segunda-feira, 2 de março de 2015

HUMANITAS Nº 33 – MARÇO DE 2015 – PÁGINA 5

UMA MULHER OUSADA

Uma mulher foi exceção: Safo, a Poetisa (nascida entre 630 e 612 a.e.c – falecida em data desconhecida a.e.c). Pouco se sabe sobre essa mulher magnífica – política, poetisa e professora –, cuja personalidade, ousadia e talento deram origem a fantásticas lendas. 
Pelo que nos resta da sua obra, queimada em 1073 em Constantinopla e Roma, por ter sido considerada herética, podemos perceber o amor que devotava a uma aluna da sua escola, na ilha de Lesbos, mas nada que seja claro no que respeita à aceitação, comportamento ou regras sociais para a homossexualidade feminina.
Entre os romanos, os ideais amorosos eram equivalentes aos dos gregos. A pederastia (relação entre um homem adulto e um jovem) era encarada como sentimento puro. 
Mas se um homem mais velho mantivesse relações sexuais com outro de idêntica idade, estava estabelecida sua desgraça – os adultos passivos eram encarados com desprezo ao ponto de serem impedidos de exercer cargos públicos. 
Dando uma vista de olhos pela história não é difícil perceber que, na Antiguidade, o sexo tinha como objetivo a preservação da espécie, o amor, o prazer e até o aperfeiçoamento espiritual. 
Na civilização Suméria (4000 antes da era comum), práticas sexuais que hoje se entendem como imorais – casamentos fictícios em honra aos deuses, estranhos rituais de fertilidade, prostituição divina (mulheres e homens que se entregavam a terceiros, em troca de dádivas para determinado templo), práticas entre homens e jovens do mesmo sexo, que hoje chamamos homossexualidade –, parece que eram entendidas num contexto espiritual e desprovidas dos conceitos morais de hoje.
Na Babilônia, por volta de 1750 a.e.c, surgiu uma das mais antigas compilações de leis, elaborada pelo imperador Hamurabi, com alguns privilégios para os prostitutos e as prostitutas, que participavam nos cultos religiosos. Nota-se que essas pessoas já começavam a sofrer algum tipo de pressão social. 
Os escribas da civilização egípcia (3200 a.e.c. – 250 a.e.c.), não foram pródigos em registrar ou mostrar a sua sexualidade em pinturas, baixos relevos ou esculturas – salvo alguns artefatos fálicos encontrados em túmulos e umas poucas pinturas, de valor real dúbio. 
Segundo o historiador espanhol José Miguel Parra Ortiz, em “A vida amorosa no Antigo Egito”, os egípcios tinham interesse por sexo, tanto como qualquer outro povo.
As práticas homossexuais não eram de modo algum tabu, embora fosse dada uma grande importância ao casamento e à procriação.
Apesar da discrição dos egípcios, quanto à vertente sexual, podemos deduzir que a organização social era baseada nas relações heterossexuais, sendo a homossexualidade tolerada enquanto fonte de prazer.
Os antigos gregos não entendiam a ideia de orientação sexual como um identificador social. 
A sociedade grega não diferenciava desejo e comportamento sexual, com base no fato dos seus participantes serem masculinos ou femininos, mas sim pelas normas sociais a adotar consoante cada caso. 

A prática sexual entre homens tinha como objetivo a educação do jovem, sua preparação para a vida adulta e a contemplação do amor que só entre os homens poderia ter lugar, já que as mulheres, segundo a filosofia da época, eram desprovidas de intelecto e sabedoria.

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