sábado, 22 de fevereiro de 2014

Jornal HUMANITAS nº 20 - Março/2014



OS CLARINS TOCAM! O POVO DO RECIFE ESTÁ NAS RUAS! É FREVO! É CARNAVAL!
É Carnaval! É a festa do povo! Os clarins tocam e o Recife sai às ruas para abraçar o Rei Momo ao som do Vassourinhas, o hino mais autêntico do carnaval pernambucano, frevo da nação recifense. Diferente de todos os demais estados do Brasil, o carnaval de Pernambuco aglutina a população em seus mais diversos ritmos de raiz: frevo, maracatu, caboclinho, samba etc. É o mais participativo carnaval do Brasil. Seja no Recife, Olinda e em outros municípios pernambucanos, o povo sai às ruas, ainda que o governo e a iniciativa privada tentem ditar regras contra a liberdade de expressão popular. Evoé, Baco!
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MÁSCARAS E BEIJO NA BOCA
Genésio Linhares fala neste HUMANITAS de março dos mistérios das máscaras e dos mascarados. De acordo com ele, “no Carnaval, através da máscara a pessoa libera suas loucuras, sarcasmos e ironias, seus desejos mais íntimos e seus outros “eus” que, sem ela, muito provavelmente, não teria coragem de externar”. Também neste HUMANITAS o jornalista Rafael Rocha disserta sobre o beijo na boca durante as festas carnavalescas.

Espionagem: a ferramenta do jogo duplo

Texto de Manfred Grellmann – Camaragibe/PE
publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

Para as agências de espionagem não existem leis, a não ser aquelas criadas momentaneamente pelas suas necessidades e objetivos

Os cidadãos são  enganados porque lhes contam uma “verdade” e o que de fato é feito é a verdade real, porém, oculta. Quando se trata de governos, quase tudo tem semelhanças com um iceberg. O importante, o decisivo está escondido. A espionagem é somente uma ferramenta para tentar levar todas as vantagens. Para o cidadão comum, espionagem se afigura a coisas de  tempos de guerra.
De repente, todos fazem cara de espanto por algo chamado ingenuamente de  bisbilhotagem, expressão que desperta suspeita de conivência oculta do governo, como se isto fosse uma coisa extraordinária e até impensável quando, na verdade, é uma atividade permanente e rotineira em constante evolução.
Há uma coisa que ninguém parece lembrar. Quem desenvolve sistemas de processamento pode atender a qualquer cliente, seja lá qual necessidade ele apresentar. Assim, quando empresas compram computadores, principalmente  empresas-alvo (essas que têm informações e que são de importância estratégica comercial ou militar), os mesmos já são entregues “batizados”.
Ou seja: há subsistemas embutidos que podem entregar dados confidenciais de forma automática e despercebida. Quantos especialistas sabem o que cada chip faz em uma placa de processamento ou acessórios?  E, se sabem, não podem garantir o que há de fato dentro dele em termos de funções. O manual de componentes revela as funções de cada saída/entrada, se disponível!
Mesmo com essas informações pode haver outras ocultas, como por exemplo, um código que quando ativo permite acesso a todos os dados. A transmissão é feita em string de dados em tráfego normal, recolhidos no local de interesse. É óbvio que numa análise objetiva e específica  é possível medir esses dados estranhos “quando eles ocorrerem”. Isso é parecido com um crime. Ele irá ocorrer. Mas para interceptá-lo é preciso saber o local e o momento. Senão, nada feito!
Desde a segunda guerra mundial, os serviços secretos se multiplicaram e desenvolveram uma impressionante rede interligada, não ficando nenhum pais  imune. Afinal, é uma importantíssima ferramenta da “nova” ordem mundial (NWO) para saber quem está fazendo o quê, quem está fazendo algo que possa  prejudicar este satânico plano. Tudo integrado através do  sistema global de espionagem chamado Echelon e sua constelação de satélites.
O 11 de setembro foi necessário e usado como pretexto  para obterem verbas ilimitadas, “quebra e alteração de legislações”, e para aprimorar este sistema, numa paranoia incrível! Ora, se hackers, indivíduos sentados em suas casas pelo mundo afora, com poucos recursos comprados no mercado comercial e bastante inteligência,  conseguem penetrar em organizações supostamente seguras, o que dizer “de quem desenvolve e fabrica tais sistemas?” 
Há algum tempo li uma notícia da soma que seria gasta pelos bancos brasileiros para aprimorar a segurança de seus sistemas. A notícia também dizia que era uma despesa por tempo limitado, pois logo seria quebrada. É como o criminoso procurado. A mudança periódica de endereço não o salva  da prisão.
Podemos dizer que há sistemas absolutamente seguros? Ou é melhor dizer que se não foram quebrados é porque um especialista afinado ainda não entrou em ação? Tudo tem um ponto fraco.
Se algo foi construído também pode ser destruído, bem como pode-se dizer que o tempo é o fator decisivo para entrar em qualquer lugar, até no cofre do Banco Central! Se não se consegue entrar é porque há vigilância. Mas a rede de computadores não tem este recurso. É claro que há programas e recursos de proteção. Mas aí vem outra pergunta: até onde tais programas trabalham efetivamente na proteção ou  também podem trabalhar como um filtro?
Para as agências de espionagem não existem leis, a não ser aquelas criadas momentaneamente pelas  suas necessidades e objetivos com qualquer recurso tecnológico existente.
Invadem, matam, intimidam, implodem ou explodem instalações. Depois somem como que abduzidos.

Reginaldo Rossi sai da cena artística e torna-se um mito da música brega

Texto de Genésio Linhares – Professor M/S – Recife/PE
Publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014
 Reginaldo Rossi foi um fenômeno musical que nunca saiu de moda. Seu carisma contribuiu para a longevidade de sua carreira

Este mês fazemos uma homenagem póstuma ao tão conhecido e querido por nosso povo pernambucano e pelo povo brasileiro, o cantor Reginaldo Rossi, o “Rei do Brega”. Reginaldo Rodrigo dos Santos, artisticamente Reginaldo Rossi nasceu no Recife, na comunidade dos Coelhos, em 14 de fevereiro de 1944 e faleceu no último dia 20 de dezembro de 2013 aos 69 anos.
Cantor e compositor de músicas populares, amado pelos seus fãs e nacionalmente conhecido, Reginaldo antes de ser artista, estudou engenharia civil durante quatro anos e chegou a ensinar física e matemática, mas logo trocou a sala de aula pelos palcos. Influenciado pelos Beatles começou a cantar rock pelos idos de 1960. Foi cantor de boates durante um tempo e a seguir integrou-se à jovem guarda, imitando Roberto Carlos, mas depois desenvolveu o seu estilo pessoal. Teve uma banda de rock The Silver Jets.
Em 1966 lançou o seu primeiro LP “O Pão”. Em 1967 lança o segundo LP “Festa dos pães” em parceria com Waldemar Pimentel. Em 1970, pela gravadora CBS, lançou outro LPÀ procura de você”, abandonando o rock, dedica-se ao estilo de músicabrega romântico”, conquistando muita fama. Grava em 1977Chega de promessas”, ainda pela CBS. Fica sem gravar até 1980, quando a EMI grava o LPA volta”. 
Com o LPGarçom”, 1987, obteve grande sucesso e passou a ser chamado de o “Rei do Brega”, vendendo 2 milhões de cópias. Manteve-se sempre fiel a este estilo até o final de sua vida. Suas composições falavam de amor e traições, dentro de uma linguagem simples e popular.
Destacou-se também com as cançõesA raposa e as uvas”, “Leviana” eRecife, minha cidade”. Já em 1989 gravou o LPMomentos de amore em 1998 lança pela Polydisc o CDReginaldo Rossi ao vivo”, cantandoA raposa e as uvas eMon Amour, Meu bem, Ma femme”. Um ano depois surge o CDReginaldo Rossi The Kingtendo a participação de Vanderleia, com “Prova de fogo”, Erasmo Carlos, Roberta Miranda e outros, vendendo 1 milhão de cópias.
Neste período teve um programa de auditório na TV Pernambuco que era gravado nos bairros populares do Recife, tornando-o ainda mais próximo do seu público fiel. Em 2001 gravou o CD O dia do cornode sua autoria. Muitas de suas músicas foram gravadas por cantores e grupos como Roberta Miranda, Luan do Recife, Silvério Pessoa com o grupo Sir Rossi e Mastruz com Leite. Durante a sua trajetória de artista ganhou 14 discos de ouro, dois de platina um de platina duplo e um de diamante. Em 2010 gravou o DVDCabaré do Rossi”, fazendo releituras de vários sucessos seus.
Ainda pequeno morou no Rio de Janeiro com a família, passou um tempo em São Paulo e até nos Estados Unidos, mas sua verdadeira paixão sempre foi o Nordeste, principalmente Pernambuco. Em entrevista pela TV afirmou ser muito tímido, apesar do seu jeito extrovertido, brincalhão e dançarino nos palcos. Tentou por duas vezes a carreira política, mas sem obter resultados positivos. A primeira como vereador em Jaboatão dos Guararapes, recebendo 717 votos pelo PDT em 2008 e a segunda como deputado estadual nas eleições de 2010, tendo 14.934 votos, também sem êxito.
De uma forma ou de outra, o cantor Reginaldo Rossi foi um fenômeno musical, pois apesar dos altos e baixos, nunca saiu de moda. Suas músicas sempre eram tocadas e ele nunca deixou de viajar por todo o Nordeste fazendo apresentações com grande público o prestigiando. Público este, em sua maioria, de jovens. Segundo ele mesmo, o seu carisma e o relacionamento com seus fãs contribuíram para a longevidade de sua carreira.
Outro aspecto interessante é que ele nunca deixou de ser boêmio. Dizia que o seu vício era a mulher, mas na verdade era viciado em jogo de cartas, fumava muito, mesmo durante suas apresentações, sempre acompanhado de uísque com refrigerante.
Foi hospitalizado no dia de 9 de novembro de 2013, fazendo um procedimento chamado de toracocentose para retirar dois litros de líquido entre a pleura e o pulmão. No dia 11 do mesmo mês a biopsia confirmou câncer no pulmão e no dia 20 de dezembro de 2013, não resistiu e veio a falecer. 
O cantor Reginaldo Rossi morreu deixando grande saudade nos seus fãs. Saiu da cena artística e musical de Pernambuco e tornou-se para sempre um mito da música brega: o “Rei do Brega”.

O pai empreendedor

Texto de Ana Maria Leandro – Jornalista – Belo Horizonte/MG
Publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

Ele empreende a vida. Acertou umas vezes e errou em outras, sem jamais deixar de aprender nas duas situações. Organizou a família e compreendeu que uma parceira não é uma metade. Ambos têm que ser inteiros. Pois essa história de “dois em um” é ilusão de tese romântica que sucumbe ante a realidade... Ninguém quer ser anulado.
Tem filhos vivendo a infância, a adolescência e adultos. Mas não faz questão de ser julgado super-herói, nem tem aquela mania de dizer: “Quero que meu filho tenha o que eu não pude ter”. Quer sim, que eles conquistem o que “eles” desejarem da vida.
Não perde a reunião da diretoria da empresa e nem o encontro pedagógico mensal da escola, agendadas ambos com o mesmo cuidado.  Entende que se os pais não fizerem interatividade com a escola dos filhos, será difícil desenvolver linhas educacionais convergentes.
Sai cedo para o trabalho e se possível retorna antes do anoitecer. Aí acha tempo para estimular a “virada” do filho que perdeu média na escola; ou elogiar o outro, que caprichou no dever. E faz caminhada em torno do quarteirão com quem estiver afim.
Na empresa parece repassar aos auxiliares o mesmo espírito de equipe que equilibra a família. A ética de respeito ao próximo faz com que trate com transparência todos os assuntos, por mais delicados que pareçam, sem nunca fugir ao enfrentamento da verdade. Esse comportamento desenvolve em seus auxiliares alto nível de confiança em sua liderança, pois sabem que ele jamais usaria bastidores para qualquer ofensiva. Afirma que “uma equipe tem mais capacidade de atingir metas, do que qualquer um isoladamente. Desde que o objetivo seja comum e claro para todos”. 
Tem problemas sim, como todo mundo. O filho mais velho, quando ainda adolescente, usou sem autorização o carro e provocou uma batida. Resolvidas as sequelas legais ele planejou com o mesmo filho, um “seminário” em família, sobre o tema “direção responsável de veículos”. 
Montou-se um painel com filmes sobre o trânsito, palestras e debates abertos. Ao final o rapaz tinha uma missão: decidir qual seria sua própria penalidade pelo erro cometido.
Foi com brandura que o pai explicou: “Também já cometi muitos erros. Aos dezoito anos bati com meu carro, porque estava embriagado. Felizmente não houve vítimas, mas o carro acabou. Assumi meu erro e jurei que só teria outro carro aos vinte e cinco anos. Namorei sua mãe andando a pé. E você, ao que se propõe?” Em meio ao silêncio da plateia o rapaz disse:
"Está certo, devo responder pelo meu erro. Abro mão do carro que o senhor ia me dar aos dezoito anos. Esperarei até os vinte e um anos e pouparei até lá para comprar eu mesmo o carro”. Decisão fielmente cumprida. Nada como uma autoavaliação sem medos. 
Contar a história deste amigo real tem uma finalidade: mostrar que os problemas são iguais para todos. A forma como lidar com eles é que faz o diferencial. A tradicional figura do chefe ríspido, inacessível, centralizador se soma ao perfil do pai que não constrói com os filhos uma educação participativa. São características muito afins.
Nem o pai precisa ser herói, nem o chefe precisa provar onipotência. O que ambos precisam é ouvir, sentir e construir com seus grupos um caminho de confiabilidade recíproca e de alcance das metas desejadas. Estes são os que de fato empreendem o sucesso na empresa e na família.

Ativista diz que programas religiosos na TV contrariam a Constituição

Agência Brasil – Texto da repórter Isabela Vieira
Publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

Por transmitirem programas religiosos, emissoras de rádio e da televisão aberta estão desrespeitando a Constituição Federal. A avaliação é da representante do Conselho Federal de Psicologia e integrante da executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roseli Goffman. Segundo ela, o Artigo 19 da Carta Magna proíbe que o Estado, dono das concessões de rádio e TV, subsidie ou mantenha relação de dependência ou aliança com igrejas e cultos.
A psicóloga deu a declaração durante audiência pública organizada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro, sobre intolerância religiosa nos meios de comunicação. Na ocasião, ela manifestou preocupação com o proselitismo nas emissoras e a falta de representatividade das religiões brasileiras, estimadas em cerca de 140, entre aquelas que têm programas de TV.
Roseli citou dados de pesquisa da Agência Nacional do Cinema (Ancine),  mostrando que os programas religiosos ocupam 13,5% da grade das emissoras de TV aberta. “A ocupação desse espaço deveria seguir critérios e valores, e não somente as leis de mercado”, criticou. “Não podemos deixar que apenas o poder econômico defina como vai ser ocupado um espaço que é seu, meu, dele, é público”, disse a especialista.
Para ela, a questão religiosa, parte da cultura brasileira, deve ser transversal a toda a programação televisiva, porque seria impossível contemplar com espaço igual na TV as 140 religiões identificadas em pesquisa censitária.
Na defesa das religiões como o candomblé e a umbanda, o babalaô Ivanir do Santos, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, que atua em defesa da liberdade religiosa há 25 anos, reforçou que a falta de pluralidade na mídia prejudica especialmente as religiões de matriz africana. Para ele, há uma ameaça à pluralidade, à diversidade brasileira e aos direitos humanos. 
“A intolerância ocorre pela ausência ou pela negação (da cultura de matriz africana). Tem uma emissora que não fala da gente nem amarrado, nem quando fazemos grandes manifestações. Outras dão espaço para que nos ataquem”, declarou. Ele lembrou que, como dono das concessões, o Estado deve se posicionar. “O problema é fazer proselitismo no espaço público e atacar a liberdade do outro”. 
O procurador da República, Sérgio Suiama, disse que o MP tem questionado juridicamente o aluguel da grade das emissoras para programas religiosos, na tentativa de impedir o proselitismo e assegurar a pluralidade, sem entrar no debate religioso. 
“A questão é: podem essas emissoras concessionárias de um serviço público sublocar o espaço que têm, seja para vender tapete, seja para vender religião? Do ponto de vista da legislação, há uma limitação”, disse o procurador. Ele tenta provar que a venda de espaço para programas religiosos ultrapassa os 25% de faixa destinada legalmente à publicidade.
O desafio, acrescentou, é questionar a abordagem editorial dos programas. “Essas emissoras não refletem a diversidade brasileira em relação a representantes de mulheres e negros, tampouco têm ombudsman. Tratar isso é mais difícil que tratar as ofensas às religiões afrobrasileiras, por exemplo, em programas evangélicos de tais emissoras”, acrescentou.

Desmilitarização da PM impõe-se desde 1985

Texto de Celso Lungaretti – Jornalista – São Paulo/SP
Publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014
 
A ditadura estimulou a absorção da civilizada Guarda Civil de São Paulo
pela truculenta Força Pública, sob a denominação de Polícia Militar
No instante em que é novamente discutida a substituição das polícias militarizadas brasileiras por instituições civis, vale lembrarmos que, no final de junho de 2012, o Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas recomendou a extinção das ditas cujas, em função não só de seu altíssimo índice de letalidade, mas também do fato de que parte expressiva de tais óbitos se devia a "execuções extrajudiciais".
Após analisar 11 mil casos de alegadas  resistências seguidas de morte”, a ONU constatou o que por aqui todos estávamos carecas de saber desde 1992, quando Caco Barcellos lançou seu primoroso livro-reportagem “Rota 66 – A História da Polícia que Mata”: frequentemente não houvera resistência nenhuma, mas tão somente, assassinatos a sangue frio de suspeitos já rendidos. Para piorar, as autoridades quase sempre acobertavam os homicídios desnecessários e covardes perpetrados pelos PMs.
Na reunião da ONU em que se discutiu o assunto, coube à Coreia do Sul dar nome aos bois, equiparando tais episódios aos crimes outrora cometidos pelos nefandos esquadrões da morte” (aqueles bandos de policiais exterminadores que, durante a ditadura militar, trombeteavam triunfalmente seus feitos e agora atuam com alguma discrição, mas continuam existindo, sim, senhor!).
Para Marcelo Freixo, professor de História e deputado estadual pelo PSOL (RJ), "é fundamental que o Congresso Nacional aprove a proposta de emenda constitucional (PEC 51/2013) que prevê a desvinculação entre a polícia e as Forças Armadas; a efetivação da carreira única, com a integração entre delegados, agentes, polícia ostensiva, preventiva e investigativa; e a criação de um projeto único de polícia". Concordo em gênero, número e grau. 
Freixo citou vários episódios em que o treinamento imposto pela PM, rigoroso a ponto de justificar a comparação com sessões de tortura, causou a morte de soldados. O caso mais chocante aconteceu no Rio de Janeiro, em novembro, quando um integrante da 5ª Companhia Alfa da PM morreu, outros 33 recrutas passaram mal e 24 sofreram queimaduras nas mãos ou nas nádegas (quem não suportava os exercícios era obrigado a sentar-se no asfalto escaldante).
Os oficiais não lhes davam sequer tempo para se hidratarem, então alguns beberam a água suja destinada aos cavalos. A enfermaria da unidade revelou que alunos chegaram a urinar e vomitar sangue. O secretário estadual de Segurança José Mariano Beltrame, classificou a morte do recruta Paulo Aparecido Santos de Lima, 27 anos, como homicídio. Resta saber se será punida como tal. Uma pertinente indagação de Freixo: “Como esses soldados, submetidos a um treinamento cruel e humilhante, se comportarão quando estiverem patrulhando as ruas e atuando na pacificação das comunidades?" 
E uma constatação também pertinente (eu diria até irrefutável...): "Em todos os Estados do país, a PM é concebida sob a mesma lógica militarista e antidemocrática. (...) Em vez de se preocupar em formar soldados para a guerra, para o enfrentamento e a manutenção da ordem de forma truculenta, o Estado precisa garantir que esses profissionais atuem de forma a fortalecer a democracia e os direitos civis. A realização dessa missão passa necessariamente por mudanças na essência do braço repressor do poder público". 
Tal mostrengo existe por obra e graça da ditadura de 1964/85. Na sua trajetória para concentrar poder na segunda metade da década de 1960, os militares encontraram alguma resistência por parte dos governadores civis que ajudaram a dar o golpe, mas depois viram, com óbvio desagrado, esfumarem-se suas ambições presidenciais. Precavidos, os fardados resolveram assegurar-se de que os paisanos não contariam com tropas leais.
O governador de São Paulo, Adhemar de Barros, até o último momento acreditou que a Força Pública impediria a cassação do seu mandato (tiraram-no do caminho acusando-o de corrupto - o que ele sempre foi - mas, na verdade, porque não se conformava com o monopólio castrense do poder).
Então, nas Constituições impostas de 1967 e 1969, a ditadura fez constar da forma mais incisiva que "as polícias militares (...) e os corpos de bombeiros militares são considerados forças auxiliares, reservas do Exército". 
Na prática, seus comandos foram se subordinando cada vez mais aos das Forças Armadas; e as lições de tortura aprendidas de instrutores estadunidenses e aprimoradas nos DOI-CODIs da vida foram ciosamente repassadas aos novos “pupilos”. 
Daí a tortura ter continuado a grassar solta, longe dos holofotes, depois da redemocratização do País, só mudando o perfil das vítimas (passaram a ser os presos comuns). Além disto, a ditadura estimulou a absorção da civilizada Guarda Civil de São Paulo pela truculenta Força Pública (que atuava como tropa de choque em conflitos), sob a denominação de Polícia Militar.
Vale notar que o decreto-lei neste sentido, o de nº 217, é de 08/04/1970, bem no auge do terrorismo de estado no Brasil. 
Não é à toa que, até 2011, a unidade mais violenta da PM paulista (a Rota) mantinha no seu site rasgados elogios ao papel que a corporação havia desempenhado na derrubada do presidente legítimo João Goulart, só deletando esses elogios após ordem da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Ideias novas e lampejos de luz no horizonte

Texto de Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE
Publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

Prescindir de uma religião não leva o homem a ser um bicho irracional. O ateísmo
é compatível com os anseios básicos da sociedade civil


Desvarios místicos, sectarismos, seitas, nascimento de novas religiões e maior incremento das antigas, fundamentalismos associados ao terror e à fé cresceram bastante no fim do século 20 e no começo do século 21.
Mas um bafejar de qualidade e lampejos de luz no horizonte aparecem. Os livres pensadores e os intelectuais ateus começam a reagir. Surge uma nova forma de pensar. Descobre-se que o radicalismo nas religiões pode ser maléfico demais. Divulgam-se ideias novas, incluindo a de que existem meios de o homem ser menos enganado. De que o ser humano pode ser ainda mais humano mesmo sem acreditar em um deus.
Os livres pensadores descobriram há muito tempo, mas agora estão tendo a oportunidade de reavaliar o ditado de que política e religião não podem entrar em discussão. Descobriram que nessa frase não existe a democracia da palavra, e sim, censura e proibição para envolver impessoalmente o homem. Essa interdição do pensamento, na realidade, é um dos principais motivos da alienação e do atraso existentes nos países latinos. No Brasil, principalmente. Portanto, estamos levando ao conhecimento do mundo que a radicalização das crenças em um ou outro deus, em uma ou outra religião, traz apenas discórdia. E que no tempestuoso universo da religiosidade a terra é regada com terror, sangue e imposturas as mais diversas para fornecer poder e dinheiro a determinados grupos ou pessoas.
Prescindir de uma religião ou de todas não leva o homem a ser um bicho inconsciente ou irracional. O ateísmo é, e muito, compatível com os anseios básicos existentes na sociedade civil. Os filósofos e livres pensadores conseguem demonstrar que, hoje, acreditar em um deus não garante saúde corporal e mental para ninguém. O ateísmo não é o fim do mundo. E está mais do que provado que o fanatismo e o irracionalismo da religião são péssimos exemplos para a civilização.
Lembro que o irracionalismo leva até a proibir o estudo e o desenvolvimento científico, para mergulhar o homem em ideias irreais. Nos EUA, o livro bíblia é o mais utilizado nas escolas primárias. Nessas escolas proíbem mencionar o nome de Charles Darwin, bem como falar de suas teorias evolucionistas. Absurdo sem tamanho! Nas escolas estadunidenses, a intolerância religiosa é pregada de forma aberta contra os ateus.
Nelas ensina-se que o fim do mundo está perto e que o fim do homem será glorioso apenas se ele aceitar a ideia de um redentor. Nessas escolas desrespeita-se a liberdade individual e os avanços da ciência são interditados, e isso pode colocar em risco a sobrevivência da humanidade.
O ensino falacioso de que os animais terrestres sobreviveram aos pares na arca de Noé, que a luz de galáxias distantes foi criada a caminho da Terra e que os primeiros membros da nossa espécie foram modelados a partir do barro e do hálito divino, em um jardim com uma cobra falante e pela mão de um deus invisível são ideias bizarras e primitivas. E mais bizarro ainda é quando vemos que esse deus bíblico tem sido pivô principal das mais diversas chacinas, das piores imposturas e de inumeráveis sofrimentos em nome da fé.
Se pelo menos esse deus aparecesse e fornecesse uma pista do que é. Mas isso não acontece. Ele prefere a clandestinidade, o anonimato e, espantosamente, habitar no invisível. É um deus que se esconde obstinadamente do homem e se planta no dogma da fé para se tornar viável. Simplesmente pelo simples motivo que ele não é. Ele não existe.
Pelo que aprendemos, sociedades com menos religião ou sem religião são mais saudáveis. Mesmo assim, ser ateu não é tão fácil como se pensa. A população precisa saber mais sobre o ateísmo.
Muitos países desenvolvidos do mundo, como a Noruega, Islândia, Austrália, Canadá, Suécia, Suíça, Bélgica, Japão, Holanda, Dinamarca e Reino Unido, estão incluídos atualmente entre as sociedades menos religiosas do planeta. O Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas publicou em 2005, que essas sociedades também são as mais saudáveis, no tocante aos indicadores de expectativa de vida, alfabetização, renda per capita, educação, igualdade entre os sexos, taxa de homicídios e mortalidade infantil.
Enfim, no mesmo relatório, os 50 países a ocuparem os lugares mais baixos, são religiosos. O Brasil, infelizmente, está entre eles. Portanto, quem desejar ficar à altura da nova época e do novo tempo tem de mergulhar no estudo e no conhecimento sobre o que vem a ser a ideia dos sem religião e dos sem deus. Tem de olhar mais atentamente para as mentiras que as seitas e as religiões organizadas impermeabilizam a torto e a direito na mente humana. E observar que o ateísmo retira o homem de prisões invisíveis e abre espaço para uma busca mais consistente da verdade.

Refúgio Poético


Poemas publicados no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014


Garçom 
Reginaldo Rossi – Recife/PE 

Garçom
Aqui nessa mesa de bar
Você já cansou de escutar
Centenas de casos de amor
Garçom
No bar todo mundo é igual
Meu caso é mais um, é banal
Mas preste atenção, por favor!
Saiba que o meu grande amor
Hoje vai se casar
Mandou uma carta pra me avisar
Deixou em pedaços meu coração.
E pra matar a tristeza
Só mesa de bar
Quero tomar todas
Vou me embriagar
Se eu pegar no sono
Me deite no chão.
Garçom, eu sei
Eu estou enchendo o saco
Mas todo bebum fica chato
Valente e com toda razão.
Garçom, mas eu
Eu só quero chorar
Eu vou minha conta pagar
Por isso eu lhe peço atenção:
Saiba que o meu grande amor
Hoje vai se casar
Mandou uma carta pra me avisar
Deixou em pedaços meu coração.
E pra matar a tristeza
Só mesa de bar
Quero tomar todas
Vou me embriagar
Se eu pegar no sono
Me deite no chão... 
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O sol 
Antônio Carlos Gomes – Guarujá/SP 

A vida é apenas uma noite
À procura do sol.

O poeta diz:
Você é o sol de minha vida.

O poeta
Sempre é solitário. 
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A música do corpo 
Genésio Linhares – Recife/PE 

Vislumbrei teu corpo delgado
Como instrumento musical
Vendo-te nua, angelical
E o sol sobre ti embriagado

Pensei: és o meu piano alado
Dei início ao meu recital
No mamilo extraí o som astral
Vibrava um tom nunca escutado

Do ventre belas harmonias
Fui com dedos divinos criando
Uma música foi então brotando

Em teu sexo fiz sinfonias
Dentro de ritmos galopantes
Até o ápice dos sons estonteantes. 
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       Horas vencidas 
       Rafael Rocha – Recife/PE 

Tua paixão ganhou horas vencidas
Ao lado do sonho corporal de mim
Nem o aprendizado de mil vidas
Conseguiu fazer a junção no fim

De quando o homem acariciava
A mulher do seu antigo momento
Enquanto a mulher apascentava
A ternura do seu cruel sentimento

Do desprezo da carne abandonada
Da sua fonte macia desprezada
Pelos beijos e velhos desvarios

Entregando sua boca apaixonada
Para o beijo da loucura desvairada
A resgatar no sonho seus desvios

EXPEDIENTE



HUMANITAS – ANO II - Nº 19
ISSN 2316-1167
Este jornal é mensal e gratuito
Tiragem 1.000 exemplares

Editor Geral: Rafael Rocha
 Jornalista - Reg. DRT/PE 1160
Editor Adjunto: Genésio Linhares
Jornalista – Reg. DRT/PE 1739

Colaboradores no Brasil: Valdeci Ferraz; Araken Vaz Galvão; Francisco de Assis Coelho, Antônio Carlos Gomes; Aline Cerqueira; Manfred Grellmann; Karline da Costa Batista; Ana Maria Leandro; Celso Lungaretti; Ricardo Tiné; Rod Britto; Jorge Oliveira de Almeida; Ivo S. G. Reis.

Colaboradores em Portugal: Marisa Soveral; Paula Duarte.

Cartas à Redação enviar para:
Editoração e Revisão: Rafael Rocha
Diagramação e Impressão: Gráfica Correia – Recife/PE

As fotos inseridas nesta edição são de domínio público e foram extraídas da internet.

As opiniões veiculadas nesta publicação são da inteira responsabilidade de seus autores.

Direitos e deveres

Texto de Antônio Carlos Gomes – Guarujá/SP
publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

O direito de um não pode ultrapassar o direito de outro. A regra impõe claramente um limite, ou seja, uma regra. No caso uma Ética. A grande pergunta que fica é quais são os nossos limites?
Somos seres de um ecossistema, portanto já estamos limitados. Vivemos na superfície sob ação da gravidade, sem asas para voar e sem condições de habitar sob a terra que nem as minhocas. Somos, portanto limitados à superfície. Pertencemos a uma cadeia alimentar, alimentamo-nos de seres vivos e tentamos não sermos atacados por outros, vírus, insetos, bactérias e predadores, estes limitados a regiões remotas. Ao nos alimentarmos temos que tomar cuidado para não quebrar a cadeia alimentar que rege o planeta, caso contrário teremos escassez ou mesmo falta. A alimentação tem que ter a sabedoria de ser justa, ou seja: Ética.
Dentro de nossa casa temos que conviver com os demais elementos: esposo [a], filhos [as], agregados, cachorro, gato e assim por diante. Convém lembrar que cada um ocupa seu espaço, tem seus próprios limites e independência do pensar. Temos ainda que conviver com os limites dos eventuais: parentes e visitas; pessoal que vai fazer a manutenção: empregados, eletricistas, pintores, e assim por diante.
Ao ir ao trabalho, ou estudo ou mesmo na diversão temos que conviver com os limites de quem pega a mesma condução, ou dos outros veículos do trânsito, de quem frequenta as ruas. Chegando ao trabalho temos que nos limitar à nossa tarefa especifica, aos horários programados, aos colegas, aos clientes e fornecedores.
Como podemos ver, nossas limitações são muitas, cada quebra determinará uma invasão indesejável e uma invasão de direitos. Numa sociedade capitalista e de consumo esta invasão vai refletir nos bilhões de refugiados e famintos e na destruição da natureza.
A miséria que espalhamos agora acabará por se refletir em nós mesmos, já que a natureza também faz parte dos limites do humano. É aí que está o tão propalado risco de extinção da espécie, que é real. Por outro lado, esta invasão traz uma reação lógica dos prejudicados gerando violência em forma de guerras, crimes, assaltos e mesmo discórdia no meio que nos cerca.
Esta sociedade utópica onde se respeitará o espaço de todos é uma sociedade comunista obrigatoriamente. Não há ditadura, mas divisão de espaço. O que temos que ter em mente é que nosso espaço realmente é muito pequeno e cabe a nossa inteligência viver o melhor possível dentro dele, sem atritos. Fora isto nunca haverá Ética e Justiça e teremos eternamente uma sociedade instável com guerras e neuroses generalizadas.
Curtamos nosso espaço restrito, eticamente.

Cartas dos leitores

Cartas publicadas no jornal HUMANITAS nº 19 - Fevereiro/2014

Leitora Cláudia Barros da Costa - Fico feliz por sua apreciação ao artigo sobre "Doação de Órgãos", do Humanitas 16. O artigo lança um olhar de valorização do ser humano, e abomina "crenças" que podem induzir à redução da qualidade de uma vida, ou mesmo exterminá-la. Sua manifestação nesta coluna nos estimula a abrir cada vez mais portas para a livre reflexão. Continuemos nesta soma de valores verdadeiros e estaremos contribuindo para a libertação do "ser". Ana Maria Leandro - Jornalista Reg. 07218/JP – Belo Horizonte/MG 
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Recebo o Humanitas mensalmente das mãos de um amigo aqui do Rio e gostaria de ter este jornal sem precisar ficar a perguntar ansiosamente a este amigo quando ele chega. Envio meu endereço por e-mail e pretendo colaborar financeiramente. Também gostaria de parabenizar a todos os que fazem o Humanitas. A qualidade dos textos, as ideias centradas e as polêmicas bem cuidadas fizeram com que eu me tornasse leitor assíduo desta publicação. Antônio Claudio Saraiva – Rio de Janeiro/RJ

Revelação correta

Editorial publicado no jornal HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

Em todas as áreas do conhecimento humano existem perguntas sem respostas. O cientista busca as respostas com as evidências que as prove. O religioso precisa de um deus para crer que a vida tem sentido e para não sentir-se perdido diante do assustador mistério da existência.
Aceitar as ideias ilógicas e absurdas da religião é incoerência pura, para não dizer ignorância. Podemos acreditar se tivermos evidências para isso. A ciência confirma, dia a dia, a correção da teoria do Big-Bang e da teoria da evolução. São teorias corretas (não completas, claro!), e robustecidas por evidências. Se elas fossem completas não necessitariam de evidências.
O ser humano e os demais habitantes do planeta Terra, as plantas, as bactérias, existem porque o arranjo cosmológico aleatoriamente estabelecido permitiu que moléculas pré-biológicas se tornassem biológicas e depois evoluíssem. O mundo sobrenatural que o homem imagina (com a existência de deus, deuses, santos, santas, demônios e ídolos variados) resulta de seu medo, de sua fragilidade, do seu autoengano e do seu desejo de imortalidade.
Qualquer pessoa que diz acreditar em um deus, qualquer pessoa que acredita que um criador seja a causa inicial de tudo, deixa de ter pensamento próprio e capitula diante da própria ignorância. Sim, porque se existe uma entidade sem causa (um deus) por que o universo não poderia também existir sem causa? Poucos param para pensar nisso e preferem viver com antolhos nos cérebros. Vejamos: se nada podemos tirar do nada, uma vez existindo algo como o universo, este estará condenado a existir eternamente; e se pode existir algo a partir do nada, então o universo poderá também ter surgido desse nada. Portanto, mais uma vez fica comprovado que não é necessário existir um criador.
O deus cristão (pai, filho e espírito santo) é da mesma natureza que todos os demais deuses criados pelo homem. Uma fantasia! Salvadores e messias apresentados às massas continuam sendo exploradores da credulidade humana.
As religiões são superstições melhor elaboradas porque os inventores delas ao longo de sua formação incorporaram rituais, tabus, mitos, narrativas (primeiro orais e depois escritas), forjaram livros, doutrina, teologia, literatura etc. As crenças foram perpetuadas através da doutrinação, repetição, usos, costumes e tradições, sem falar do elemento primordial: o MEDO!
O conceito de espírito ou de alma surgiu quando o homem primitivo começou a interpretar o sonho como uma entidade a habitar seu corpo. A partir daí, surgiu o animismo de alma ou de espírito, entes imaginários, pois o que temos de imaterial é a nossa consciência, o pensamento, a imaginação, a mente, todos eles gerados por nossa própria condição biológica no ambiente universal.

Jornal HUMANITAS - Fevereiro/2014


DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS MILITARES ESTADUAIS CAMINHA A PASSO DE TARTARUGA DESDE O ANO DE 1985

