OS CORPOS NEGROS: A HERANÇA DO PASSADO,
OS DESAFIOS DO PRESENTE
Aline Cerqueira é historiadora. Atua em
Salvador/Ba
Desde o início da escravidão negra no
Brasil Colônia que já se manifestava uma violência real e simbólica sobre as
mulheres negras. Elas possuíam limitações sociais de todos os tipos, com seus
corpos sendo marginalizados e vivendo sobre o domínio do patriarcado. Elas
satisfaziam as necessidades sexuais dos seus senhores.
A escravidão negra durante o período
colonial e até mesmo no Brasil Império foi marcada pelo “poder do macho”
e pela subordinação sexual e moral da mulher negra.
Muitas mortes, ciúmes, traições e a
marginalização dos corpos negros aconteceram, fato que continua a ocorrer ainda
hoje, pois o Brasil é um país racista, machista e sexista. As mulheres negras
continuam submissas ao legado do patriarcado e sendo vistas como objetos
sexuais.
O desejo de possuir prazeres e
envolvimentos sexuais com uma mulher negra é constante em nossa sociedade, e
isso evidência preconceitos de gênero e de raça.
Um exemplo disso são os jogadores de
futebol negros. Podemos contar nos dedos das mãos aqueles que se casaram e
tiveram filhos com mulheres negras.
Os grandes milionários do futebol buscam
sempre justificar sua posição econômica e social, casando com as mulheres
brancas, seguindo a ideia de que as mulheres brancas são para casar.
Tudo isso está ligado ao imaginário social
do patriarcado, que qualifica a mulher negra e a mulher branca.
Esse é um dos muitos exemplos que podemos
citar, entre outros.
A “sociedade brasileira é racista” e
cria uma imagem estereotipada das mulheres negras.
Aos olhos dos homens brancos nosso
comportamento é sexualizado, quase que servil – e isso é a reprodução de uma
concepção da escravidão negreira.
Essa herança é machista e sexista, pois
dentro dela criou-se a ideia de que os negros são pessoas de segunda categoria.
A mulher negra é vista como objeto sexual,
como uma fêmea fogosa, fácil.
Por sua vez, as mulheres brancas são vistas
como “belas, recatadas e do lar”.
A historiadora Ângela Figueiredo, no livro “Dialogando com os estudos de gênero e
raça no Brasil” afirma que durante a escravidão, os negros não eram
donos do seu corpo e nem da sua sexualidade.
Construído pelo discurso do outro, o corpo
negro esteve sempre associado a aberrações e, consequentemente, a sexualidade
negra sempre é relacionada a algo animalesco, descontrolado e violento. Tais
estereótipos gerados pelos grupos dominantes da raça branca foram responsáveis
pela disseminação dessa mentalidade.
Neste Século XXI, a mulher negra precisa
resistir e afirmar o seu empoderamento. Marginalizada durante séculos, hoje a
mulher negra começa a aceitar seu corpo e a lutar por ele. Estão a se tornar
politizadas, buscando a sua auto-estima negra e apresentando-se pronta para
desconstruir essa imagem negativa criada e cultivada pelo patriarcado branco..
É necessário combater o racismo e o sexismo
e reinventar a imagem do corpo negro.
Descontruir
o olhar dos brancos e se afirmar enquanto mulher negra, construindo novos
valores é uma tarefa que precisa ser praticada constantemente.
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