Patrulhamento
ideológico sobre a atividade docente
Especial para o Humanitas
Paulo
Alexandre é mestre em História. Mora e ensina no Recife/PE
O famigerado Programa Escola
sem Partido é amparado numa absurda justificativa de combate à
ideologização educacional – como se educação fosse uma atividade desprovida de
bases ideológicas – que, contraditoriamente, é amparado em uma perspectiva
ideológica.
Posiciona-se
contra a doutrinação, mas prevê a doutrina da mordaça e o tolhimento da
autonomia da atividade docente.
Claro que fazer apologia partidária,
proselitismo religioso ou militância de movimento político no ambiente
escolar e no processo formativo dos jovens é uma postura digna de críticas e
certamente é uma prática que deve ser coibida pontualmente, quando ocorrer e
quando for devidamente configurada a prática.
Mas o que surge com esse “movimento”
não é isso, e sim uma atuação generalizante de enquadrar ideias e posturas
ideológicas que não agradam aos promotores dessa perspectiva.
Já há efeitos dessa mentalidade em
propostas de criminalização de ideias e, óbvio, de enquadramento de
professores.
A censura estúpida apregoada como postura a ser implantada
e imposta nas escolas virou proposta de alteração da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN) através de um Projeto de Lei do senador Magno
Malta.
Esse projeto é lastreado por justificativas
insustentáveis fora do aspecto meramente opinativo e – obviamente – ideológico
e doutrinário do próprio patrocinador da proposta legal.
Ele contém erros crassos como o emprego da ideia
ultrapassada de “opção sexual” (aludindo ao fato de que professores
podem induzir “opções sexuais”), bem como do princípio de que a
escola deve
promover parâmetros morais e religiosos sob a incrível
alegação de que não há moralidade fora da religião.
Pelo projeto, escolas e professores estarão sujeitos a um
incessante patrulhamento de suas posturas e não apenas de suas atividades por
meio de “julgamentos” fundamentados em parâmetros ideológicos.
Isso é, obviamente, uma contradição absurda se a
alegada proposta de instituir o Programa Escola sem Partido tem como objetivo o
“combate à ideologização”.
Na prática, a proposta gera um ambiente antidemocrático e
limitado para o processo educacional
Não cumpre a falsa promessa de lidar com a
ideologização, uma vez que é claramente ideológico e obscurantista
Já houve um tempo em que o obscurantismo ideológico
vigiava nossas escolas. Não podemos aceitar o retorno disso.
Não podemos impedir que a escola seja um ambiente para a
discussão de ideias, para a valorização e respeito ao amplo espectro
de diversidades, para a construção de tolerância e convivência
construtiva. Esse projeto é o oposto a tudo isso.
Somos contra a instauração da “mordaça educacional”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário