A MULHER QUE
INVENTOU O CINEMA
Especial
do HUMANITAS
A primeira onda
do movimento feminista começou no início do Século XIX.
Muita gente
desavisada alega que isso é falso, talvez porque nunca se falou tanto em
feminismo como nos últimos anos.
Vejamos isso na
historiografia do cinema.
A história
oficial alega e ensina que os irmãos Lumiére e Thomas Edison registraram as
primeiras imagens em movimento.
Tudo isso é
verdade. Mas foi uma mulher a pioneira no uso de uma câmera para contar
histórias.
Alguns irão
aparecer discordando e dizendo que Georges Méliès foi o primeiro diretor de
cinema narrativo, com suas produções de ficção científica e fantasia.
Esqueceram de
salientar que enquanto Méliès sonhava com mundos mágicos e truques, uma mulher
francesa chamada Alice Guy-Blaché já comandava um set, e fazendo o feminismo na
tela grande.
Alice foi a
primeira cineasta do mundo.
Numa época em que
as mulheres eram relegadas a um plano inferior ela revolucionou a imagem
cinematográfica.
Um dos seus
primeiros trabalhos foi o curta-metragem “Les
Résultats du féminisme”, que data de 1906, cuja trama ocorre em uma
realidade onde aos homens são reservados os afazeres domésticos e as ideias
românticas dos relacionamentos, enquanto as mulheres é que passam horas nos
bares e cafés após largarem do trabalho.
Alice ainda abriu
portas em defesa das mulheres e dos seus direitos nos seus filmes. Ela era
ousada e, além de apresentar os papéis das mulheres, levou aos seus filmes
temas referentes ao homossexualismo, e à inserção dos negros na sociedade
daquela época.
Por que será que
Alice Guy-Blaché não está nos livros que contam a história do cinema e nem tem
sua obra estudada por pesquisadores?
Simples: Alice era
uma mulher.
Com o auge de
Hollywood e a conversão do cinema em uma grande indústria, as mulheres foram
cada vez mais relegadas a tarefas subalternas e a historiografia oficial se
encarregou de apagar as realizações de Alice Guy e de outras pioneiras.
Nos dias de hoje, atrizes de Holywoodd,
como Meryl Streep, estão na luta reivindicando mais valorização das mulheres no
meio cinematográfico, mas ainda assim os homens são preponderantes e a história
das mulheres nesse meio sempre é relegada a um plano secundário.
Portanto, lembrar e escrever sobre Alice
Guy-Blanché é mostrar a verdade de um fato. Ela foi a mulher que inventou o
cinema.
Quantos filmes Alice realizou?.
São atribuídos a Alice mais de mil filmes
entre 1896 e 1922, no entanto muitos se perderam devido à ação do tempo e à
falta de preservação, e hoje restam pouco mais de 300 trabalhos de sua obra
cinematográfica.
Entre eles podemos citar “Algie, O Minerador” (1912), que nos
apresenta de forma corajosa para a época um estereótipo comportamento de
gênero; “Um Tolo e Seu Dinheiro”
(1912), com elenco totalmente negro; “Harmonia
Enlatada” (1912), uma divertida comédia; ”Limite de Velocidade Matrimonial” (1913), que mostra um
protagonismo feminino raro para aquele momento.
E mais: “Filhotes
Trocados” (1911), “O Grande Amor Não
Tem Homem” (1911), “O Cair das
Folhas” (1912) e “A Chegada dos Raios
de Sol” (1913).
Muitos de seus filmes (talvez a maior
parte) trazem personagens femininas bem trabalhadas, de todas as faixas etárias
(de crianças a idosas), protagonistas em relação ao seu destino, cômicas e
independentes, além de abordarem com sensibilidade temas do universo feminino.
Esquecida
pela história oficial do cinema, Alice veio a falecer em 1968, aos 94 anos de
idade, num asilo para idosos, em Mahwah, Nova Jersey/EUA.
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