sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 8

Brasil: um país fundado
no ventre de mulheres nativas e africanas

Especial para o Humanitas
Durval Arantes é professor e autor do livro O Último Negro – Editora Vermelho Marinho. Mora em São Paulo/SP

Ele era da “principal nobreza de Viana do Castelo” (Portugal); ela, filha de um cacique tupinambá…
Diogo Álvares Corrêa foi um explorador português que sobreviveu a um naufrágio, na costa do litoral baiano, por volta do ano de 1510. Já habitante entre os nativos, passou a ser chamado de “Caramuru”.
Foi, muito provavelmente, o primeiro homem europeu a constituir um casal extra-étnico em terras brasileiras.
O Brasil foi “descoberto” no ano de 1500 (outra balela eurocêntrica, pois os núcleos populacionais aqui encontrados pelos colonizadores já habitavam o território brasileiro havia pelo menos 9 mil anos!).
A vinda de mulheres europeias de forma sistemática só se consolidou a partir do ano de 1550, na época em que Tomé de Sousa foi nomeado o primeiro governador do Brasil. Ainda assim, eram em número muito baixo as moçoilas de Portugal, educadas sob as premissas e o rigor dos tabus dogmáticos do catolicismo.
Nos primeiros anos da exploração europeia sobre o Novo Continente, o deslocamento entre a costa oeste africana e a costa leste do Brasil durava de 35 a 40 dias e as tripulações eram compostas exclusivamente por homens. Ao desembarcaram em terras novas, os navegantes estavam ensandecidos pela abstenção sexual e, diante da visualização da nudez natural de meninas, moças e mulheres indígenas, é possível especular sobre os horrores passados pelo contingente feminino habitante dos novos territórios encontrados.
As primeiras embarcações dos navios tumbeiros trazidos da África começaram a chegar ao longo da costa brasileira por volta de 1526.
Isso significa considerar que as meninas, moças e mulheres africanas eram estupradas e violentadas rotativamente (ou seja por mais de um membro de uma mesma tripulação) por mais de um mês em alto mar.
E (se sobrevivessem ao infortúnio), passavam a ser violadas também em terra firme, após serem vendidas como mercadorias nos leilões escravagistas da época.
Seguramente este cenário deve ter se mantido razoavelmente no mesmo padrão por pelo menos uns 200 anos da História do Brasil, ou seja, mesmo após o estabelecimento consolidado das mulheres eurocêntricas em território nacional.
O que dá robustez à interpretação de que o Brasil, enquanto Estado, País, Pátria e Estado, foi concebido sob a instituição do estupro, do sexo violento, da miscigenação coercitiva (…), da mistura étnica mais abusiva do que consentida.
E que, pela perspectiva do olhar masculino europeu, lançou as bases dos estereótipos e fetiches sexo-pejorativos e sexo-infames associados às mulheres nativas e de descendência africana em terras tropicais.
As mazelas deste início questionável da civilização brasileira podem ser sentidas nas investidas do “turismo sexual” europeu, que ainda assola a costa brasileira de norte a sul do país, em pleno século 21.
No tocante às mulheres negras, entendo que nós homens (principalmente os homens negros) precisamos nos alinhar à luta delas, naquilo em que elas entenderem ser o nosso melhor tipo de apoio, para que construamos uma comunidade forte, representativa, coesa, unida e vitoriosa, a partir da blindagem da dignidade e do valor intrínseco de cada uma das nossas meninas, moças, mulheres e anciãs do nosso eixo étnico. Manos, mãos à obra. Já passou da hora!

