Mulheres negras lutam
contra preconceitos
Especial para o Humanitas
Aline Cerqueira
é historiadora e colaboradora deste Humanitas. Mora em Salvador/BA
Desde
a escravidão negreira que a marginalização das mulheres negras é evidente.
Muitas tiveram suas vozes silenciadas. As práticas de lutas muitas vezes acabam
ficando adormecidas nas discussões dentro da sociedade.
Quando
pensamos que as mulheres negras foram construtoras de uma luta travada no
período mais injusto da sociedade brasileira (a chamada escravidão dos povos
africanos no Brasil) vem um chamado ao combate ainda mais forte nos tempos de
hoje.
Diante
da construção de liberdade travada a sangue, e o desejo por uma sociedade mais
justa e livre de opressão é que podemos compreender a importância do povo negro
no Brasil, sobretudo das mulheres que tiveram um papel de guerreiras e
libertárias diante do sistema opressor.
Como
exemplo, temos Dandara, esposa de Zumbi dos Palmares, rainha, mãe e guerreira,
porém muitos outros nomes foram negligenciados pela historiografia brasileira.
Os livros didáticos não citam o papel das mulheres negras na construção da
liberdade no país. Além disso, a mídia e muitos canais de informação não
mostram quais foram as que conseguiram guerrear com todas as suas forças contra
a opressão.
Parafraseando
Pierre Bourdieu “a raiz da violência
simbólica estaria deste modo presente nos símbolos e signos culturais,
especialmente no reconhecimento tácito da autoridade exercida por certas
pessoas e grupos de pessoas”.
A
maneira como foram conduzidos os debates na sociedade brasileira contribuiu ao
longo dos anos para a exclusão social, ficando claro o quanto o papel da mulher
negra na sociedade ainda sofre imposições e normas comportamentais.
As
pessoas foram habituadas a acatar uma sociedade branca e até hoje creem no mito
de um Brasil cordial e miscigenado. No entanto, o que realmente prevalece
é a herança europeia de superioridade.
O
mito da democracia racial foi bem construído por cientistas sociais como
Gilberto Freire, e perpetuado pela mídia brasileira que sempre deu destaque à
cultura branca.
A
sociedade brasileira continua a criar um estereótipo errôneo ao mostrar o
branco como referência no meio social.
Se
tivermos senso de justiça percebemos logo como se apresenta o papel da mulher
negra na sociedade brasileira.
A
sua participação na política e nos meios midiáticos é negligenciada século após
século.
Mesmo
com os acessos de muitos negros às universidades brasileiras e com trabalhos de
destaque nas últimas décadas, continuamos a conviver com o racismo.
Ainda
existe a tendência de enxergar o negro como ser inferior, sob a alegação de que
muitas pessoas negras estão em postos de trabalho que não correspondem ao seu
lugar na sociedade.
Quem
assim pensa acha que o lugar “reservado” ao negro na sociedade
brasileira é o da exclusão social e o da “vida de servir”.
Tais
condições foram construídas e perpetuadas ao longo dos séculos por uma elite
branca e racista que se acha no dever de dar uma continuidade ao legado da casa
grande.
A
escravidão deixou marcas profundas e o não aceitamento da cultura africana e da
sua religião são provas cabais de que existe uma supremacia branca. O superior
(branco) e o inferior (negro) são justificados nas ações cotidianas. Isso está
perceptível em nossa sociedade.
À
medida em que as ideias dos movimentos de mulheres e dos movimentos negros vão
avançando, a visão estereotipada da mulher negra na sociedade está sendo
contraposta, surgindo, assim, expressões de valorização e de reconhecimento
para desmistificar conceitos preconceituosos. Vale lembrar como exemplo a luta
pelos direitos civis dos movimentos feministas no Brasil.
As
mulheres negras precisam ser ouvidas, a fim de que possam falar de seus medos,
angústias, frustrações e conquistas ao longo da sua caminhada como entes
organizados na luta contra o racismo. A fala coletiva tem de ressoar, rompendo
o silêncio e revelando seus sentimentos, o que possibilita encontrar
alternativas e coragem para enfrentamento dos conflitos.
Elas
são protagonistas de muitos combates travados com o propósito de mudança social
e pretendem ser protagonistas da história, lutando por seus direitos e buscando
liberdade para construir uma sociedade mais justa, onde todos possam viver em
qualquer espaço sem que seus sonhos sejam destruídos.
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