sexta-feira, 27 de março de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 34 – ABRIL DE 2015 – PÁGINA 6


PORTUGAL COLOCA CRAVOS NAS BAIONETAS DOS MILITARES

Carlos Demócrito A. de Lima - Recife/PE
Especial para o Humanitas

Pouco após a meia-noite de 25 de abril de 1974 começou a soar na principal emissora de Lisboa a música até então proibida "Grândola, Vila Morena". Era o sinal combinado para o início do levante militar em Portugal. 
“Grândola, vila morena / Terra da fraternidade / O povo é quem mais ordena / Dentro de ti, ó cidade  /// Em cada esquina, um amigo / Em cada rosto, igualdade / Grândola, vila morena / Terra da fraternidade”.
Antes da revolução, era raro em Portugal a família que não tivesse alguém combatendo nas guerras das colônias na África, o serviço militar durava quatro anos, opiniões contra o regime e contra a guerra eram severamente reprimidas pela censura e pela polícia.
Antes de abril de 1974, os partidos e movimentos políticos estavam proibidos, as prisões políticas estavam cheias, os líderes oposicionistas estavam exilados, os sindicatos eram fortemente controlados, a greve era proibida, as demissões jorravam fáceis e a vida cultural era vigiada.
A liberdade em Portugal começou com a transmissão, pelo rádio, de uma música até então proibida.
Os cravos enfiados pela população nas espingardas dos soldados acabaram virando o símbolo da revolução, que encerrou, ao mesmo tempo, 48 anos de ditadura fascista e 13 anos de guerra nas colônias africanas.
Em apenas algumas horas, as Forças Armadas ocuparam locais estratégicos em todo o país. Ao clarear, multidões cercavam as emissoras de rádio à espera de notícias.
A operação pegou de surpresa o regime ditatorial de Oliveira Salazar. Acuado pelo povo e pelos militares, o sucessor de Salazar, Marcelo Caetano, transmitiu sua renúncia por telefone ao líder dos golpistas, general António de Spínola.
Transportado de tanque ao aeroporto de Lisboa, Caetano embarcou para o exílio no Brasil. Em menos de 18 horas foi derrubada a mais antiga ditadura fascista no mundo.
Artistas, políticos e desertores começaram a retornar do exílio. As colônias receberam a independência. Ao voltar do exílio em Paris, Mário Soares, o dissidente mais popular do governo Salazar, foi recebido por milhares de pessoas na estação ferroviária de Lisboa. Cravos vermelhos foram jogados de helicóptero sobre a cidade e só se ouvia a famosa canção Grândola, vila morena, que já havia se tornado o hino da revolução.
Em 1974, Portugal era o último país europeu a manter colônias e vinha travando uma longa guerra contra a independência de Angola, Moçambique e Guiné. O regime de Salazar, iniciado em 1926, havia conseguido manter-se através da repressão e fora tolerado pelos países vencedores da Segunda Guerra Mundial.
A esquerda europeia viu em Lisboa um palco ideal para os movimentos frustrados de 68. A pacata e católica população portuguesa, por seu lado, sentiu-se ignorada e, a partir do norte conservador, iniciou um movimento contra os extremistas.
No ano de 1975 aconteceu a dupla tentativa de golpe, da esquerda e da direita, contra o governo socialista, levando Portugal à beira da guerra civil.
A ala militar extremista de esquerda obteve o domínio da situação em novembro de 1975. Após as eleições do ano seguinte, o general António Ramalho Eanes foi eleito presidente.
O Partido Socialista, com Mário Soares, assumiu um governo minoritário. A crise econômica o levou à renúncia em 1978. Entre 1979 e 1980, o país teve cinco primeiros-ministros.
Em 1985, o governo foi assumido por Aníbal Cavaco Silva e Mário Soares tornou-se presidente no ano seguinte. Em 1986, Portugal ingressou na então Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia.

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