*****
Extraído de http://www.mundonegro.inf.br/

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 7

Até quando o planeta vai durar?
Especial para o Humanitas
Ana Maria Leandro - uma das principais colaboradoras do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Fico pensando no que é que ficamos esperando a cada fim de ano.
Um “novo ano”? O planeta formou-se há 4,56 bilhões de anos e a vida surgiu na sua superfície um bilhão de anos depois.
É incrível como o homem não percebe que o poder de mudanças na própria vida está nele mesmo. Aliás, muitas das mudanças da natureza acontecem, muito mais por consequência dos próprios desatinos do homem.
Encharca o mar de quinquilharias e não quer que ele as devolva em fortes marés; mata os peixes e tira assim outra fonte de alimentação, quando se a espécie fosse usada apenas dentro da cadeia alimentar natural, não se extinguiria.
Faz escavações de minas para extração de minérios e depois se vê assolado pelo derrame das terras que as continham, invadindo rios e mares e exterminando seres vivos aquáticos e terrestres. Canaliza rios e se vê inundado por arrebentações de canais em épocas de cheias.
Entope o ar natural com uma infinitude de gases artificiais, e depois reclama de males da saúde e das dificuldades respiratórias... 
Bem! Impossível conseguir falar de “todas as mudanças” que o homem provoca, por irresponsabilidade, por ganância financeira, por ignorância das reações da natureza!
Mesmo assim, vamos às praias jogar “flores a Iemanjá” para que ela nos dê mais prosperidade para o novo ano.
Ao que parece, se ela existe, parece que não gosta de flores. Nem que sujem o mar...
E se algum pedido feito em nome dela foi realizado, podem ter certeza; foi por ação do próprio ser humano.
O “calendário humano” foi escrito por “seres humanos”.
A natureza não faz calendário, ela mantém a terra girando em torno do sol.
A Terra vai variando ângulos entre dias e noites, exatamente por esse efeito giratório.
A noite não é mais perigosa que o dia em função da natureza, mas em função do homem, quando usa as trevas para nela se esconder e praticar atos ilícitos.
E hoje poderá ser melhor ou pior do que amanha, depende do que fazemos no agora.
Sementes plantadas sempre vicejam os frutos de sua espécie.
E os fantasmas? Bem, os fantasmas somos nós mesmos, criados em nossas mentes.
Neste aspecto, considerando-se que o homem faz parte da natureza, aí então sim, sua natureza pode criar o que quiser, inclusive “monstros”, que o assolam por razões de uma mente que tem medo de si mesm e do que é capaz de fazer. E muitas vezes o faz...
Não há, ainda, condições de previsão do fim “deste nosso pequeno planeta”.
A ciência considera que é possível um fim naquilo que envolve um ou vários planetas.
A Terra é apenas um pedaço da explosão que ocorreu há mais de 4,56 bilhões de anos, portanto, nada absurdo considerar que de novo podemos ter uma terra se estilhaçando num novo “big-bang”. Preocupados com isso já existem terráqueos procurando um jeito de irem para outro planeta (“projeto Mars One ou Marte Um”).
A ciência diz que guerra nuclear, pandemia viral, mudança climática: a suposta profecia maia do fim do mundo não será cumprida, mas o Apocalipse já começou e a agonia será lenta, alertam os cientistas. "A idéia de que o mundo acabará subitamente, por uma causa qualquer, é absurda", declarou David Morrison, cientista da NASA e especialista da vida no espaço. Mas enquanto estamos aqui, melhor que procurássemos nossa transformação interior, aquela que pode ser menos egoísta, mais unida e solidária uns com outros.
Necessitamos de vivência melhor na Terra e nosso planeta só será um lugar bom se tomarmos consciência disto.
Excesso de abastança para uns, enquanto outros passam fome é, sem dúvida, o mal que somente nós, seres humanos, podemos resolver com uma consciência mais igualitária, pois o fim será o mesmo para cada um de nós.

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 6

A intolerância religiosa leva o homem à barbárie

Especial para o Humanitas
Rafael Rocha jornalista, poeta e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

A intolerância religiosa é um dos problemas mais delicados de hoje no mundo.
O fanatismo religioso está entranhado no cérebro de milhões de pessoas o que faz com que elas realizem verdadeiras guerras umas contra as outras, em nome de qualquer deus ou religião, como se com isso possam estabelecer qual deus e qual religião “têm razão”.
A questão é complicada e termina por levar o ser humano à barbárie, na medida em que são colocadas em jogo a consciência humana e as crenças.
Na realidade, existe uma grande falta de bom senso e de respeito mínimo à diversidade e à livre escolha, e isso cria e fortalece situações de caos e violência em todos os lugares do mundo, e também no Brasil.
Tais fatos são decorrentes de divergências que levam um ser humano, inconformado com a consciência e a crença de outro ser humano, a tentar impor a sua própria consciência e crença. Um fato absurdo e sem razão.
Uma ação que ofende a liberdade fundamental de cada pessoa.
A Constituição do Brasil, em seu artigo 5º, inciso VI, diz que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias.
Os cultos religiosos de matriz africana são considerados como os mais discriminados no Brasil, ainda que existam leis específicas na Carta Magna a proteger seus seguidores, tal como a Lei nº 12.288/2010 (“Estatuto da Igualdade Racial”).
O legislador preocupou-se em resguardar as liberdades de cada indivíduo, inclusive com relação às diferenças humanas de consciência e de crença. Também se preocupou em combater a disseminação do ódio entre as pessoas, fundado em intolerância religiosa, tal como consta na Lei nº 11.635/07 que ainda instituiu o dia 21 de janeiro como o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”.
Todas as pessoas e suas respectivas religiões e os sem religião merecem proteção e respeito, mas o que se nota em nosso país é um fundamentalismo cristão, defendido pelas igrejas cristãs neopentecostais, a caminhar na senda da intolerância, adotando uma postura de violência contra quem não segue as suas doutrinas.
Portanto, se for para seguir ao pé da letra o que diz a Constituição da República Federativa do Brasil ou a legislação que assegura a liberdade de crença religiosa às pessoas, devemos levar em conta que, além de proteção e respeito às manifestações religiosas, a laicidade do Estado deve ser buscada, afastando a possibilidade de interferência de correntes religiosas em matérias sociais, culturais e políticas etc.
Todos os livres pensadores têm o dever de estar nessa luta de aperfeiçoamento da tolerância às diferenças, pois isso é uma ação indispensável no regime democrático.
Fazendo valer a laicidade do Estado estaremos preservando direitos humanos fundamentais.
Desde a chegada dos portugueses ao Brasil que existe a intolerância religiosa.
Exemplo disso foi a clara intenção dos colonizadores lusitanos de converter, à força, os índios e os escravos ao catolicismo.
Ao longo dos séculos essa ideia parece ter sido perpetuada, tanto que na selva amazônica ainda existem grupos de evangelizadores catequizando índios e ajudando a que estrangeiros ocupem suas terras, com o apoio do fundamentalismo neopentecostal, que se prepara aos poucos para tomar o poder no Brasil, fato que pode levar o nosso país a regredir cultural e politicamente.
O combate à intolerância tem de receber apoio de setores os mais diversos da sociedade organizada.
É preciso que exista uma imprensa ativa e nunca manipuladora, canais de participação e de acesso às denúncias feitas pela sociedade e nas escolas públicas uma educação religiosa de cunho científico.
Essa educação religiosa nas escolas brasileiras não pode ser entregue às igrejas e às seitas particulares.
Deve, sim, ser um assunto de caráter científico, que transmita ideias vindas dos resultados de estudos. E que esses estudos das religiões que existem e que existiram no planeta desde séculos sejam honestos, para conhecer e saber quais os dogmas e o que pregam seus dirigentes e seguidores.
Nada de catequese! Nada de lavagem cerebral! 

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 5

O poder sexual como ferramenta de libertação

Especial para o Humanitas
Texto extraído de   www.thomasdetoledo.blogspot.com.br
Thomas Henrique de Toledo Stella é professor e  historiador. Mora  em São Paulo/SP

Todos sabem que vivemos em um mundo doente, mas muito poucos conseguem identificar que a causa desta doença está na forma como as religiões monoteístas e o capitalismo ensinaram as pessoas a lidarem com o sexo e a sexualidade.
A energia sexual é a força mais poderosa que o ser humano possui e ela é a responsável por toda a vida existente no planeta. Aqueles que aprendem a utilizar esta energia são bem sucedidos, resolvidos consigo mesmo, por que aprenderam a lidar com o próprio poder pessoal.
Diferente do que ensinam, o poder não corrompe, o que corrompe é exatamente a falta de poder, que leva as pessoas a criarem barreiras, mecanismo de autodefesa e muralhas sentimentais para esconder os traumas vividos na infância e na adolescência. Esta falta de empoderamento pessoal torna as pessoas vulneráveis e guiadas para seguirem o que consciências externas lhe ordenam, objetivando tornarem-nas funcionais aos interesses religiosos e econômicos.
As religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo) consideram o sexo como uma depravação e, visando impor o patriarcado, reprimiram brutalmente a sexualidade feminina. O patriarcado tem um sentido histórico claro: a manutenção da propriedade privada dos meios de produção sob o controle masculino. Com isto, não apenas as mulheres foram proibidas de tomar contato com seu poder sexual, como o homem foi obrigado a reprimir qualquer vestígio de sua energia feminina. Energias masculina e feminina não se resumem à sexualidade.
Homens e mulheres possuem seus lados femininos e masculinos, mas ambos são obrigados por fatores culturais a serem masculinizados e se relacionarem de forma prática, objetiva e agressiva.
Ou seja, de forma masculina.
Assim, da repressão sexual religiosa, desponta-se o outro extremo da alienação sexual, que é a pornografia e o sexo mecânico, vulgar, baseado unicamente no visual e no objetivo final da ejaculação.
A pornografia encontra no funk sua reificação: o sexo é praticado de forma automática, como se fosse realizado na linha de produção de uma fábrica, no típico estilo de “Tempos Modernos”.
Ou seja, como tudo o que o capitalismo produz, o sexo é transformado em mercadoria na qual a mulher é simplesmente um objeto a ser perseguido para satisfazer os níveis mais básicos de prazer.
Há níveis muito mais elevados de se trabalhar de forma expansiva a energia sexual, que não se resumem ao roteiro hollywoodiano de sedução-conquista-penetração-gozo.
A busca pelo orgasmo através do simples bombeamento do falo é um modelo perverso de limitação do poder pessoal e de mecanização sexual.
O sexo poderoso e sublimador precisa de magia e encanto e para isto há muitas ferramentas como o olhar, a respiração, os toques em diferentes níveis e os distintos graus de contato, em busca dos pontos de liberação de energia.
Mas para se alcançar este nível de maturidade, é preciso integrar, independentemente da orientação sexual, as polaridades masculina e feminina, tanto no homem quanto na mulher, rompendo padrões de preconceito social e historicamente impostos.
Quando se deixa a dicotomia repressão sexual x pornografia, redescobre-se o sexo como a fonte de energia para todas as tarefas práticas e objetivos de vida.
As fantasias e desejos sexuais estão associadas a traumas e momentos de alegria vividos, pois elas são formas de se abstrair e sublimar experiências. Quando se pratica o sexo sadio, consciente e sagrado, tudo isto é compreendido e os obstáculos que prejudicaram a evolução pessoal passam a ser olhados com compaixão e amor, resultando na cura.
Deste modo, se integra a experiência dolorosa à história pessoal de forma respeitosa, compreendendo que o caminho do guerreiro é de vencer a si mesmo, antes de tudo. Por isto, hoje compreendo por que o Tantra é chamado de a suprema consciência.
A cura do planeta e de todos os seres humanos está no reconectar ao caráter sagrado do sexo como ferramenta de poder pessoal, autoconhecimento e evolução pessoal.
Mas isto exige, acima de tudo, romper com as crenças arraigadas impostas pela religião e pelo sistema, que sempre objetivaram tornar os seres humanos cativos a seus projetos de poder. Libertem-se e deixem fluir o poder da vida! Conheçam os mistérios milenares do Tantra.

