quinta-feira, 4 de julho de 2019

HUMANITAS Nº 85 - JULHO DE 2019 - PÁGINA 4


Deus, deuses, fé, superstição, astrologia, destino
Décio Schroeter colaborador deste  Humanitas é escritor. Atua em Porto Alegre/RS

Superstição!
Que palavra estranha essa!
Se a gente acredita no bom Deus, isso se chama ter “fé”.
Mas se a gente acredita em astrologia, ou sexta-feira 13, o nome muda para superstição!
As doenças são castigos dos deuses?
Será que alguém acredita nisso hoje em dia?
Muitas pessoas ainda consideram doenças, como a AIDS, um castigo de Deus.
Ora, isso significa que, para elas, deve haver um dedo de Deus na decisão sobre quem deve adoecer e quem deve continuar sadio.
Se fosse Deus, forças místicas ou o destino, as pessoas não teriam livre-arbítrio.
Não acreditamos que uma pessoa enferma possa ser curada por meios sobrenaturais.
Não acreditamos na interferência de forças espirituais sobre a vida.
Assim, não acreditamos que o homem tenha uma alma imortal.
Para Richard Sloan, pesquisador de medicina comportamental na Universidade de Columbia (EUA), as revistas científicas deveriam recusar esses estudos porque eles são uma afronta à ética da ciência médica. "Não há nenhuma evidência de que a fé faz bem à saúde", afirmou ele. "A maioria desses pesquisadores está interessada em promover alguma religião."
Sloan, que é autor do livro Blind Faith: The Unholy Alliance of Religion and Medicine (Fé Cega: A aliança profana entre religião e medicina), disse que existem pesquisas sérias confirmando que pessoas otimistas enfrentam melhor a adversidade de uma doença, mas isso, não tem a ver com a fé em um deus.
Um otimista pode ser religioso ou não.
Sloan também afirmou que os estudos que ligam crença e saúde podem apresentar um efeito perverso porque a pessoa poderá se sentir culpada por achar que não teve fé suficiente para evitar uma doença.
"Ficar doente já é ruim. E fica pior se a doença vem acompanhada pelo peso na consciência por não ter sido crente o suficiente."
Falou que muitos desses estudos são feitos de modo a dar credibilidade a algumas crenças. Amostras de pesquisa são pequenas e dados importantes são ignorados ou deturpados.
Vivemos uma boa vida (Carpe diem) porque nos libertamos do medo da morte.
Não precisamos mais temer os deuses e nos preocupar com a morte.
. É fácil alcançar o bem. É mais fácil suportar o que nos amedrontava.
Ou seja, vivemos o momento, não acreditamos na ressurreição da carne, imortalidade da alma e na vida eterna.
 Portanto, ser ateu e sem religião não é negar a maravilha, o grandioso, o magnífico.
É dizer adeus ao cristianismo.
É simplesmente não precisar de explicações com base na “fé cega” para algo que carregamos.
Se deus(es) existem, ou ele ou ela não pode fazer nada para impedir as mais terríveis calamidades, ou então ele é impotente, ou então é mau.
E, ainda, qualquer deus que se preocupe com coisas tão triviais como o casamento gay, ou o nome pelo qual ele é chamado nas orações, não é tão inescrutável assim.
Os ateus consideram outra possibilidade, claro, que é ao mesmo tempo mais razoável e a menos odiosa: o deus bíblico é uma ficção, tal como Zeus e milhares de outros deuses mortos que a maioria dos seres humanos mentalmente sãos hoje ignora.
E quando você argumenta que seu deus é verdadeiro, aí toda a sua tese desmorona, porque cada cultura tem uma inspiração divina que aponta para uma dimensão mágica diferente, governada por um criador do universo diferente.
Para o seu deus existir, todos os outros precisariam existir também.
Não há porque considerar apenas o “seu” como o deus verdadeiro.

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