NADA NO UNIVERSO PROVA QUE EXISTE UM DESIGN INTELIGENTE
Divina de Jesus Scarpim – São Paulo/SP
Mesmo que a ciência concluísse que uma espécie qualquer de mente "incriada" seria necessária
para explicar a existência, ainda assim um deus não faria sentido. Por que essa
"mente" teria que ser deus?
E, mais ainda, por que teria que ser o deus dos cristãos?
O físico Stephen Hawking já mostrou que
deus não é necessário para explicar a existência do universo: “Não é necessário que evoquemos um deus
para iluminar as coisas e criar o universo”. Dai que esse "incriado" não TEM que
existir.
Mesmo que existisse esse design, na minha visão ele teria que ser
algo muito diferente do que se pode chamar deus, pelo menos do deus que os
seres humanos costumam cultuar em igrejas, templos e sinagogas.
Para começar o que os teístas chamam
deus, de acordo com eles, teria criado o mundo para o homem; seria uma entidade
que "cuida" do homem, ao
ponto inclusive de se preocupar com sua vida sexual e com a sua dieta
alimentar.
Em minha opinião, se essa "mente" criadora existisse e
teoricamente tivesse dado início ao Big Bang certamente seria algo totalmente
indiferente ao homem; e não só ao homem como também a todos os outros animais e
até, provavelmente, ao próprio planeta Terra.
Tiro essa conclusão olhando em volta e
para mim. Nem eu, nem a natureza, nem o planeta parecemos criações de uma mente
inteligente, preocupada e atenta.
Na minha visão, se existisse – e não
creio que exista – esse “iniciador do big
bang” teria que ter outro nome, não deus; e não faria absolutamente nenhum
sentido rezar, orar ou mesmo ter "pensamentos
fortes" a respeito de tal "mente".
Hawking mostrou como a física pode
provar que é possível do nada surgir alguma coisa. Dai que ele simplesmente
matou o último argumento teísta. É claro que ainda falta muito para que esses
estudos sejam consolidados, mas o caminho foi aberto.
Em se confirmando os estudos de Hawking,
não tem que ter nada antes do princípio de tudo, não tem que existir ou ter
existido nenhum “incriado”.
Não sei você, mas eu levo mais a sério
os argumentos do Hawking do que os de qualquer teísta que eu conheça.
Esclarecendo: pelo que entendi, Hawking não fala de um “universo incriado”. Fala de um universo que se criou do nada sem
ter um criador. Não é a mesma coisa.
A diferença básica é que o teísmo, até o
de Spinoza, nunca deixa de atribuir uma “mente”
a esse início. Quando definem "design
inteligente" estão colocando na palavra "inteligente" também o sentido de racional. Essa mente
teria um propósito, um objetivo, uma vontade.
Nunca vi ou li nada de nenhum teísta que
se parecesse com a defesa de um deus que não tivesse mente. Acho isso bem
lógico, afinal, qual seria o propósito de adorar um criador inanimado?
Já o argumento de Hawking, que é mais do
que argumento porque é resultado de pesquisas na área da física, não aponta
para nenhum tipo de mente, inteligência ou propósito.
O início do universo seria tão natural
quanto o início do raio, com a diferença de que o raio tem um agente provocador
que incita a ideia de uma “corrente”
de agentes provocadores, e o início do universo não teria. Será que consegui me
explicar?
O deus de Spinoza, assim como o deus de
qualquer cientista teísta moderno, ainda tem características de entidade,
portanto ainda pode ser denominado deus.
O que Hawking demonstrou como início não
é entidade: é nada! Não há como adorar o nada.
Existiram muitos filósofos, cientistas e
pensadores que raciocinaram sobre deus. O problema é que todos eles
raciocinaram SOBRE DEUS e não sobre a possibilidade da existência e da não
existência de deus.
Eles partem sempre da existência de deus
como verdade inquestionável e a partir daí constroem todo seu arcabouço
lógico-filosófico; e, quando falam sobre a existência de deus, falam para
mostrá-la como verdade, para convencer os que porventura duvidam.
Nesse ponto, eles “dão nó no cérebro” e chegam a dizer os absurdos mais disparatados,
como é o caso de Leibniz que disse que este é “o melhor dos mundos possíveis”.
No caso da fé, nunca, nunca vi alguém
justificando sua fé de forma realmente racional, nem no dia-a-dia, nem nos
livros que li. Normalmente a justificação da fé é egoísta (egoísmo esse que a
pessoa nega com toda veemência).
Vejamos: deus é bom porque curou de uma
doença (meu filho, minha, mãe, eu mesmo, meu irmão...); deus é bom porque
salvou de um acidente grave (meu filho, minha, mãe, eu mesmo, meu irmão...);
deus é bom porque “operou” maravilhas na vida de (meu filho, minha, mãe, eu
mesmo, meu irmão...).
Por aí vai.
Ora, se não é para todo mundo não é
justiça nem é bondade, principalmente vindo de um ser onipotente.
Nisso ninguém pensa.
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