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 4

O neurocirurgião que acha que 
não precisa do seu córtex cerebral
Texto extraído de http://www.suzanaherculanohouzel.com/

Especial para o Humanitas
Suzana Herculano-Houzel é uma neurocientista brasileira. Atua no Rio de Janeiro/RJ

O neurocirurgião norte-americano Eben Alexander III, acometido de uma meningite bacteriana, passou uma semana em coma, quase morreu.
Mas ficou para a contar a história de suas experiências extracorporais durante o coma, no livro “Uma Prova do Céu”.
O pequeno detalhe, que o colocou no programa Fantástico da TV Globo, e na lista dos livros mais vendidos, é que ele, convencido de que seu córtex cerebral estava “inoperante” durante a semana de experiências em coma, concluiu que “o cérebro não é necessário para a consciência”.
Eu li o livro todo (sou responsável pela revisão técnica da edição brasileira) e acho o relato dele muito interessante, importante, digno de livro e público - mas a interpretação dele é toda dependente de uma falácia gigantesca, enorme, colossal: a de que o “córtex dele estava morto” - como é que ele diz, mesmo? Silenciado, inoperante.
O problema é que ele não oferece “NENHUMA EVIDÊNCIA” no livro de que o córtex cerebral dele esteve de fato inoperante durante o coma. Não há qualquer menção a um “EEG”, por exemplo, que seria trivial de fazer, ou qualquer outro teste para avaliar o funcionamento de seu córtex enquanto sua mente vagava pelo “céu”.
O neurocirurgião simplesmente presume que, como estava em coma infeccioso, seu córtex estava “inoperante” - e que por isso suas experiências mentais durante o coma seriam “prova de que o córtex não é necessário para a consciência”
Ao contrário da sua conclusão sem qualquer base, comprovação ou fundamentação lógica, a explicação mais fácil e simples para tudo o que ele descreve é que justamente o córtex cerebral dele esteve, sim, funcional durante o coma, ainda que de maneira capenga e certamente prejudicada pela meningite - o que explicaria todas as experiências durante o coma. 
Não tenho qualquer ressalva a fazer a respeito das experiências que ele descreve. Acho importante sabermos que é possível haver experiências mentais durante um coma, sobretudo dado que hoje é conhecido que o coma não é uma coisa só, mas um estado temporário que pode ter origens e causas diversas, inclusive ainda com atividade cortical (há vários estudos a respeito - entrem no PubMed e busquem-nas).
Não há nada no livro que comprove que o Dr. Alexander tenha ou não tido contato com “o além”, mas esse não é o ponto importante aqui. Algumas pessoas gostarão da história e se identificarão com ela, o que é ótimo.
O problema, que fere todas as iniciativas de divulgação e educação do público sobre a neurociência, é que o autor joga qualquer espírito científico para o alto ao escolher forçar a mão e usar sua “autoridade de neurocirurgião” para concluir, sem qualquer evidência que sim ou que não, que seu córtex cerebral estava “completamente inoperante”, e portanto que o cérebro não é necessário para a consciência.
Se esse cirurgião tivesse recebido um pingo de formação em ciência, ele teria exigido de si mesmo algum teste de suas funções corticais antes de sair espalhando aos quatro ventos que tem a “prova científica” de que (1) “o céu existe” e (2) “a consciência não depende do córtex cerebral”.
Para ficar claro: depende, sim. Ou anestésicos que modificam a atividade do cérebro não seriam anestésicos. Ou a falta de oxigênio não levaria ao desmaio. Ou lesões do cérebro não teriam consequências imediatas e graves para a atividade mental.
Ou o neurocirurgião não teria sequer entrado em coma por conta de sua meningite... Por fim: você aceitaria ter seu cérebro operado por um neurocirurgião que está agora convencido de que seu córtex pode ser danificado, ou mesmo totalmente lesionado, sem nenhuma consequência, porque ele “não é necessário para a consciência”? Eu certamente não!
********
PS. Se vocês olharem o expediente da edição brasileira da Sextante, verão meu nome como revisora técnica do livro. Por que aceitei fazer a revisão, se tenho essa crítica gigantesca ao livro? Aceitei porque acredito na liberdade de opinião e sei que muitas pessoas gostariam de ler a história desse neurocirurgião que agora acha que não precisa do seu córtex para ter consciência. Então quis contribuir para que a história chegasse até os leitores sem problemas técnicos na tradução. Só isso.
..............................................
NOTA DO EDITOR


