliz com a morte dos protestantes ordenou que fosse cantado em
todas as igrejas da Europa, o “Te
Deum”, hino de Louvor a
Deus, por ter ajudado aos valentes e valiosos católicos, na vitória contra os
heréticos inimigos da Igreja. Salientou, na ocasião, que graças a Deus, a
humanidade estava sã e salva.
Nas primeiras horas da madrugada de 24 de
agosto, dezenas de líderes huguenotes foram assassinados em Paris, numa série
coordenada de ataques planejados pela família real francesa sob o comando da
rainha consorte Catarina de Médici.
Mas o massacre foi muito mais vasto.
Começou em 24 de agosto e durou até outubro, com uma onda organizada de
assassinatos de protestantes nas mais diversas cidades francesas, como Bordéus,
Bourges, Lyon, Orleans, Toulouse e Ruão.
De acordo com os relatos dos historiadores
a quantidade de cadáveres arremessados no rio Sena e em outros rios franceses
causou insalubridade e contaminação, e a população deixou de comer peixes e
beber a água de muitos rios.
Este foi o pior dos massacres religiosos
daquele século e levou às mentes dos protestantes a convicção de que o
catolicismo era uma religião sanguinária e traiçoeira.
Dois dias antes do fatídico 24 de agosto de
1572, a
rainha consorte Catarina de Médici, mãe do rei da França,e Carlos IX, tinha
ordenado o assassinato do almirante Gaspard de Coligny, líder huguenote
protestante, que ela acreditava estar levando seu filho a entrar em guerra
contra a Espanha. O rei Carlos IX prometeu investigar o assassinato para
aplacar os huguenotes enfurecidos.
A rainha Catarina então convenceu o rei que
os huguenotes estavam à beira de uma rebelião e este autorizou o assassinato de
seus líderes pelas autoridades católicas.
A maioria dos líderes huguenotes estava em
Paris, celebrando o casamento de Henrique de Navarra (protestante) com a irmã
do rei, Margarida de Valois (católica), casamento arranjado para que as duas
facções declarassem a paz.
Quando o massacre começou, milhares de
católicos parisienses aderiram a ele.
O rei Carlos XI emitiu depois uma ordem
real, no dia 25 de agosto, para que o massacre fosse suspenso, mas seus pedidos
foram ignorados.
As mortes continuaram até outubro, e se estima
que entre 5 mil protestantes franceses foram mortos em Paris e até 30 mil em
toda a França. Henrique de Navarra sobreviveu à noite de São Bartolomeu, mas
teve de renegar a sua fé depois de ser encarcerado no Louvre.
Quatro anos mais tarde, ele conseguiu
fugir, retornando a Navarra e alguns anos depois, subiu ao trono francês, após
abjurar o protestantismo, tornando-se o rei Henrique IV. É dele a célebre
frase: “Paris
bem vale uma missa!”.
Henrique IV concedeu aos protestantes a
igualdade de direitos políticos através do Édito de Nantes.
Como rei ele defendia a coesão do país: "A França não se dividirá em dois
países, um huguenote e outro católico. Se não forem suficientes a razão e a
Justiça, o rei jogará na balança o peso da sua autoridade."
Foi
assassinado por um fanático católico, François Ravaillac, em 14 de maio de
1610.
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