quarta-feira, 28 de novembro de 2018

HUMANITAS Nº 78 - DEZEMBRO DE 2018 - PÁGINA 5

O holocausto de Winston Churchill
Especial do Humanitas

Os nazistas de Hitler mataram cerca de 6 milhões de judeus. Stalin, na Rússia, matou entre 25 e 27 milhões de pessoas.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Spencer Churchill, um dos mais venerados estadistas do século passado, também tem a sua cota de mortos, com o assassinato pela fome de mais de 5 milhões de seres humanos na Índia.
Num livro intitulado “Churchill’s Secret War”, Madhusree Mukerjee, estudiosa que já pertenceu ao conselho de editores da Scientific American, denuncia o desvio de alimentos que Churchill fez de Bengala, região indiana empobrecida pelas políticas segregacionistas da administração britânica.
Enquanto se amontoavam os mortos nas ruas, Winston dizia para o secretário de Estado para a Índia, Leopold Amery: “Odeio indianos” e a fome é culpa deles porque “se reproduzem como coelhos”.
Tudo começou quando o governo de Londres, por ordem do primeiro-ministro, requisitou todo o arroz e outros demais alimentos em Bengala, na Índia, para levá-los para o médio oriente e Egito, onde se posicionava o grosso das tropas britânicas que naquela época tentavam duramente defender o canal de Suez dos exército italiano e alemão.
Aqueles que podiam se opor a essa ordem foram sumariamente silenciados.
Todas as suas organizações políticas e sociais foram dissolvidas entre o verão e o outono de 1942.
Mahatma Gandhi e Jjawaharlal Nehru e todos os mais altos integrantes do partido do congresso indiano que reclamavam a independência do seu país do domínio inglês, incluindo os pacifistas, foram presos.
Como resultado, houve uma série de protestos e rebeliões que acabaram por ser esmagados com violência.
Em poucas semanas os britânicos executaram 2.500 pessoas e fizeram prisioneiros a mais 66 mil.
Dezenas de milhares de famílias morreram de fome dentro das suas casas.
Outras pessoas preferiram ir para a rua e fraquejar na via pública à vista de todo o mundo.
As aldeias e cidades foram se enchendo de cadáveres putrefatos e sem recolher, o que aumentava ainda mais os riscos de ocorrência de doenças tais como cólera, tifo e disenteria, que se expandiram sem controle levando milhares de vidas.
Já se sabia que Churchill não tinha em grande conta a vida humana. Apenas a três meses do fim da II Guerra Mundial, quando a Alemanha já estava militarmente sem forças, ele ordenou, com o auxílio norte-americano, o criminoso massacre aéreo de Dresden, no qual pereceram 250 mil civis sob o efeito devastador das bombas de fósforo.
A catástrofe humanitária na Índia atingiu tal proporção que o próprio vice-rei da Índia, o inglês Lord Wavell, considerou a atitude de Churchill como negligente, hostil e desdenhosa”.
Em seu livro War of Civilisations: India AD 1857 (Guerra de Civilizações: Índia 1857), e historiador Amaresh Misra diz que houve um “holocausto não informado” pela história, e que causou a morte de mais de 10 milhões de pessoas durante uma década, com início em 1857. A Grã-Bretanha era a superpotência mundial.
Fatos assim obrigam a uma verdadeira revisão da historiografia oficial, que tem preservado alguns dos abomináveis crimes cometidos durante a guerra. “Foi um holocausto onde milhões de pessoas simplesmente desapareceram”, acrescenta o historiador. Para ele, do ponto de vista britânico, um holocausto foi necessário, pois a Grã-Bretanha acreditava que a única maneira de ganhar era assassinando populações inteiras em cidades e vilas.
   “Foi simples e brutal. Os indianos que se meteram no caminho foram assassinados, mas as proporções desses crimes ficaram mantidas em segredo”, diz o escritor e historiador Amaresh Misra.

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