segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HUMANITAS – Nº 77 – NOVEMBRO 2018 – PÁGINA 4

OS CORPOS NEGROS: A HERANÇA DO PASSADO,
OS DESAFIOS DO PRESENTE

Aline Cerqueira é historiadora. Atua em Salvador/Ba

Desde o início da escravidão negra no Brasil Colônia que já se manifestava uma violência real e simbólica sobre as mulheres negras. Elas possuíam limitações sociais de todos os tipos, com seus corpos sendo marginalizados e vivendo sobre o domínio do patriarcado. Elas satisfaziam as necessidades sexuais dos seus senhores.
A escravidão negra durante o período colonial e até mesmo no Brasil Império foi marcada pelo “poder do macho” e pela subordinação sexual e moral da mulher negra.
Muitas mortes, ciúmes, traições e a marginalização dos corpos negros aconteceram, fato que continua a ocorrer ainda hoje, pois o Brasil é um país racista, machista e sexista. As mulheres negras continuam submissas ao legado do patriarcado e sendo vistas como objetos sexuais.
O desejo de possuir prazeres e envolvimentos sexuais com uma mulher negra é constante em nossa sociedade, e isso evidência preconceitos de gênero e de raça.
Um exemplo disso são os jogadores de futebol negros. Podemos contar nos dedos das mãos aqueles que se casaram e tiveram filhos com mulheres negras.
Os grandes milionários do futebol buscam sempre justificar sua posição econômica e social, casando com as mulheres brancas, seguindo a ideia de que as mulheres brancas são para casar.
Tudo isso está ligado ao imaginário social do patriarcado, que qualifica a mulher negra e a mulher branca.
Esse é um dos muitos exemplos que podemos citar, entre outros.
A “sociedade brasileira é racista” e cria uma imagem estereotipada das mulheres negras.
Aos olhos dos homens brancos nosso comportamento é sexualizado, quase que servil – e isso é a reprodução de uma concepção da escravidão negreira.
Essa herança é machista e sexista, pois dentro dela criou-se a ideia de que os negros são pessoas de segunda categoria.
A mulher negra é vista como objeto sexual, como uma fêmea fogosa, fácil.
Por sua vez, as mulheres brancas são vistas como “belas, recatadas e do lar”.
A historiadora Ângela Figueiredo, no livro Dialogando com os estudos de gênero e raça no Brasil” afirma que durante a escravidão, os negros não eram donos do seu corpo e nem da sua sexualidade.
Construído pelo discurso do outro, o corpo negro esteve sempre associado a aberrações e, consequentemente, a sexualidade negra sempre é relacionada a algo animalesco, descontrolado e violento. Tais estereótipos gerados pelos grupos dominantes da raça branca foram responsáveis pela disseminação dessa mentalidade.
Neste Século XXI, a mulher negra precisa resistir e afirmar o seu empoderamento. Marginalizada durante séculos, hoje a mulher negra começa a aceitar seu corpo e a lutar por ele. Estão a se tornar politizadas, buscando a sua auto-estima negra e apresentando-se pronta para desconstruir essa imagem negativa criada e cultivada pelo patriarcado branco..
É necessário combater o racismo e o sexismo e reinventar a imagem do corpo negro.
   Descontruir o olhar dos brancos e se afirmar enquanto mulher negra, construindo novos valores é uma tarefa que precisa ser praticada constantemente.

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