quinta-feira, 4 de setembro de 2014

HUMANITAS Nº 27 - SETEMBRO/2014 - PÁGINA 5


ANARQUISMO COMO A MELHOR FILOSOFIA DE VIDA

Edgar Rodrigues (*) – Especial para o Humanitas

"Ninguém se deslustra por ser anarquista; são-no algumas das maiores individualidades da atualidade; H. Spencer, Kropotkine, Eliseu Reclus, Tolstoi, Ibsen(...). De maneira que ou o anarquismo é uma utopia formidável ou uma fatalidade social". (Silva Mendes - tese de doutoramento na Universidade de Coimbra).
O Anarquismo é antes de tudo uma ideia, uma doutrina, uma filosofia de vida universal e sem fronteiras, que teve e tem entre os seus adeptos-defensores algumas das mais ilustradas e brilhantes figuras no campo da ciência, das artes, da literatura, da filosofia e da sociologia, firmando-se nos princípios naturais e básicos da razão, da liberdade total e consciente, na igualdade de direitos e de deveres, na paz e no amor fraterno, na solidariedade humana universal.
É humanista toda a sua filosofia de vida, sua doutrina, porque coloca o homem como o Centro do Universo, como a célula mais importante de tudo que existe para desenvolver e preservar!
O desenvolvimento e o bem-estar, no seu mais amplo sentido, é o maior cavalo de batalha dos anarquistas que não aceitam fronteiras para o saber; não distinguem raças, cores, idades e partem da firme convicção de que se pode e deve conseguir o máximo de bem-estar, de conhecimentos para todos de forma a permitir ao indivíduo, ser ele mesmo, cidadão livre, em terra livre.
No Anarquismo é fundamental o saber e a busca da cultura, em todos os campos, a fim de confrontar ideias, corrigi-las, numa evolução constante, no caminho da conquista dos meios de coexistência racionais, igualitários, em comunhão de bens sociais.
Que não mais se levante a mão do forte para castigar o fraco; que o jovem não ria do velho, do inválido; o branco do negro; o mais lúcido e hábil do menos capaz.
Deve-se partir sempre do simples para o composto, da unidade para o grupo, da base para cima, no sentido de alcançar a felicidade total e coletiva para a Humanidade.
As normas básicas do Anarquismo são de mais liberdade, menos opressão; mais autodeterminação, menos mandatários; mais autogestão, menos chefes; mais cultura racionalista; menos ensino convencional; mais autoridade racional, menos autoridade irracional; mais realidade terra-a-terra, menos fantasia, (nos setores religiosos, políticos, nos convencionalismos burgueses, nacionalistas, sanitário e literário); mais solidariedade humana, menos filantropia-esmola!
O Anarquismo é uma ideia e uma filosofia bem antiga. Lao Tsé, Confúcio, Mo Ti e tantos outros filósofos já pregavam a igualdade entre os homens, a conscientização como força motora da conduta, a devoção ao trabalho, como condição de bem-estar social e, mais do que isso, advogavam a renúncia à violência, à exploração do homem pelo seu semelhante.
Nesse sentido manifestou-se Moro, Campanella e outros pensadores cujas ideias chegaram ao nosso século. Lao Tsé negou a validade do Estado, expressões que S. Clemente, S. Jerônimo e Santo Ambrósio haveriam de perfilhar anos depois, não só no que se refere ao Estado, mas também no que toca à propriedade privada e ao acúmulo de fortunas de uns poucos à custa do trabalho de muitos.
No Brasil, o Anarquismo também marcou época e teve seus pregadores. Desenvolveu sua trajetória por meio de movimentos humanistas de solidariedade humana e apoio, chegando a participar nas lutas de classe e vendo tombar seus mártires. Marginalizados seus princípios e doutrinas, não é demais estudá-los no instante em que todas as correntes políticas e ideológicas se perdem num galopante desejo de desforra, quando a violência toma lugar do bom senso, da solidariedade.

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