ANARQUISMO COMO A MELHOR FILOSOFIA DE VIDA
Edgar Rodrigues (*) –
Especial para o Humanitas
"Ninguém
se deslustra por ser anarquista; são-no algumas das maiores individualidades da
atualidade; H. Spencer, Kropotkine, Eliseu Reclus, Tolstoi, Ibsen(...). De
maneira que ou o anarquismo é uma utopia formidável ou uma fatalidade
social". (Silva Mendes - tese de doutoramento na Universidade
de Coimbra).
O Anarquismo
é antes de tudo uma ideia, uma doutrina, uma filosofia de vida universal e sem
fronteiras, que teve e tem entre os seus adeptos-defensores algumas das mais
ilustradas e brilhantes figuras no campo da ciência, das artes, da literatura,
da filosofia e da sociologia, firmando-se nos princípios naturais e básicos da
razão, da liberdade total e consciente, na igualdade de direitos e de deveres,
na paz e no amor fraterno, na solidariedade humana universal.
É humanista
toda a sua filosofia de vida, sua doutrina, porque coloca o homem como o Centro
do Universo, como a célula mais importante de tudo que existe para desenvolver
e preservar!
O
desenvolvimento e o bem-estar, no seu mais amplo sentido, é o maior cavalo de
batalha dos anarquistas que não aceitam fronteiras para o saber; não distinguem
raças, cores, idades e partem da firme convicção de que se pode e deve
conseguir o máximo de bem-estar, de conhecimentos para todos de forma a
permitir ao indivíduo, ser ele mesmo, cidadão livre, em terra livre.
No Anarquismo
é fundamental o saber e a busca da cultura, em todos os campos, a fim de
confrontar ideias, corrigi-las, numa evolução constante, no caminho da
conquista dos meios de coexistência racionais, igualitários, em comunhão de
bens sociais.
Que não mais
se levante a mão do forte para castigar o fraco; que o jovem não ria do velho,
do inválido; o branco do negro; o mais lúcido e hábil do menos capaz.
Deve-se
partir sempre do simples para o composto, da unidade para o grupo, da base para
cima, no sentido de alcançar a felicidade total e coletiva para a Humanidade.
As normas
básicas do Anarquismo são de mais liberdade, menos opressão; mais
autodeterminação, menos mandatários; mais autogestão, menos chefes; mais
cultura racionalista; menos ensino convencional; mais autoridade racional,
menos autoridade irracional; mais realidade terra-a-terra, menos fantasia, (nos
setores religiosos, políticos, nos convencionalismos burgueses, nacionalistas,
sanitário e literário); mais solidariedade humana, menos filantropia-esmola!
O Anarquismo
é uma ideia e uma filosofia bem antiga. Lao Tsé, Confúcio, Mo Ti e tantos
outros filósofos já pregavam a igualdade entre os homens, a conscientização
como força motora da conduta, a devoção ao trabalho, como condição de bem-estar
social e, mais do que isso, advogavam a renúncia à violência, à exploração do
homem pelo seu semelhante.
Nesse
sentido manifestou-se Moro, Campanella e outros pensadores cujas ideias
chegaram ao nosso século. Lao Tsé negou a validade do Estado, expressões que S.
Clemente, S. Jerônimo e Santo Ambrósio haveriam de perfilhar anos depois, não
só no que se refere ao Estado, mas também no que toca à propriedade privada e
ao acúmulo de fortunas de uns poucos à custa do trabalho de muitos.
No Brasil, o
Anarquismo também marcou época e teve seus pregadores. Desenvolveu sua
trajetória por meio de movimentos humanistas de solidariedade humana e apoio,
chegando a participar nas lutas de classe e vendo tombar seus mártires. Marginalizados
seus princípios e doutrinas, não é demais estudá-los no instante em que todas
as correntes políticas e ideológicas se perdem num galopante desejo de
desforra, quando a violência toma lugar do bom senso, da solidariedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário