sexta-feira, 27 de março de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 34 – ABRIL DE 2015 – PÁGINA 5

GUERRILHA -  MILAGRE BRASILEIRO - DIRETAS JÁ
(continuação da página 4)

As organizações guerrilheiras conseguiram surpreender a ditadura no primeiro semestre de 1969, mas já no segundo semestre as Forças Armadas começaram a levar vantagem no plano militar, introduzindo novos métodos repressivos e maximizando a prática da tortura, a partir de lições recebidas de oficiais estadunidenses.
Em 1970 os militares assumiram a dianteira também no plano político, aproveitando o boom econômico e a euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que lhes trouxeram o apoio da classe média.
Nos anos seguintes, com a guerrilha nos estertores, as Forças Armadas partiram para o extermínio sistemático dos militantes, que, mesmo quando capturados com vida, eram friamente executados.
A Casa da Morte de Petrópolis (RJ) e o assassinato sistemático dos combatentes do Araguaia estão entre as páginas mais vergonhosas da História brasileira – daí a obstinação dos carrascos envergonhados em darem sumiço nos restos mortais de suas vítimas, acrescentando ao genocídio a ocultação de cadáveres.
milagre brasileiro, fruto da reorganização econômica empreendida pelos ministros Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, bem como de uma enxurrada de investimentos dos EUA em 1970 (quando aqui entraram tantos dólares quanto nos dez anos anteriores somados), teve vida curta. Em 1974 a maré virou, ficando muitas contas para as gerações seguintes pagarem.
As ciências, as artes e o pensamento eram cerceados por meio de censura, perseguições policiais, pressões políticas e econômicas, bem como por atentados e espancamentos praticados pelos grupos paramilitares consentidos pela ditadura.
Corrupção havia tanto quanto agora, mas a imprensa era impedida de noticiar o que acontecia, por exemplo, nos projetos faraônicos como a Transamazônica, a Ferrovia do Aço, a usina de Itaipu e a Paulipetro (muitos dos quais malograram).
A arrogância e a impunidade com que agiam as forças de segurança causaram muitas vítimas inocentes, como o motorista baleado em 1969 apenas por estar passando em alta velocidade diante de um quartel, na madrugada paulistana (o comandante da unidade ainda elogiou o recruta assassino, por ter cumprido fielmente as ordens recebidas!).
Longe de garantirem a segurança da população, os integrantes dos efetivos policiais chegavam até a acumpliciar-se com traficantes, executando seus rivais a pretexto de justiçar bandidos (esquadrões da morte). O aparato repressivo criado para combater a guerrilha propiciava a seus integrantes uma situação privilegiadíssima.
Não só recebiam dos empresários extremistas vultosas recompensas por cada revolucionário preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de valor com os militantes.
Daí terem resistido de forma encarniçada à disposição do ditador Ernesto Geisel, de desmontar essa engrenagem de terrorismo de Estado, no momento em que ela se tornou desnecessária. Mataram pessoas inofensivas (como Vladimir Herzog) e promoveram atentados contra pessoas e instituições (inclusive o do Riocentro, que, se não tivesse falhado, provocaria um morticínio em larga escala). Chegaram até mesmo a conspirar contra o próprio ditador Ernesto Geisel, tanto que este foi obrigado a destituir o comandante do II Exército e o ministro do Exército.
A ditadura civil militar terminou melancolicamente em 1985, com a economia brasileira marcando passo e os cidadãos cada vez mais avessos ao autoritarismo sufocante. 
Seu último espasmo foi o de frustrar a vontade popular, negando aos brasileiros o direito de elegerem livremente o presidente da República, ao conseguir evitar a aprovação da emenda das diretas já.

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