segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HUMANITAS – Nº 77 – NOVEMBRO 2018 – PÁGINA 7

NÃO TENHA MEDO DA CULPA

Ana Maria Ferreira Leandro – colaboradora do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Creio que deveríamos abolir da linguagem humana a palavra “culpa”.
Ela tem sido a responsável por todas as culpas do mundo, melhor dizendo, de tudo que acontece e não deveria acontecer.
Ninguém tem culpa, ninguém viu, ninguém sabe, ninguém assume, e as tragédias continuam acontecendo.
E na impossibilidade de se detectar as causas diretas, parece que vão se avolumando em todos os segmentos.
A psicologia explica que a culpa e a ansiedade são altamente destrutivas. Enfraquecendo o ego, elas cerceiam a evolução e deixam o indivíduo mal consigo mesmo.
Segundo os psicanalistas, a culpa não tem função no presente, pois o presente é a vida do agora, onde não se pode perder tempo com culpas e ansiedades.
A primeira reação é sempre atribuir-se a terceiros, de preferência “anônimos”, a responsabilidade sobre erros ocorridos.
Os responsáveis anônimos têm a vantagem de não poder se defender.
Assim generaliza-se a responsabilidade com um “que absurdo, como tiveram a coragem de fazer isto?”
O instinto de autodefesa é tão forte, que o responsável pode também se convencer, que a ocorrência foi apenas um “incidente”, algo que aconteceu porque “estava escrito”.
Aliás, colocar a culpa em “forças invisíveis” é também uma ótima forma de fugir dos problemas, uma vez que estas são inatingíveis. A culpa é do desconhecido...
Ou ainda uma terceira alternativa, a mais cruel e injusta de todas: arruma-se um boi de piranha, algum ingênuo a quem se possa atribuir a culpa.
Se ele não for capaz de provar o contrário, o problema é dele.
Precisamos aprender a lidar de forma diferente com o sentimento de “culpa”.
Mas, definitivamente, o comportamento de isentar-se de responsabilidades, pelo medo do peso de assumir consequências tem levado o ser humano a uma omissão que gera, por outro lado, terríveis resultados em todos os segmentos.
Sem coragem de nos enfrentarmos, dificilmente resolveremos nossas próprias pendências.
Se não sou capaz de reconhecer um ponto fraco meu, como conseguirei vencê-lo?
Na obra “Longe é um lugar que não existe” o autor Richard Bach disse com propriedade: “ignore seus erros e não se livrará deles”.
Outra forma comum do ser humano se omitir de suas falhas é defender-se antes mesmo de ouvir uma orientação, para não errar de novo.
Alguém tenta explicar onde está o engano, mas o responsável se recusa a “ouvir”.
Pensa apenas em se defender, dizer que “não é o culpado”, antes mesmo de entender onde eventualmente pode ter se enganado.
É quando você tem a desagradável impressão de que falou alguns minutos e ele permaneceu em silêncio... Mas não ouvindo! Estava “articulando” sua defesa.
Logo a seguir recomeçam as explicações que antes já haviam sido dadas, e não há nenhum sentido repeti-las. Não tenha medo de enfrentar um erro. Seja capaz de reconhecê-lo.
A culpa maior não é errar, é persistir indefinidamente errando, por se negar a fazer uma reflexão sobre o assunto; por não considerar a necessidade de uma mudança; e por se julgar infalível.
Ninguém é infalível. Viver com êxito significa “aprender”. Assumir erros não é perda de razão, mas coragem de enfrentar mudanças necessárias.
Mudar comportamentos,  crescer recomeçar em novos e melhores caminhos, evoluir, eis o sentido da vida. E em todos os dias recomeça um novo tempo de fazê-lo.
Deixar de reconhecer falhas por medo da culpa é perder a oportunidade da experiência.
Não sinta culpas... Tenha sim, a competência de reconhecer seus limites e superá-los. Pois você foi feito para vencer a si mesmo... Não ao outro!

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