O despertar da África - I
Araken Vaz Galvão
é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Atua em Valença/BA
Considerada
pela ciência atual – a antropologia, em particular – como o berço ancestral da
espécie humana, uma vez que lá é que foi encontrado o fóssil mais antigo do Homo sapiens sapiens. A África foi
também o lugar onde surgiram civilizações como Cartago, e a do Egito dos
faraós, cujas ruínas de cidades importantes ainda assombram o presente.
O Homo
sapiens teria tido origem na África, na Etiópia, em uma região chamada de
chifre da África – aquela parte do litoral nordeste do continente que se
projeta sobre o oceano Índico, abaixo do golfo de Áden, coincidindo com a atual
Somália.
É de suma importância falar sobre a África
no Brasil de hoje, com destaque para a Bahia, onde, via de regra, se pensa que
só existe uma África: a negra. E ainda se imagina que a África negra é uma só.
Ignora-se que mesmo aquela África que está situada ao Sul do Saara é uma
complexa variedade de povos, etnias e línguas.
Em outras palavras, culturas das mais
variadas, cujas tribos são, na maioria das vezes, hostis entre si, pois
desconhecem e rejeitam quaisquer identidades culturais comuns.
Muito vivo está (ou deveria estar) na mente
da humanidade os massacres que os Hútus praticaram contra os Tutsis, em
Burundi, o que mostra que esses povos – como muitos outros da África negra –
não se identificam com o chamado continente negro, mas com suas tribos.
Falar de África, para muitos negros que lá
vivem, não se está falando de nada. Poder-se-ia mesmo dizer que África,
africano, afro e outras palavras tão em uso no Brasil (na Bahia, em particular)
possuem significado apenas entre nós.
O conflito entre os Hútus e os Tutsis não é
único, poder-se-ia falar ainda da briga secular entre os zulus e os xhosas e os
suazis, no espaço que hoje é a África do Sul. Ou ainda os conflitos entre os
hauçás e fulas e desses dois grupos contra os iorubás, por exemplo, onde hoje é
a Nigéria.
As origens desses conflitos vêm de muito “antigamente” – como diz a voz do povo
–, perdurando até nossos dias, e foram um obstáculo ao processo de descolonização
iniciado ao fim da Segunda Grande Guerra e que se manteve vivo durante o
período da Guerra Fria, causando milhões de mortes e mutilados.
Antes de passar pela descolonização, a
África negra, em seus primórdios – em diferentes épocas – conheceu o florescimento
de uma série de impérios e estados, nascidos em consequência da submissão de
grandes clãs e tribos ao poder de um único soberano de caráter feudal e
guerreiro.
Como foi o caso, no século XIII, do império
de Aksum, na Etiópia, e o que houve em Gana, desenvolvido entre os séculos V e
XI e sucedido pelos estados muçulmanos de Mali (séculos XIII a XV) e de Songhai
(séculos XV e XVI); o reino Abomey de Benin (século XVII); e a confederação
zulu do sudeste africano (século XIX).
Por volta do século XI ou um pouco antes, a
presença europeia começa a se fazer sentir no continente, em particular na
costa ocidental, tendo sido Portugal não só o pioneiro nessas incursões, como
também o único, durante muitos séculos a dominar àquela região.
Nas suas pegadas vieram os franceses,
ingleses e holandeses – e mais timidamente, os espanhóis.
Estes últimos procuravam o domínio da
região e o estabelecimento de feitorias costeiras e portos que permitissem não
só a exploração do marfim e do ouro, mas o tráfico de escravos, o qual era feito
mediante a colaboração de alguns chefes nativos, que recebiam o pagamento de
tributos, pelo número de escravos que apreendiam.
Para prender seus “irmãos” os chefes locais recebiam, muitas vezes,
assistência militar dos colonizadores, o que permitia a formação de exércitos
particulares, muitas vezes de escravos, cujas intenção era a de promover a guerra
para capturar novos escravos.
Não demorou começaram as primeiras
expedições pelo interior do continente: Charles-Jacques Poncet, na Abissínia,
em 1700; James Bruce, em 1770, em busca da nascente do Nilo.
Mais: Friedrich Konrad Hornermann, no
deserto da Líbia, em 1798; Henry Morton Stanley e David Livingstone, na bacia
do Congo, em 1879.
Registremos que entre as viagens de
exploração empreendidas, nos séculos XVIII e XIX, estão a primeira tentativa de
atravessar o continente, do brasileiro Francisco José Lacerda e Almeida,
governador de Moçambique em 1797.
E também a primeira travessia de fato,
realizada pelos pombeiros
(isto é, de negociantes que atravessavam o interior comerciando com indígenas)
os mestiços Pedro João Batista e Amaro José, que em 1806 alcançaram o Kazembe
e, cinco anos mais tarde, ligaram Angola a Moçambique.
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