quarta-feira, 31 de julho de 2019

HUMANITAS Nº 86 - AGOSTO DE 2019 - PÁGINA 8

O DIA EM QUE A FRANÇA FICOU COBERTA DE SANGUE
Rafael Rocha é jornalista e editor deste Humanitas. Atua na cidade do Recife/PE

O massacre da noite de São Bartolomeu retrata as violentas guerras entre católicos e protestantes e ocorreu em Paris, no dia 24 de agosto de 1572.
No dia seguinte à matança, o papa Gregório XIII, feliz com a morte dos protestantes ordenou que fosse cantado em todas as igrejas da Europa, o Te Deum, hino de Louvor a Deus, por ter ajudado aos valentes e valiosos católicos, na vitória contra os heréticos inimigos da Igreja. Salientou, na ocasião, que graças a Deus, a humanidade estava sã e salva.
Nas primeiras horas da madrugada de 24 de agosto, dezenas de líderes huguenotes foram assassinados em Paris, numa série coordenada de ataques planejados pela família real francesa sob o comando da rainha consorte Catarina de Médici.
Mas o massacre foi muito mais vasto. Começou em 24 de agosto e durou até outubro, com uma onda organizada de assassinatos de protestantes nas mais diversas cidades francesas, como Bordéus, Bourges, Lyon, Orleans, Toulouse e Ruão.
De acordo com os relatos dos historiadores a quantidade de cadáveres arremessados no rio Sena e em outros rios franceses causou insalubridade e contaminação, e a população deixou de comer peixes e beber a água de muitos rios.
Este foi o pior dos massacres religiosos daquele século e levou às mentes dos protestantes a convicção de que o catolicismo era uma religião sanguinária e traiçoeira.
Dois dias antes do fatídico 24 de agosto de 1572, a rainha consorte Catarina de Médici, mãe do rei da França,e Carlos IX, tinha ordenado o assassinato do almirante Gaspard de Coligny, líder huguenote protestante, que ela acreditava estar levando seu filho a entrar em guerra contra a Espanha. O rei Carlos IX prometeu investigar o assassinato para aplacar os huguenotes enfurecidos.
A rainha Catarina então convenceu o rei que os huguenotes estavam à beira de uma rebelião e este autorizou o assassinato de seus líderes pelas autoridades católicas.
A maioria dos líderes huguenotes estava em Paris, celebrando o casamento de Henrique de Navarra (protestante) com a irmã do rei, Margarida de Valois (católica), casamento arranjado para que as duas facções declarassem a paz.
Quando o massacre começou, milhares de católicos parisienses aderiram a ele.
O rei Carlos XI emitiu depois uma ordem real, no dia 25 de agosto, para que o massacre fosse suspenso, mas seus pedidos foram ignorados.
As mortes continuaram até outubro, e se estima que entre 5 mil protestantes franceses foram mortos em Paris e até 30 mil em toda a França. Henrique de Navarra sobreviveu à noite de São Bartolomeu, mas teve de renegar a sua fé depois de ser encarcerado no Louvre.
Quatro anos mais tarde, ele conseguiu fugir, retornando a Navarra e alguns anos depois, subiu ao trono francês, após abjurar o protestantismo, tornando-se o rei Henrique IV. É dele a célebre frase: “Paris bem vale uma missa!”.
Henrique IV concedeu aos protestantes a igualdade de direitos políticos através do Édito de Nantes.
Como rei ele defendia a coesão do país: "A França não se dividirá em dois países, um huguenote e outro católico. Se não forem suficientes a razão e a Justiça, o rei jogará na balança o peso da sua autoridade." 
Foi assassinado por um fanático católico, François Ravaillac, em 14 de maio de 1610.

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