NÃO TENHA MEDO DA CULPA
Ana Maria Ferreira Leandro – colaboradora
do Humanitas - é escritora e
jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG
Creio que deveríamos abolir da linguagem
humana a palavra “culpa”.
Ela tem sido a responsável por todas as
culpas do mundo, melhor dizendo, de tudo que acontece e não deveria acontecer.
Ninguém tem culpa, ninguém viu, ninguém
sabe, ninguém assume, e as tragédias continuam acontecendo.
E na impossibilidade de se detectar as
causas diretas, parece que vão se avolumando em todos os segmentos.
A psicologia explica que a culpa e a
ansiedade são altamente destrutivas. Enfraquecendo o ego, elas cerceiam a
evolução e deixam o indivíduo mal consigo mesmo.
Segundo os psicanalistas, a culpa não tem
função no presente, pois o presente é a vida do agora, onde não se pode perder
tempo com culpas e ansiedades.
A primeira reação é sempre atribuir-se a
terceiros, de preferência “anônimos”, a responsabilidade sobre erros ocorridos.
Os responsáveis anônimos têm a vantagem de
não poder se defender.
Assim generaliza-se a responsabilidade com
um “que absurdo, como tiveram a coragem de fazer isto?”
O instinto de autodefesa é tão forte, que o
responsável pode também se convencer, que a ocorrência foi apenas um
“incidente”, algo que aconteceu porque “estava escrito”.
Aliás, colocar a culpa em “forças
invisíveis” é também uma ótima forma de fugir dos problemas, uma vez que estas
são inatingíveis. A culpa é do desconhecido...
Ou ainda uma terceira alternativa, a mais
cruel e injusta de todas: arruma-se um boi de piranha, algum ingênuo a quem se
possa atribuir a culpa.
Se ele não for capaz de provar o contrário,
o problema é dele.
Precisamos aprender a lidar de forma
diferente com o sentimento de “culpa”.
Mas, definitivamente, o comportamento de
isentar-se de responsabilidades, pelo medo do peso de assumir consequências tem
levado o ser humano a uma omissão que gera, por outro lado, terríveis
resultados em todos os segmentos.
Sem coragem de nos enfrentarmos,
dificilmente resolveremos nossas próprias pendências.
Se não sou capaz de reconhecer um ponto
fraco meu, como conseguirei vencê-lo?
Na obra “Longe
é um lugar que não existe” o autor Richard Bach disse com propriedade: “ignore seus erros e não se livrará deles”.
Outra forma comum do ser humano se omitir
de suas falhas é defender-se antes mesmo de ouvir uma orientação, para não
errar de novo.
Alguém tenta explicar onde está o engano,
mas o responsável se recusa a “ouvir”.
Pensa apenas em se defender, dizer que “não
é o culpado”, antes mesmo de entender onde eventualmente pode ter se enganado.
É quando você tem a desagradável impressão
de que falou alguns minutos e ele permaneceu em silêncio... Mas não ouvindo!
Estava “articulando” sua defesa.
Logo a seguir recomeçam as explicações que
antes já haviam sido dadas, e não há nenhum sentido repeti-las. Não tenha medo
de enfrentar um erro. Seja capaz de reconhecê-lo.
A culpa maior não é errar, é persistir
indefinidamente errando, por se negar a fazer uma reflexão sobre o assunto; por
não considerar a necessidade de uma mudança; e por se julgar infalível.
Ninguém é infalível. Viver com êxito
significa “aprender”. Assumir erros não é perda de razão, mas coragem de
enfrentar mudanças necessárias.
Mudar comportamentos, crescer recomeçar em novos e melhores
caminhos, evoluir, eis o sentido da vida. E em todos os dias recomeça um novo
tempo de fazê-lo.
Deixar de reconhecer falhas por medo da
culpa é perder a oportunidade da experiência.
Não
sinta culpas... Tenha sim, a competência de reconhecer seus limites e
superá-los. Pois você foi feito para vencer a si mesmo... Não ao outro!
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