GUERRILHA -
MILAGRE BRASILEIRO - DIRETAS JÁ
(continuação da
página 4)
As
organizações guerrilheiras conseguiram surpreender a ditadura no primeiro
semestre de 1969, mas já no segundo semestre as Forças Armadas começaram a
levar vantagem no plano militar, introduzindo novos métodos repressivos e
maximizando a prática da tortura, a partir de lições recebidas de oficiais
estadunidenses.
Em 1970 os
militares assumiram a dianteira também no plano político, aproveitando o boom
econômico e a euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que
lhes trouxeram o apoio da classe média.
Nos anos
seguintes, com a guerrilha nos estertores, as Forças Armadas partiram para o
extermínio sistemático dos militantes, que, mesmo quando capturados com vida,
eram friamente executados.
A Casa da
Morte de Petrópolis (RJ) e o assassinato sistemático dos combatentes do
Araguaia estão entre as páginas mais vergonhosas da História brasileira – daí a
obstinação dos carrascos envergonhados em darem sumiço nos restos mortais de
suas vítimas, acrescentando ao genocídio a ocultação de cadáveres.
O milagre
brasileiro, fruto da reorganização econômica empreendida pelos ministros
Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, bem como de uma enxurrada de
investimentos dos EUA em 1970 (quando aqui entraram tantos dólares quanto nos
dez anos anteriores somados), teve vida curta. Em 1974 a maré virou, ficando
muitas contas para as gerações seguintes pagarem.
As ciências,
as artes e o pensamento eram cerceados por meio de censura, perseguições
policiais, pressões políticas e econômicas, bem como por atentados e
espancamentos praticados pelos grupos paramilitares consentidos pela ditadura.
Corrupção
havia tanto quanto agora, mas a imprensa era impedida de noticiar o que acontecia,
por exemplo, nos projetos faraônicos como a Transamazônica, a Ferrovia do Aço,
a usina de Itaipu e a Paulipetro (muitos dos quais malograram).
A arrogância
e a impunidade com que agiam as forças de segurança causaram muitas vítimas
inocentes, como o motorista baleado em 1969 apenas por estar passando em alta
velocidade diante de um quartel, na madrugada paulistana (o comandante da
unidade ainda elogiou o recruta assassino, por ter cumprido fielmente as ordens
recebidas!).
Longe de
garantirem a segurança da população, os integrantes dos efetivos policiais
chegavam até a acumpliciar-se com traficantes, executando seus rivais a
pretexto de justiçar bandidos (esquadrões da morte). O aparato repressivo
criado para combater a guerrilha propiciava a seus integrantes uma situação
privilegiadíssima.
Não só
recebiam dos empresários extremistas vultosas recompensas por cada
revolucionário preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de
valor com os militantes.
Daí terem
resistido de forma encarniçada à disposição do ditador Ernesto Geisel, de
desmontar essa engrenagem de terrorismo de Estado, no momento em que ela se
tornou desnecessária. Mataram pessoas inofensivas (como Vladimir Herzog) e
promoveram atentados contra pessoas e instituições (inclusive o do Riocentro,
que, se não tivesse falhado, provocaria um morticínio em larga escala).
Chegaram até mesmo a conspirar contra o próprio ditador Ernesto Geisel, tanto
que este foi obrigado a destituir o comandante do II Exército e o ministro do
Exército.
A ditadura
civil militar terminou melancolicamente em 1985, com a economia brasileira
marcando passo e os cidadãos cada vez mais avessos ao autoritarismo sufocante.
Seu
último espasmo foi o de frustrar a vontade popular, negando aos brasileiros o
direito de elegerem livremente o presidente da República, ao conseguir evitar a
aprovação da emenda das diretas já.
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