Brasil: um país fundado
no ventre de mulheres
nativas e africanas
Especial para o Humanitas
Durval Arantes é professor e autor do livro O Último
Negro – Editora Vermelho Marinho.
Mora em São Paulo/SP
Ele era da “principal
nobreza de Viana do Castelo” (Portugal); ela, filha de um cacique
tupinambá…
Diogo Álvares Corrêa foi um explorador português que
sobreviveu a um naufrágio, na costa do litoral baiano, por volta do ano de
1510. Já habitante entre os nativos, passou a ser chamado de “Caramuru”.
Foi, muito provavelmente, o primeiro homem europeu a
constituir um casal extra-étnico em terras brasileiras.
O Brasil foi “descoberto”
no ano de 1500 (outra balela eurocêntrica, pois os núcleos populacionais
aqui encontrados pelos colonizadores já habitavam o território brasileiro havia
pelo menos 9 mil anos!).
A vinda de mulheres europeias de forma sistemática só se
consolidou a partir do ano de 1550, na época em que Tomé de Sousa foi nomeado o
primeiro governador do Brasil. Ainda assim, eram em número muito baixo as
moçoilas de Portugal, educadas sob as premissas e o rigor dos tabus dogmáticos
do catolicismo.
Nos primeiros anos da exploração europeia sobre o Novo
Continente, o deslocamento entre a costa oeste africana e a costa leste do
Brasil durava de 35 a
40 dias e as tripulações eram compostas exclusivamente por homens. Ao
desembarcaram em terras novas, os navegantes estavam ensandecidos pela
abstenção sexual e, diante da visualização da nudez natural de meninas, moças e
mulheres indígenas, é possível especular sobre os horrores passados pelo
contingente feminino habitante dos novos territórios encontrados.
As primeiras embarcações dos navios tumbeiros trazidos da
África começaram a chegar ao longo da costa brasileira por volta de 1526.
Isso significa considerar que as meninas, moças e mulheres
africanas eram estupradas e violentadas rotativamente (ou seja por mais de um
membro de uma mesma tripulação) por mais de um mês em alto mar.
E (se sobrevivessem ao infortúnio), passavam a ser violadas
também em terra firme, após serem vendidas como mercadorias nos leilões
escravagistas da época.
Seguramente este cenário deve ter se mantido razoavelmente
no mesmo padrão por pelo menos uns 200 anos da História do Brasil, ou seja,
mesmo após o estabelecimento consolidado das mulheres eurocêntricas em
território nacional.
O que dá robustez à interpretação de que o Brasil, enquanto
Estado, País, Pátria e Estado, foi concebido sob a instituição do estupro, do
sexo violento, da miscigenação coercitiva (…), da mistura étnica mais abusiva
do que consentida.
E que, pela perspectiva do olhar masculino europeu, lançou
as bases dos estereótipos e fetiches sexo-pejorativos e sexo-infames associados
às mulheres nativas e de descendência africana em terras tropicais.
As mazelas deste início questionável da civilização
brasileira podem ser sentidas nas investidas do “turismo sexual”
europeu, que ainda assola a costa brasileira de norte a sul do país, em pleno
século 21.
No tocante às mulheres
negras, entendo que nós homens (principalmente os homens negros) precisamos nos
alinhar à luta delas, naquilo em que elas entenderem ser o nosso melhor tipo de
apoio, para que construamos uma comunidade forte, representativa, coesa, unida
e vitoriosa, a partir da blindagem da dignidade e do valor intrínseco de cada uma
das nossas meninas, moças, mulheres e anciãs do nosso eixo étnico. Manos, mãos
à obra. Já passou da hora!
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Extraído de http://www.mundonegro.inf.br/
Extraído de http://www.mundonegro.inf.br/
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