Celso Lungaretti em artigo especial para este Humanitas de fevereiro/2014, disserta sobre a necessidade premente de desmilitarização das Polícias Militares estaduais que, segundo ele, é um legado da ditadura de 1964/1985 e já devia ter se tornado realidade desde o fim desse nefasto regime. Lungaretti salienta ainda que “na sua trajetória para concentrar poder na segunda metade da década de 1960, os militares encontraram alguma resistência por parte dos governadores civis que ajudaram a dar o golpe, mas que depois viram, com óbvio desagrado, esfumarem-se suas ambições presidenciais. Precavidos, os fardados resolveram assegurar-se de que os paisanos não contariam com tropas leais”. 
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MORTE DO “REI” REGINALDO ROSSI DEIXA A
MÚSICA DE PERNAMBUCO MAIS POBRE 
O professor Genésio Linhares homenageia o cantor Reginaldo Rossi neste Humanitas. De acordo com o texto do professor, o artista estudou engenharia civil durante quatro anos e chegou a ensinar física e matemática, mas logo trocou a sala de aula pelos palcos. Influenciado pelos Beatles começou a cantar rock pelos idos de 1960, dando início a uma carreira de sucesso. No final do ano passado, a morte o retirou da cena artística e musical de Pernambuco, imortalizando-o como o mito da música brega: o “Rei do Brega”. 
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ESPIONAGEM
Manfred Grellmann em texto especial para este Humanitas, referindo-se à espionagem virtual, diz que existe “uma coisa que ninguém parece lembrar: quem desenvolve sistemas de processamento pode atender a qualquer cliente, seja lá qual necessidade ele apresentar. Quando empresas compram computadores, principalmente  empresas-alvo (essas que têm informações e que são de importância estratégica comercial ou militar), os mesmos já são entregues batizados”.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Realidade versus arte

Texto de Genésio Linhares – Professor/MS – Recife/PE
Publicado no HUMANITAS nº 18 – Janeiro/2014

Temos consciência que neste mundo nunca houve e nem haverá sociedade civilizatória perfeita e plenamente ética


Por mais que o ser humano declare querer a verdade e viver na realidade, ele não consegue perdurar apenas nessas dimensões. Ele termina escapando para o fingimento, para os subterfúgios, pois a dureza e intensidade destes aspectos o impedem, de certa forma, de enfrentá-la para si mesmo e para a sua convivência social. É óbvio que existem as exceções, mas o preço que se paga é o isolamento, a distância dos outros, a marginalização e a indiferença. Por outro lado, não estamos aqui, a defender, o mascaramento, o fingir e a hipocrisia. É um fenômeno humano presente em todas as sociedades. Em umas muito mais do que em outras. Porém, é uma constatação indubitável.
Sendo assim, o ser humano em geral, sem exceção, encontra no mundo da arte uma forma de terapia e salvação, deveras eficaz ante o paradoxo que angustia, incomoda, muitas vezes é trágica e quando não, adoece corpo e mente. Para quem é produtor e criador da arte é a realização e o externar-se de seu ser e de sua concepção de mundo. Mesmo que seja um realizar-se sempre incompleto, desejoso de criar sempre mais e mais. Importando em maior grau a sensibilidade estética a ser transmitida do que mesmo as preocupações com a verdade e lições de moral. Apesar de que, quando o artista desmascara certas hipocrisias, termina como sempre, chocando os seus admiradores.
Aos que apenas a contemplam há uma necessidade de estar constantemente buscando novas obras de arte. E por que não conseguimos viver sem ela? Por que ela fascina a todos, sem exceção? Provavelmente pelos mesmos motivos. A arte é terapêutica e salvífica de modo universal, seja para o criador, seja para quem apenas a contempla. O próprio Aristóteles reconheceu, na obra “Arte Poética”, o efeito catártico do poético.
Em outros termos, a arte purifica, alivia, salva o seu fruidor da dureza e crueza da realidade, da vida com seus árduos conflitos e dramas, tragédias, imediatez e mediocridade imperante, trazendo um pouco de leveza ao nosso ser. Uma vez que no mundo da ficção as facetas humanas, da racionalidade aos instintos mais selvagens, estão no nível da representatividade. Sabemos que, em muitos casos, a ficção transforma-se em realidade. Quando isto ocorre, a dor, o sofrimento individual e coletivo é incomensurável. Sentimo-nos inferiores, frágeis, em muitos casos bárbaros, pois nos deparamos com a face feroz e animal que há em nós. Este lado obscuro é deplorável, desprezível, mas está em nós.
Estamos constantemente nos debatendo contra ações dessa natureza. No entanto, por que atos antiéticos de violência, de injustiças, de desvios de verbas públicas e corrupções, de atitudes anti-humanas acontecem com tanta frequência no dia a dia em diversas sociedades? Em países onde o estado faz cumprir suas leis, tais feitos ocorrem, porém, a punição é efetiva. Não significando que a natureza humana tornou-se melhor.
A presença do estado ainda é necessária para coibir atrocidades, ganâncias e egoísmos desenfreados e desumanos como diria o filósofo inglês Thomas Hobbes.
Agora, investir na boa educação e formação elevada, na cultura autóctone e na arte dos cidadãos são caminhos para que os próprios passem a ter maior controle desses aspectos negativos. Temos consciência que neste mundo nunca houve e nem haverá sociedade civilizatória perfeita e plenamente ética, entretanto, as lições do velho Platão na sua República” ainda encontram ressonância e validade para nós quando afirma categoricamente que o bem e o belo, no ápice do mundo ideal, devem ser paradigmas e modelos de referências fundamentais a serem permanentemente perseguidos aqui, em nosso mundo.
Entretanto, tal mundo encontra-se perdido nas ilusões dos espetáculos de massa, nas aparências e vazias ideologias sem os referenciais enfatizados por Platão, e que eram valores buscados pelo povo grego antigo como um todo. Raros buscam a verdade, os valores éticos, a beleza e a sua própria liberdade para serem aplicadas e vivenciadas em nossa realidade. Por outro lado, existir é conviver com os paradoxos e estar entre o sonho e a tragicidade da realidade.
Mesmo que os céticos neguem os valores da arte e de seu poder representativo e simbólico. Os piores tiranos da história, por mais irônico e insanos que possam parecer, demonstram uma sensibilidade com algum tipo de arte. O imperador Nero, num acesso de loucura e genocídio, mandou incendiar Roma para encontrar a chama inspiradora para criar uma canção. Hitler tinha uma verdadeira paixão por obras de arte, inclusive, antes de se tornar o ditador germânico, tentou ser pintor.
A arte é uma dimensão inerente ao ser humano, pois é um criador eternamente inquieto e insatisfeito. O mundo dado como está aí é matéria para ele transformar em seu universo fictício, assim como o campo das possibilidades é fonte deste poder criador. O pensador Evaldo Coutinho em sua sugestiva obra “A Artisticidade do Ser” demonstra claramente que a criatividade artística é algo pertinente ao ser.
É o caráter demiúrgico e filosófico do ser. Na perspectiva filosófica e singular de Coutinho “...o conhecimento do Ser e a sua artisticidade são a mesma coisa, parecendo que a conversão da possibilidade e da realidade em conteúdos de meu repertório, se opera mediante uma triagem na qual o gosto pela harmonia em direção à unidade, firma a elaboração da obra.” (1987,p. 170)
O mundo e o campo das possibilidades e da ficção são matérias transformadas criativamente e com sentidos evaldianos muito próprios no âmago de sua subjetividade inclusiva, uma vez que ele existência todo o universo em seu interior.
Sobre a sua dimensão demiúrgica declara ele no parágrafo anterior: “Ao pesar a conjuntura da existencialidade em mim, não posso sentir-me como se fora o deus anteriormente à criação do mundo, mas posso assumir-lhe o papel enquanto sou o demiurgo de meus existenciamentos desde que nada fui antes de ver-me a existenciar.” Todo o existir evaldiano, tudo o que ele observa do mundo externo e do seu imaginário passam a ter um aspecto profundamente filosófico e artístico em dimensões absolutas até o prazo de seu perecimento.
Enfim, por mais que queiramos ser realistas, ter “pés no chão” como se afirma popularmente, é inevitável a sede e a fome de termos uma visão mais ampla, mais filosófica, mais criativa, artisticamente falando, do mundo. Não nos contentamos com visões alienantes, uniformizadoras e massificadoras impostas por ideologias e sistemas. Queremos ir além das aparências superficiais e dar vazão ao nosso próprio modo de ver panorâmico e cosmológico do mundo. Para tal é necessário o exercício constante da criatividade artística e demiurga que há em nós, mesmo convivendo cotidianamente com todas as contradições, conflitos, tragédias e paradoxos que a realidade nos impõe e tenta manter os seus grilhões no mundo material e mental. Afinal, não nascemos para sermos escravos. Nascemos para conquistar e construir a nossa liberdade. Se no campo político, social e econômico ainda está longe de a efetivarmos, no campo da arte e do pensar filosófico, esta efetivação depende exclusivamente de nós.

O vilipêndio da cultura e da língua brasileira

Texto de Ricardo Augusto Bezerra Tiné – Pesquisador – Guaraí/TO
Publicado no HUMANITAS nº 18 – Janeiro/2014

Cerca de 130 mil palavras utilizadas hoje em território brasileiro têm origem nas línguas nativas dos nossos ancestrais indígenas

“Há muito tempo pesquisadores e professores de língua portuguesa vêm demonstrando insatisfação com as deficiências da gramática normativa, apontando um crescente desinteresse dos alunos por este respeito à falta de coerência interna, à sua inadequação às realidades de nossa língua e à má formação de normas e definições”. 
Fiz questão de começar este artigo citando as palavras do autor Mário Perini, na orelha da capa de seu magnífico livro “Gramática Descritiva do Português”. Não com a intenção de insulto nem desmerecimento, mas com uma única e verdadeira vontade de incentivar e engrossar as fileiras dos estudos diacrônicos, ao contrário do que se tem praticado até hoje no Brasil em relação à verdadeira nomenclatura, etimologia, fonética e evolução histórica da língua da nossa Nação.
Mário Perini é professor de linguística na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Disso podemos ter uma noção ampla da devastação cultural causada pela irresponsabilidade em se querer imputar a um povo soberano uma língua que jamais lhe pertenceu como língua materna: a portuguesa.
Mário Perini, no prefácio do livro citado escancara: “A linguística se tem desenvolvido grandemente nos últimos tempos; no Brasil passamos do quase nada da década de 60 até uma comunidade numerosa, com produção intensa, frequentemente de boa qualidade, em praticamente todas as grandes áreas da disciplina. Hoje se faz linguística de bom nível entre nós; lançam-se as bases para uma descrição coerente, empiricamente adequada, teoricamente sofisticada de todos os aspectos da língua, de seu uso, variação, aquisição, evolução histórica e assim por diante. Descobrem-se coisas novas e reinterpretam-se velhas descobertas, lançando mais luz sobre a nossa língua, sobre a realidade linguística do país e sobre a linguagem em geral”. 
E se esse é o argumento para se dizer que brasileiro fala português, o que fez a língua portuguesa permanecer portuguesa depois de 600 anos de influência da língua árabe sobre o seu povo?
Se seis séculos não foram suficientes para extingui-la, que tal mais 200 anos nos quais os portugueses foram colonos germanos? Ou ainda 300 anos como colonos romanos? Bom esclarecimento da verdade nos dá Francisco da Silveira Bueno, emérito de Filologia Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, não em relação a esses seus colonizadores, mas sim em relação à sua formação interna: 
“Durante os séculos que precederam a fundação do Condado Portucalense, em que não nos é lícito falar de Portugal, e, portanto, do português como idioma de nacionalidade, o dialeto usado na Galiza pouco se diferençava do leonês (origem castelhana). [...], Galiza e o território do futuro Portugal faziam parte de Leão, não só geográfica e política, mas também linguisticamente”. 
Voltando às palavras de Mário Perini quando explana sobre a evolução da linguística brasileira, oponho-me às suas colocações pelo simples direito de entender que a linguística é a ciência que deve expor os fatos históricos reais da etimologia das línguas e suas evoluções em toda temporalidade de que se tem conhecimento. E a realidade perversa do povo brasileiro mora no fato de falar uma língua de origem e evolução própria, e ser obrigado a aprender e a escrever regras gramaticais normativas de outra língua.
Mas foi o próprio Perini que definiu a função da gramática quanto da sua relação com a linguagem de um povo: “A gramática só deve existir enquanto instrumento fiel de registro da língua que a serviu como base, jamais ser ela estorvo para quem a busca”. 
No livroSofrendo a Gramática – 3ª edição, 2003, pg. 31”, esse mesmo autor intitula o capítulo 4, com uma pergunta, talvez, para ele mesmo, decerto: 
“Qual é mesmo a língua que falamos?” E continua: “As línguas diferem muitíssimo quanto à sua importância cultural, política e econômica”. 
Como entender os argumentos do autor que por um lado cria ideias iluminadas e por outro elabora uma gramática descritiva do português para brasileiros aprenderem?
Nos estudos étimo-lexicológicos aos quais dediquei quinze anos de minha vida, e que ainda persigo, posso afirmar sem nenhuma dúvida que cerca de 130 mil palavras utilizadas hoje em território brasileiro têm origem nas línguas nativas dos nossos ancestrais indígenas.
Evoluídas, evidentemente, devido ao contato com outros povos, assim como bem o são todas as línguas do mundo. O que falta no Brasil para o reconhecimento óbvio da língua brasileira é caráter e espírito nacionalista. 
Como nós brasileiros podemos aceitar tamanho vilipêndio da nossa cultura?