segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Abram alas para ele passar: Sua Majestade, o Frevo!

Texto publicado no HUMANITAS nº 7 – Fevereiro/2013

O ritmo pernambucano foi declarado pela Unesco, Patrimônio Imaterial da Humanidade, no dia 5 de dezembro de 2012



O Carnaval recifense possui uma música e uma dança carnavalesca própria e original, nascida do povo. De origem urbana, surgiu nas ruas do Recife nos fins do século XIX e começo do século XX. O frevo nasceu das marchas, maxixes e dobrados; as bandas militares do século passado teriam dado sua contribuição na formação do frevo, bem como as quadrilhas de origem europeia. Deduz-se que a música apoiou-se desde o início nas fanfarras constituídas por instrumentos de metal, pela velha tradição musical do povo pernambucano.  O frevo tem seu dia de festa em 9 de fevereiro, que neste ano de 2013 é a data de abertura do carnaval de Pernambuco: o dia do Galo da Madrugada. 
A palavra frevo vem de ferver, por corruptela, frever, a qual designa: "efervescência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vaivém em direções opostas como no Carnaval", diz o Vocabulário Pernambucano de Pereira da Costa. O Jornal Pequeno, vespertino do Recife, que mantinha a melhor secção carnavalesca da época, na edição de 12 de fevereiro de 1908, fez a primeira referência à palavra frevo.
 O frevo é uma criação de compositores de música ligeira feita para o Carnaval. