A boneca de Zizi (conto)
- Republicação -
Valdeci da Silva Ferraz é escritor e
advogado. Atua na cidade do Recife/PE
Com cinco
anos Zizi sonhava com uma boneca.
Uma boneca grande, que revirasse os olhos, que
chorasse um choro de boneca.
A mãe de Zizi era costureira. Zizi sonhava com a
boneca usando um vestidinho feito pela mãe. Tinha até lhe dado um nome: Lili.
Zizi passava horas no quintal brincando com sua boneca
imaginária, conversando sozinha, arrumando o quarto de Lili.
Recusara as bonecas de pano feitas pela mãe. “Só você
Lili, deitará nessa cama para dormir ouvindo o vento assobiar nas árvores”, dizia ela esticando os lençóis.
A mãe olhava de longe, embevecida. Lastimava não poder
realizar o sonho da filha.
Com a chegada do natal, Zizi viu a possibilidade do seu sonho se realizar. Pediu à mãe que fizesse uma carta para o bom velhinho.
Com a chegada do natal, Zizi viu a possibilidade do seu sonho se realizar. Pediu à mãe que fizesse uma carta para o bom velhinho.
A costureira sorriu com ternura e logo se pôs a
escrever, escondendo os olhos lacrimejantes.
- Pronto, minha querida! Já fiz a sua carta, seu pai
hoje mesmo vai levar para o correio. Agora é só esperar a noite de natal e
colocar a meia na janela.
- Mas a minha meia é pequena, não vai caber a Lili -
explicou a menina, arregalando os olhos.
- Não se preocupe. Papai Noel sabe o que você quer.
No dia 24 de dezembro a mãe de Zizi recebeu de algumas
clientes o pagamento por algumas costuras feitas. Chamou o marido e falou:
-
Zé, faz um favor, vai na lojinha de Vino e compra uma boneca, mas não deixe
Zizi saber de nada.
- Eu não entendo de boneca. É melhor você ir.
- Ainda tenho algumas costuras para terminar. Não posso
ir. Com esse dinheiro pegue a maior boneca que tiver.
O marido contou o dinheiro.
- Com essa quantia só boneca de pano – resmungou,
procurando o boné.
Zizi achou o sol preguiçoso naquele dia de natal. Mal
as sombras desceram dos montes ela correu para a janela. O pai ajudou-a a
prender a meia.
- Mas não é debaixo da cama que se coloca? – perguntou
ele à menina.
- Mamãe disse que os meninos é que colocam debaixo da
cama. Menina deve botar a meia na janela, assim Papai Noel não se confunde.
Naquela noite Zizi demorou a adormecer. Pelo vidro da
janela ela via as estrelas no céu e as nuvens parecendo campos de neve. Ela
imaginava o velhinho descendo com seu saco cheio de brinquedos. Mal os raios do
sol clarearam a manhã correu para a janela. Com o coração aos pulos examinou a
meia. Lá estava a boneca, mas não era Lili. Seu rosto se contorceu como se
tivesse sido atingido por um grande beliscão. Uma boneca de pano pequena, de
braços e pernas duras, olhos desenhados, sem vida, imóveis.
Deitou-a e nenhum som se ouviu.
Não, aquela não era a boneca que havia pedido. Papai
Noel deve ter se enganado. Chorando correu para o quarto dos pais.
- Mamãe! Veja o que Papai Noel me trouxe! Não é a
Lili! Eu quero Lili!
- Não chore - consolou a mãe - Seu Papai Noel é pobre.
Vai ver que só tinha essa boneca e foi o melhor que ele pôde fazer. Para o ano,
quem sabe, ele não traz a sua Lili. Zizi saiu confusa, segurando a boneca pelas
pernas. Então seu Papai Noel era pobre? Devia existir um Papai Noel rico. Por
que não haviam lhe dito? Se ele é pobre nunca vai trazer uma boneca como a
Lili.
Ela se lembrou das outras crianças do bairro e viu que
seus brinquedos eram de um Papai Noel pobre.
Será que eles sabem disso e por isso não sonham com
coisas grandes?
Teria ela que abandonar seu sonho e se contentar com
aquela mixuruca de boneca? Devia confiar na mãe e continuar sonhando com Lili?
Caminhou então até o fundo do quintal e desarrumou a
cama de Lili.
Apanhou uma caixa de sapato e deitou a boneca que
havia ganhado, cobriu-a com flores e guardou debaixo da cama.
Nunca
mais falou o nome de Lili.
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