Uma rede de TV brasileira exibiu algo sobre “vida após a morte”, focando o tema com as ideias do neurocirurgião Eben Alexander III, cujo livro sobre sua experiência de “quase morte”, lançado em 7 de outubro de 2014, se tornou best-seller.  Na sua fanfarronice o autor do livro diz que morreu, foi ao céu, viu os anjos e depois ressuscitou. O neurocirurgião ainda vai mais longe: faz pregação, fala em demônios, paraíso, e se mete no espaço e na física quântica, com descabidas divagações. O livro do Dr. Eben Alexander III é intitulado “Proof of Heaven: A Neurosurgeon's Journey into the Afterlif”" - ou “Provas da Existência do Paraíso: A Jornada de um Neurocirurgião na Vida Após a Morte”.  Esta sandice foi refutada pelo sério neurologista e escritor anglo-americano Oliver Wolf Sacks, renomado professor de neurologia e psiquiatria na Universidade de Columbia; assim como por Sam Harris, filósofo e neurocientista americano e pela comunidade científica. Mas o cara continua faturando em cima de um rebanho de ovelhas ingênuas e vulneráveis que, iludidas, esperam pelo que chamam de Boa Nova.

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO
POETA DO MÊS

ARTUR AZEVEDO - Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís/MA, em 7 de julho de 1855, e faleceu no Rio de Janeiro/RJ, em 22 de outubro de 1908. Figurou, ao lado do irmão Aluísio Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira nº 29, que tem como patrono Martins Pena. Foi um dos grandes defensores da abolição da escravatura, em seus artigos de jornal, em cenas de revistas dramáticas e em peças.  Entre suas obras tem destaqueA Capital Federal”,  “A Moça mais Bonita do Rio de Janeiro” e outras.
.........................

Lágrimas
Francisca Clotilde – Fortaleza/CE

Chora a noite sentida a lágrima tremente
Do orvalho que aviventa a flor abandonada.
Da estrela cai na terra a luz meiga e dourada,
O pranto do infinito em gota aurifulgente.

E o velho mar que anseia, o velho mar fremente
Com zelo vai guardar na concha nacarada
As bagas que arrancou-lhe a dor amargurada,
Irisando-as da luz na pérola nitente!

Tudo adoece enfim!... Tudo chora e se queixa,
Da brisa o ciciar tem, às vezes, da endeixa
A mágoa dolorida e o tristonho dulçor.

O regato suspira... Há soluços nas águas,
A palmeira estremece e um concerto de mágoas
A saudade mistura aos idílios do amor!
......................
Canção do exílio
Mário da Silva Brito – São Paulo/SP

Com a palavra construo um reino
e nele impero sem lei.
Neste mundo, que com o mundo
confina, sou senhor e servo.

No meu reino de luz e sombra
a palavra, vinda do caos,
fulge em brilho solitário
– solitário sol sem solo.

Busco a palavra, não o senso
(certo perdeste o senso!):
sarcófago pode ser amor
e amor quer significar morte.

Rodeado de palavras estou
– falsas palavras do mundo.
Entre o dicionário e o verbo
escolho uma gleba secreta.

Envolto de lustral amplidão,
cercado de nuvens e flores,
sou exilado e sou imperador,
sou Deus esculpindo o barro.
............................
CARTAS DOS LEITORES

A divulgação da verdade está nas mãos dos livres pensadores. Lamento que este pequeno jornal, grande no conteúdo, ainda não seja acatado no país como divulgador da verdade. A verdade deve ser conhecida e repassada, inclusive as mentiras religiosas e políticas. Falo por mim e pelos meus amigos que leem o HUMANITAS. Ainda que o formato seja pequeno este jornal tem a capacidade de ser grande e trazer belos artigos de pensadores humanistas. Parabéns a todos que fazem o HUMANITAS. Que esta publicação ultrapasse o tempo de sua história e continue a incutir na cabeça de seus leitores a verdade, nada mais que a verdade. Silvio Carlos de Oliveira – Fortaleza/CE
***
Espetacular o HUMANITAS! – Pedro Rodrigues Arcanjo – Olinda/PE

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PÁGINA 2

EDITORIAL

Concepção por estupros

O Brasil é um país de mestiços.
Tal como diz nossa historiografia, nós somos descendentes de três etnias, a branca europeia, a indígena (natural da terra) e a africana.
Tudo isso nos remete a uma questão de gênero, pois as mulheres indígenas e as africanas não tiveram opção de escolha quanto aos seus parceiros sexuais homens, e muito menos no que tange à concepção de seus filhos.
As africanas e as indígenas foram estupradas pelo colonialista europeu branco, sendo obrigadas a trazer ao mundo os filhos resultantes desses estupros. Essa é uma verdade incontestável.
Mulheres indígenas e mulheres negras, todas foram capturadas e “domesticadas” para que pudessem servir ao apetite sexual e às taras dos brancos ricos.
Depois, as três etnias se miscigenaram. Porém, apenas uma delas tornou-se prevalente: a do homem branco, cujo poder estava ligado à força e ao fator ideológico. A cultura do homem branco aculturou os valores das culturas dominadas.
Portanto, nós, brasileiros, somos descendentes das três etnias citadas, a partir das relações sexuais forçadas e violentas de homens brancos com mulheres negras e índias.
Não existe exagero algum quando afirmamos que nossos antepassados foram gerados por estupros consumados pela força física, pela força das armas e pela força do poder político-econômico-cultural.
Mostramos isso na PÁGINA 8 deste HUMANITAS, em artigo do professor Durval Arantes, onde ele ainda salienta que “as mazelas deste início questionável da civilização brasileira podem ser sentidas nas investidas do turismo sexual europeu, que ainda assola a costa brasileira de norte a sul do país, em pleno século 21”.
.......................
Apologia do medo – Especial do HUMANITAS

As pessoas esbravejam que têm fé! Gritam que acreditam em Jesus! Qual o motivo? Simples: no livrinho preto e mágico que elas dizem ser sagrado está escrito que se não acreditarem vão para o inferno depois que morrerem e lá passarão o resto da eternidade.
Isso se chama “APOLOGIA DO MEDO”!
Assim, esse povo medroso sai às ruas para encher o saco dos outros para que esses outros passem a acreditar nas mesmas sandices. Por quê?
Porque no tal livrinho sagrado existe a ordem: “elas têm que evangelizar, senão vão para as profundezas do fogo eterno”. Tais pessoas evangelizadoras são egoístas. Usam do apelo sentimentaloide “por que você não acredita em meu deus? Ele é bonzinho e oferece muito”. Essas pessoas têm que manter viva a crença, de forma que não descubram que são um bando de alienados.
Realmente, elas são idiotas e alienadas, mas não querem que os outros saibam disso. Depois de muita conversa fiada com a outra ou as outras pessoas, sempre terminam dizendo “arrependam-se” ou, ainda, “estarei orando por vocês”.
Alguém diz que viu alguém ser curado com a força da fé e repassa isso para o outro. Aquele que recebeu o repasse também repassa, como num jogo coletivo de futebol ou de basquete: “toma a bola que é tua e dá o passe”. Mas provar o milagre ou a cura é que é difícil. Evidências! Evidências! Onde elas estão? Na crença? Na fé?
Cada pessoa pode acreditar no que quiser. Não temos nada com isso! Mas quando aparece um idiota ou um alienado dizendo que o homem nasceu há 6 mil anos através de um punhado de barro moldado por um deus tribal criado por um bando de pastores da Idade do Bronze...
Isso irrita! As pessoas que propagam isso são alienadas, interesseiras, “medrosas”, e, quiçá, “loucas”. Mas acreditamos que loucura tem hora e dia para acontecer, e fazer com que o outro também fique louco é crime.
Creia no que quiser, mas guarde para si. Por mais estapafúrdia que seja sua crença, procure não causar mal a ninguém com ela. Seja responsável. Acredita que um deus possa lhe salvar se você pular do alto de um edifício? Então pule e saia voando pelo espaço, faça um vídeo sobre isso. “E aterrisse ileso”. Talvez assim possamos acreditar no poder de seu magnânimo deus.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

