quinta-feira, 26 de março de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 34 – ABRIL DE 2015 – PÁGINA 2


EDITORIAL
ESTUPRO DA VERDADE

Quando este mês de abril despontar, alguns setores políticos da direita radical irão, novamente, colocar as unhas de fora, tentando fraudar a História do Brasil. Depois de 51 anos, ainda pretendem criar um novo estelionato, estuprando nossa verdade histórica.
Neste abril de 2015 ainda existe gente a considerar uma maravilha a violência praticada em 1964 contra a democracia, o golpe que derrubou do poder o presidente eleito João Goulart, que dirigia a nação de acordo com a lei e a legalidade.
O que diz a Grande Mídia hoje? A maior parte dela busca incutir na cabeça do povo que a ditadura civil militar que o Brasil viveu entre 1964/1985 apresentou baixos níveis de violência política e institucional.  Mantém essa ladainha para exorcizar da memória popular os crimes praticados sob as ordens dos ditadores militares, Castello Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, supervisionados pelo empresariado civil e pela águia de rapina ianque.
Esses cafajestes da Grande Mídia, fazem o elogio de um regime de exceção que perseguiu, exilou, prendeu, matou, torturou e mutilou milhares de patriotas entre 1964 e 1985. Não devemos esquecer que, obedecendo aos ditadores fardados, cabeças foram decepadas, corpos jogados no oceano e depois dados como "desaparecidos" e a maior parte de nossa Grande Mídia aplaudia e continua aplaudindo tudo isso.
A soberania popular foi estuprada em abril de 1964 por homens fardados e por civis de triste memória, como Carlos Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto, Roberto Marinho, Antônio Carlos Magalhães e outros.
Desaparecimentos, torturas, mortes, sequestros não possuem ligação com nosso pensamento humanista.  Seguindo esse ideal, estaremos sempre a martelar nos espaços da comunicação para jamais deixar cair no esquecimento essa famigerada época inserida na vida brasileira pelos antipatriotas, militares e civis, apoiados, como sempre acontece, pelo império ianque.
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A MARCHA DOS HIPÓCRITAS
Leandro Fortes – Brasília/DF – Especial para o Humanitas
NAVEGANDO NA CRÔNICA DA POLÍTICA

Primeiro, vamos combinar uma coisa: se você votou em Aécio Neves nas eleições passadas, você não está preocupado com corrupção. Você nem liga para isso, admita.
Aécio usou dinheiro público para construir um aeroporto nas terras da família dele e deu a chave do lugar, um patrimônio estadual, para um tio.
Aécio garantiu o repasse de dinheiro público do estado de Minas Gerais, cerca de 1,2 milhão de reais, a três rádios e a um jornal ligados à família dele. Isso é corrupção.
Então, você que votou em Aécio, pare com essa hipocrisia de que foi às ruas no dia 15 de março passado se manifestar porque não aguenta mais corrupção. É mentira!
Você foi à rua porque, derrotado nas eleições passadas, viu, outra vez, naufragar o modelo de país que 12 anos de governos do PT tornaram melhor.
Você foi para a rua porque, classe média remediada, precisa absorver com volúpia o discurso das classes dominantes e, assim, ser aceito por elas.
Você foi para a rua porque você odeia cotas raciais, e não apenas porque elas modificaram a estrutura de entrada no ensino superior ou no serviço público.
Você odeia as cotas raciais porque elas expõem o seu racismo, esse que você só esconde porque tem medo de ser execrado em público ou nas redes sociais. Ou preso.
Você foi para a rua porque, apesar de viver e comer bem, é um analfabeto político nutrido à base de uma ração de ódio, intolerância e veneno editorial administrada por grupos de comunicação que contam com você para se perpetuar como oligopólios.
Foram esses meios de comunicação, sempre emprenhados de dinheiro público, que encheram a sua alma de veneno, que tocaram você como gado para a rua, com direito a banda de música e selfies com atores e atrizes de corpo sarado e cabecinha miúda.
Não tem nada a ver com corrupção. Admita. Você nunca deu a mínima para corrupção. Você votou no PFL, no DEM, no PP, em Maluf, em ACM, em Maciel, no Mendonça Filho, no Agripino Maia em deputados fisiológicos, em senadores vis, em governadores idem.
Você votou no PSDB a vida toda, mesmo sabendo que Fernando Henrique Cardoso comprou a reeleição para, então, vender o patrimônio do país a preço de banana a investidores estrangeiros. Ainda assim, você foi para a rua bradar contra a corrupção.
E, para isso, você nem ligou de estar, ombro a ombro, com dementes que defendem o golpe militar, a homofobia, o racismo, a violência contra crianças e animais.
Você foi para a rua com fascistas, nazistas e sociopatas das mais diversas cepas. Você se lambuzou com eles porque quis, porque não suporta mais as cotas, as bolsas, a mistura social, os pobres nos aeroportos, os negros nas faculdades, as mulheres de cabeça erguida, os gays como pais naturais.
Você odeia esse mundo laico, plural, democraticamente caótico, onde a gente invisível passou a ser vista – e vista como gente. Você não foi para a rua pedir nada. Você só foi fingir que odeia a corrupção para esconder o óbvio: “de que você foi para a rua porque, no fundo, você só sabe odiar”.

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