segunda-feira, 29 de setembro de 2014

HUMANITAS Nº 28 - OUTUBRO 2014 - PÁGINA 3


REFÚGIO POÉTICO

DUVIDADOR DO MUNDO
Antonio Carlos Gomes
 Guarujá/SP

No fundo
Sou duvidador do mundo.

Minha arte é duvidar
Se a vida é superfície
O ser profundo não pode falar...
Só contestar.

Se o passado me amarra
É o presente o mundo onírico
O futuro se desgarra
Não obedece artifícios
Pois, o presente não embala
As fantasias do frontispício
Que minha mente avassala
Com ares sapientes... mas indecisos.

Sou o sonho que flutua
Discordando do sonhar...
Já que as velas que amarrei
Não impedem o velejar
Trazem máscaras do passado
Pro futuro assombrar
E eu cá, ensimesmado
Continuo a duvidar...
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CARTAS DE UMA ALMA
Karline Batista – Aracati/CE

Posso deixar aqui
as cartas amanhecidas
de uma alma
que deflagrou com seus sonhos de vitrais no tempo
e caiu em pedaços pelo espaço
espalhando suas letras
pelo caminho
na esperança teimosa que um dia
o destinatário reconheça a caligrafia
e venha afogar-me com seus beijos
em letargia
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UMA MULHER MUITO À FRENTE DO SEU TEMPO

Francisca Clotilde nasceu em Tauá, Ceará, em 19 de outubro de 1862. Filha de João Correia Lima e Ana Maria Castelo Branco.
Ávida por liberdade engajou-se no Movimento Abolicionista; já então se notabilizava pela vocação poética. Em 1884, por concurso público foi nomeada com o título de professora para a Escola Normal de Fortaleza.
 Colaborou na imprensa (prosa e verso): Cearense, Gazeta do Norte, Pedro II, O Libertador, A Quinzena, A República, Almanaque do Ceará, no Ceará; e na de outros estados.
Ao ser demitida da Escola Normal (sua pena incomodava os poderosos) fundou externato próprio que funcionou em Fortaleza e depois em Baturité.
Além de poetisa, foi também contista, cronista, jornalista, dramaturga e romancista. Em 1902 veio a público o romance “A Divorciada”.
Pelo tema, há de se imaginar o abalo na sociedade e o preço que a romancista pagou pela "ousadia".
Em 1908 transferiu-se com a família, o externato e a revista A Estrella para a cidade de Aracati, onde passou 27 anos de sua vida dedicados à educação da Zona Jaguaribana.
Seus filhos Antonieta, Aristóteles e Angelita seguiram o exemplo da mãe: todos percorreram o árduo caminho de educar.
Faleceu em Aracati no dia 8 de dezembro de 1935.

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A vida é uma estranha hospedaria. De onde se parte quase
sempre às  tontas,
Pois nunca as nossas malas
estão prontas
E a nossa conta nunca está em dia.
- MÁRIO QUINTANA -
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Não te retires ofendida.
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda minha vida:
Ternura inquieta e malferida
Que, antes, não dei nunca a ninguém.

E foi melhor nunca ter dado:
Em te pungindo algum espinho
Cinge-a ao teu seio angustiado.
E sentirás o meu carinho
- MANUEL BANDEIRA -
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