HUMANITAS Nº 55 – JANEIRO/2017 – PRIMEIRA PÁGINA

O BRASIL FOI FECUNDADO VIOLENTAMENTE
NOS VENTRES DAS INDÍGENAS E DAS AFRICANAS
- A concepção do povo brasileiro ocorreu através de estupros e do sexo abusivo –

O professor Durval Arantes
diz na PÁGINA 8 que pelo menos em 200 anos da História do Brasil,
as  mulheres indígenas e as africanas foram violentadas e estupradas pelos colonizadores portugueses e que as mazelas do início da civilização brasileira podem ser sentidas nas investidas do turismo sexual europeu, que ainda assola a costa brasileira, de norte a sul, em pleno século XXI.
............................................
21 de janeiro é o Dia Nacional de Combate à Intolerância
Religiosa. Leia artigo na
PÁGINA 6, do jornalista
 Rafael Rocha
***
O poder sexual como ferramenta de libertação é o tema do professor Thomas de Toledo,
na PÁGINA 5
................................
O Humanitas deseja aos leitores
e colaboradores que o
ano de 2017 seja repleto de conquistas
***
Na PÁGINA 4 a neurocirurgiã Suzana Herculano-Houzel
fala sobre o livro do também neurocirurgião
Eben Alexander III

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

HUMANITAS Nº 54 – DEZEMBRO 2016 –PÁGINA 8

Natal, Papai Noel, Jesus Cristo e ateus

Especial do Humanitas

Quando buscamos a verdadeira história do natal, acabamos diante de rituais e deuses pagãos. Sabemos que Jesus Cristo foi colocado como “penetra” numa festa que nada tinha a ver com ele.
Afinal de contas, não existem provas de que tal indivíduo existiu e muito menos que nasceu em um 25 de dezembro.
O verdadeiro simbolismo do natal oculta uma história das mais antigas criada pelo homem. A festa tem origem no que chamam de paganismo.
Era um dia consagrado à celebração do “Sol Invicto”. O Sol é representado pelo deus greco-romano Apolo, e seus equivalentes entre outros povos pagãos são diversos: “Ra”, o deus egípcio; “Utudos”, na Babilônia; “Surya” da Índia; e também “Baal” e “Mitra”.
“Mitra” era um deus muito apreciado pelos romanos. Aureliano (227-275 da Era Comum), imperador de Roma, estabeleceu no ano de 273 da Era Comum, o dia do nascimento do Sol em 25 de dezembro “Natalis Solis Invicti”, que significava “Nascimento do Sol Invencível”. 
O Império Romano passou a comemorar nesse dia o nascimento de “Mitra Menino”, deus indopersa, que, segundo diz a lenda, ao nascer foi visitado por reis magos e presenteado com mirra, incenso e ouro.
Era também nessa noite o início do Solstício de Inverno, segundo o Calendário Juliano, que seguia a “Saturnália” (17 a 24 de dezembro), festa em homenagem a outro deus chamado “Saturno”.
Essas festividades pagãs estavam arraigadas nos costumes populares desde tempos imemoriais até serem suprimidas com o advento do cristianismo, imposto (através de decreto) como religião oficial por Constantino (317-337 da Era Comum), então imperador de Roma. Como antigo adorador do Sol, e influenciado por isso, Constantino fez do dia 25 de dezembro uma festa cristã.
Constantino transformou as celebrações de homenagens à “Mitra”, “Baal”, “Apolo” e outros deuses, na festa de nascimento de “Jesus Cristo”.
Já sobre “Papai Noel”, esse velhote de longas barbas brancas já era capa de revistas, livros e jornais, no final do Século XIX, aparecendo em propagandas do mundo todo.
O personagem foi ganhando várias nuances até que em 1931 a “The Coca-Cola Company” contrata um artista e transforma Papai Noel numa figura totalmente universalizada. Assim, sua imagem terminou por ser adotada como o principal símbolo do natal.
No ateísmo não existe uma figura de deus ou deuses para crer e adorar. Portanto, não faz muito sentido para o ateu festejar o dia 25 de dezembro. Afinal, essa data, hoje, é a do hipotético aniversário de um outro deus imaginário, denominado “Jesus Cristo”.
Então o ateu deve ficar trancado no quarto de sua casa até a data passar? Nada disso!
Para o ateu todo dia deve ser de festa e de homenagem à vida. Assim, o ateu participa da festa de natal pelo mesmo motivo dos cristãos: para comer, beber, cantar, dançar e ficar batendo papo com a família e com os amigos depois da meia-noite.
Por outro lado, o comportamento humano nessa data realça uma tremenda hipocrisia em cerca de 90% das pessoas.
Por que será que nessa época todos ficam tão solidários com os mais necessitados?
Por que será que doam cestas básicas para os pobres e presentes para as crianças órfãs, e, no resto do ano, esquecem que essas pessoas existem?
Em outras palavras a festa de natal é uma festa capitalista onde predomina a hipocrisia.
No mais, tudo é mitologia. Tudo provém das religiões pagãs europeias, anteriores à chegada do cristianismo. 

