PORTUGAL COLOCA CRAVOS NAS BAIONETAS DOS MILITARES
Carlos Demócrito A. de Lima - Recife/PE
Especial para o Humanitas
Pouco após a
meia-noite de 25 de abril de 1974 começou a soar na principal emissora de
Lisboa a música até então proibida
"Grândola, Vila Morena". Era o sinal combinado para o início do
levante militar em Portugal.
“Grândola, vila morena / Terra da fraternidade / O
povo é quem mais ordena / Dentro de ti, ó cidade /// Em cada esquina, um amigo / Em cada
rosto, igualdade / Grândola, vila morena / Terra da fraternidade”.
Antes da
revolução, era raro em Portugal a família que não tivesse alguém combatendo nas
guerras das colônias na África, o serviço militar durava quatro anos, opiniões
contra o regime e contra a guerra eram severamente reprimidas pela censura e
pela polícia.
Antes de
abril de 1974, os partidos e movimentos políticos estavam proibidos, as prisões
políticas estavam cheias, os líderes oposicionistas estavam exilados, os
sindicatos eram fortemente controlados, a greve era proibida, as demissões
jorravam fáceis e a vida cultural era vigiada.
A liberdade
em Portugal começou com a transmissão, pelo rádio, de uma música até então
proibida.
Os cravos
enfiados pela população nas espingardas dos soldados acabaram virando o símbolo
da revolução, que encerrou, ao mesmo tempo, 48 anos de ditadura fascista e 13
anos de guerra nas colônias africanas.
Em apenas
algumas horas, as Forças Armadas ocuparam locais estratégicos em todo o país.
Ao clarear, multidões cercavam as emissoras de rádio à espera de notícias.
A operação
pegou de surpresa o regime ditatorial de Oliveira Salazar. Acuado pelo povo e
pelos militares, o sucessor de Salazar, Marcelo Caetano, transmitiu sua renúncia por
telefone ao líder dos golpistas, general António de Spínola.
Transportado
de tanque ao aeroporto de Lisboa, Caetano embarcou para o exílio no Brasil. Em
menos de 18 horas foi derrubada a mais antiga ditadura fascista no mundo.
Artistas,
políticos e desertores começaram a retornar do exílio. As colônias receberam a
independência. Ao voltar do exílio em Paris, Mário Soares, o dissidente mais
popular do governo Salazar, foi recebido por milhares de pessoas na estação
ferroviária de Lisboa. Cravos vermelhos foram jogados de helicóptero sobre a
cidade e só se ouvia a famosa canção Grândola, vila morena, que já havia
se tornado o hino da revolução.
Em 1974, Portugal
era o último país europeu a manter colônias e vinha travando uma longa guerra
contra a independência de Angola, Moçambique e Guiné. O regime de Salazar,
iniciado em 1926, havia conseguido manter-se através da repressão e fora
tolerado pelos países vencedores da Segunda Guerra Mundial.
A esquerda
europeia viu em Lisboa um palco ideal para os movimentos frustrados de 68. A pacata e católica
população portuguesa, por seu lado, sentiu-se ignorada e, a partir do norte
conservador, iniciou um movimento contra os extremistas.
No ano de
1975 aconteceu a dupla tentativa de golpe, da esquerda e da direita, contra o
governo socialista, levando Portugal à beira da guerra civil.
A ala
militar extremista de esquerda obteve o domínio da situação em novembro de
1975. Após as eleições do ano seguinte, o general António Ramalho Eanes foi
eleito presidente.
O Partido
Socialista, com Mário Soares, assumiu um governo minoritário. A crise econômica
o levou à renúncia em 1978. Entre 1979 e 1980, o país teve cinco primeiros-ministros.
Em 1985, o
governo foi assumido por Aníbal Cavaco Silva e Mário Soares tornou-se
presidente no ano seguinte. Em 1986, Portugal ingressou na então Comunidade
Econômica Europeia, hoje União Europeia.
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