segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HUMANITAS – Nº 77 – NOVEMBRO 2018 – PÁGINA 6

A MULHER QUE INVENTOU O CINEMA
Especial do HUMANITAS

A primeira onda do movimento feminista começou no início do Século XIX.
Muita gente desavisada alega que isso é falso, talvez porque nunca se falou tanto em feminismo como nos últimos anos.
Vejamos isso na historiografia do cinema.
A história oficial alega e ensina que os irmãos Lumiére e Thomas Edison registraram as primeiras imagens em movimento.
Tudo isso é verdade. Mas foi uma mulher a pioneira no uso de uma câmera para contar histórias.
Alguns irão aparecer discordando e dizendo que Georges Méliès foi o primeiro diretor de cinema narrativo, com suas produções de ficção científica e fantasia.
Esqueceram de salientar que enquanto Méliès sonhava com mundos mágicos e truques, uma mulher francesa chamada Alice Guy-Blaché já comandava um set, e fazendo o feminismo na tela grande.
Alice foi a primeira cineasta do mundo.
Numa época em que as mulheres eram relegadas a um plano inferior ela revolucionou a imagem cinematográfica.
Um dos seus primeiros trabalhos foi o curta-metragem Les Résultats du féminisme”, que data de 1906, cuja trama ocorre em uma realidade onde aos homens são reservados os afazeres domésticos e as ideias românticas dos relacionamentos, enquanto as mulheres é que passam horas nos bares e cafés após largarem do trabalho.
Alice ainda abriu portas em defesa das mulheres e dos seus direitos nos seus filmes. Ela era ousada e, além de apresentar os papéis das mulheres, levou aos seus filmes temas referentes ao homossexualismo, e à inserção dos negros na sociedade daquela época.
Por que será que Alice Guy-Blaché não está nos livros que contam a história do cinema e nem tem sua obra estudada por pesquisadores?
Simples: Alice era uma mulher.
Com o auge de Hollywood e a conversão do cinema em uma grande indústria, as mulheres foram cada vez mais relegadas a tarefas subalternas e a historiografia oficial se encarregou de apagar as realizações de Alice Guy e de outras pioneiras.
Nos dias de hoje, atrizes de Holywoodd, como Meryl Streep, estão na luta reivindicando mais valorização das mulheres no meio cinematográfico, mas ainda assim os homens são preponderantes e a história das mulheres nesse meio sempre é relegada a um plano secundário.
Portanto, lembrar e escrever sobre Alice Guy-Blanché é mostrar a verdade de um fato. Ela foi a mulher que inventou o cinema.
Quantos filmes Alice realizou?.
São atribuídos a Alice mais de mil filmes entre 1896 e 1922, no entanto muitos se perderam devido à ação do tempo e à falta de preservação, e hoje restam pouco mais de 300 trabalhos de sua obra cinematográfica.
Entre eles podemos citar “Algie, O Minerador” (1912), que nos apresenta de forma corajosa para a época um estereótipo comportamento de gênero; “Um Tolo e Seu Dinheiro” (1912), com elenco totalmente negro; “Harmonia Enlatada” (1912), uma divertida comédia; ”Limite de Velocidade Matrimonial” (1913), que mostra um protagonismo feminino raro para aquele momento.
E mais: “Filhotes Trocados” (1911), “O Grande Amor Não Tem Homem” (1911), “O Cair das Folhas” (1912) e “A Chegada dos Raios de Sol” (1913).
Muitos de seus filmes (talvez a maior parte) trazem personagens femininas bem trabalhadas, de todas as faixas etárias (de crianças a idosas), protagonistas em relação ao seu destino, cômicas e independentes, além de abordarem com sensibilidade temas do universo feminino.
Esquecida pela história oficial do cinema, Alice veio a falecer em 1968, aos 94 anos de idade, num asilo para idosos, em Mahwah, Nova Jersey/EUA.

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