REFÚGIO POÉTICO – CARTAS DOS LEITORES
Motivo
Cecília Meireles (1901/1964)
Rio de Janeiro/RJ
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Benevides de Carvalho
Meireles, foi uma jornalista, pintora, poeta e professora brasileira.
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A jaula
Alexandra Pzarnik
1936/1972 - Argentina
Lá fora faz sol.
Não é mais que um sol
mas os homens olham-no
e depois cantam.
Não é mais que um sol
mas os homens olham-no
e depois cantam.
Eu não sei do sol.
Sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até a aurora
quando a morte pousa nua
em minha sombra.
Sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até a aurora
quando a morte pousa nua
em minha sombra.
Choro debaixo do
meu nome.
Aceno lenços na noite
e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Oculto cravos
para escarnecer meus sonhos enfermos.
Aceno lenços na noite
e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Oculto cravos
para escarnecer meus sonhos enfermos.
Lá fora faz sol.
Eu me visto de cinzas.
Eu me visto de cinzas.
Alejandra Pizarnik foi uma escritora e poetisa argentina.
Tradução do poema por Virna Teixeira
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Fingimento
Francisco Carvalho
1927/2013 – Russas/CE
Não adianta fingir
que o tempo não passou
com os seus pendões vacilantes
de cortejo fúnebre.
que o tempo não passou
com os seus pendões vacilantes
de cortejo fúnebre.
Fingir que o rosto
não foge
ao sarcasmo dos espelhos.
Que os deuses não zombam
do sorriso trincado dos velhos.
ao sarcasmo dos espelhos.
Que os deuses não zombam
do sorriso trincado dos velhos.
Fingir que ainda
restam
vestígios da antiga chama.
- Sob o desenho das rugas
só o silêncio nos ama.
vestígios da antiga chama.
- Sob o desenho das rugas
só o silêncio nos ama.
Francisco Carvalho foi
um escritor e poeta brasileiro.
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Hora da partida
Sophia de Mello Breyner Andresen
1919/2004 - Portugal
A hora da partida
soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida
soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no
fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
Sophia de Mello Breyner
Andresen foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX
e a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário
da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999
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CARTAS DOS LEITORES
Parabéns por mais um ano de vida. Ivani Medina – Rio de Janeiro/RJ.
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Fico orgulhosa e feliz em parabenizar o Humanitas por mais um
ano de vida e por ser uma de suas mais antigas leitoras, desde o site Cultura
& Humanismo criado pelo meu amigo jornalista Rafael Rocha. Parabéns! –
Jaqueline Ventapane – Rio de Janeiro/RJ
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