HUMANITAS Nº 54 – DEZEMBRO 2016 –PÁGINA 7


Mulheres negras lutam contra preconceitos

Especial para o Humanitas

Aline Cerqueira é historiadora e colaboradora deste Humanitas. Mora em Salvador/BA

Desde a escravidão negreira que a marginalização das mulheres negras é evidente. Muitas tiveram suas vozes silenciadas. As práticas de lutas muitas vezes acabam ficando adormecidas nas discussões dentro da sociedade.
Quando pensamos que as mulheres negras foram construtoras de uma luta travada no período mais injusto da sociedade brasileira (a chamada escravidão dos povos africanos no Brasil) vem um chamado ao combate ainda mais forte nos tempos de hoje.  
Diante da construção de liberdade travada a sangue, e o desejo por uma sociedade mais justa e livre de opressão é que podemos compreender a importância do povo negro no Brasil, sobretudo das mulheres que tiveram um papel de guerreiras e libertárias diante do sistema opressor.
Como exemplo, temos Dandara, esposa de Zumbi dos Palmares, rainha, mãe e guerreira, porém muitos outros nomes foram negligenciados pela historiografia brasileira. Os livros didáticos não citam o papel das mulheres negras na construção da liberdade no país. Além disso, a mídia e muitos canais de informação não mostram quais foram as que conseguiram guerrear com todas as suas forças contra a opressão.
Parafraseando Pierre Bourdieu “a raiz da violência simbólica estaria deste modo presente nos símbolos e signos culturais, especialmente no reconhecimento tácito da autoridade exercida por certas pessoas e grupos de pessoas”.
A maneira como foram conduzidos os debates na sociedade brasileira contribuiu ao longo dos anos para a exclusão social, ficando claro o quanto o papel da mulher negra na sociedade ainda sofre imposições e normas comportamentais.
As pessoas foram habituadas a acatar uma sociedade branca e até hoje creem no mito de um Brasil cordial e miscigenado. No entanto, o que realmente prevalece é a herança europeia de superioridade.
O mito da democracia racial foi bem construído por cientistas sociais como Gilberto Freire, e perpetuado pela mídia brasileira que sempre deu destaque à cultura branca.
A sociedade brasileira continua a criar um estereótipo errôneo ao mostrar o branco como referência no meio social.
Se tivermos senso de justiça percebemos logo como se apresenta o papel da mulher negra na sociedade brasileira.
A sua participação na política e nos meios midiáticos é negligenciada século após século.
Mesmo com os acessos de muitos negros às universidades brasileiras e com trabalhos de destaque nas últimas décadas, continuamos a conviver com o racismo.
Ainda existe a tendência de enxergar o negro como ser inferior, sob a alegação de que muitas pessoas negras estão em postos de trabalho que não correspondem ao seu lugar na sociedade.
Quem assim pensa acha que o lugar “reservado” ao negro na sociedade brasileira é o da exclusão social e o da “vida de servir”.
Tais condições foram construídas e perpetuadas ao longo dos séculos por uma elite branca e racista que se acha no dever de dar uma continuidade ao legado da casa grande.
A escravidão deixou marcas profundas e o não aceitamento da cultura africana e da sua religião são provas cabais de que existe uma supremacia branca. O superior (branco) e o inferior (negro) são justificados nas ações cotidianas. Isso está perceptível em nossa sociedade.
À medida em que as ideias dos movimentos de mulheres e dos movimentos negros vão avançando, a visão estereotipada da mulher negra  na sociedade está sendo contraposta, surgindo, assim, expressões de valorização e de reconhecimento para desmistificar conceitos preconceituosos. Vale lembrar como exemplo a luta pelos direitos civis dos movimentos feministas no Brasil.
As mulheres negras precisam ser ouvidas, a fim de que possam falar de seus medos, angústias, frustrações e conquistas ao longo da sua caminhada como entes organizados na luta contra o racismo. A fala coletiva tem de ressoar, rompendo o silêncio e revelando seus sentimentos, o que possibilita encontrar alternativas e coragem para enfrentamento dos conflitos.
Elas são protagonistas de muitos combates travados com o propósito de mudança social e pretendem ser protagonistas da história, lutando por seus direitos e buscando liberdade para construir uma sociedade mais justa, onde todos possam viver em qualquer espaço sem que seus sonhos sejam destruídos.