O messianismo brasileiro nos tempos de cólera
Sérgio Castro – Salvador/BA
O Brasil vive plenamente a solução de compromisso (mais
uma na nossa História) que nada mais é que uma sequência delas, a que foi
adotada em 1985, sob a proteção da espada de Leônidas Pires Gonçalves, aquele que combateu à sombra da UTI do
Hospital de Base.
O único
político a acusar foi o deputado Luiz Inácio Lula da Silva, que se negou a
avalizar a carta outorgada, inspirada nos quartéis que nunca se limparam das
torturas e indignidades da ditadura.
A “democracia consentida” vai sendo
praticada com maiores e menores arranhões e o Brasil, que já não é o País do
Futebol, mas que será sempre o mais lerdo, o que por último aboliu o trabalho
escravo, e é agora o mais sem caráter, o único que não puniu e não punirá os
seus torpes torturadores.
A “democracia consentida” permitiu que se
lançasse ao lixo toda a tradição de lutas por um Brasil Independente,
fazendo-se a adesão à globalização orientada pelo sistema financeiro
internacional privado, sob a égide da ideologia neoliberal dos
neo-estruturalistas, inventados por esse sistema e que por sua vez inventaram
Fernando Henrique Cardoso, como se fora ele “o
pai do Real”.
A
possibilidade de resgatarmos nossa independência é remota: nossa economia - não
tenhamos ilusões - não é mais uma economia nacional, possível de ser orientada
pela ação do Estado.
A
dependência fica provada com a ação do nosso Banco Central, que determina o
nível criminoso de juros que todos nós pagamos e continuaremos a pagar aos
bancos. Verdade!
Restou uma
pequena margem para a ação do Estado, e ela tem sido usada com competência, na
forma de uma política social assistencialista.
Assistencialista
sim, a única possível, pois que perdemos a guerra: ensinar a viver exige
escola, e como ela não há, resta estender o prato de comida.
A pressão
das elites carcomidas nacionais, contando com a voz do sistema de comunicação &
informação, obrigou o PT a fazer uso dos mesmos estratagemas que já foram
praticados pelos coronéis, ao tempo da República Velha. O suborno, o uso do
ilegal sob olhos vendados: Lula fez o único resumo decentemente real do
processo que puniu os dirigentes do PT: “não
usamos em benefício próprio um dinheiro que veio de caixa 2”. Caixa 2 que, nascendo
inevitavelmente de atos criminosos que são praticados e tolerados no mundo dos
negócios não admite pruridos éticos. Temos diante de nós os réus confessos e
que, prodígio da nossa Justiça, são condenados injustamente.
Para
assegurar-se a continuidade de um governo não amasiado com o poder econômico (e
o seu rompimento terá consequências tenebrosas) vale lançar mão de todos os
recursos. Vale tudo.
Vale estar
presente à inauguração do Templo de
Belzebu, obra de um celerado, aquele que enriquece roubando de todos;
aquele que ridiculariza a Nação, consagrando a fé estúpida da ignorância cega.
Aleluia,
Alelluia, eis que chega o tempo do Senhor!
Até agora,
os movimentos messiânicos no Brasil, ingênuos e puros, como o de Canudos, de
Antônio Conselheiro, foram demolidos a tiros de canhão.
Mas, hoje, o
messianismo ordinário/charlatão de Edir Macedo recebe a visita da presidente e
do vice-presidente da República brasileira, do governador do Estado de São
Paulo e do prefeito de São Paulo. A fotografia das autoridades - sérias e
compenetradas - tem uma tradução possível: a do desrespeito ultrajante aos
brasileiros capazes de pensar.
No olhar de
cada um deles, a mesma proposta que depravados mentais e morais fizeram à
Presidente, quando da inauguração da Copa da FIFA.
O que está
em jogo: um milhão de votos?
O
compromisso de submissão da Nação ao ideário de Jair Bolsonaro?
Sinto assim,
e então me retiro, o que significa a perda de um pobre voto, um voto.
Não posso aceitar um Brasil mergulhado no messianismo
que os ratos estão trazendo para o país: tempos de cólera.
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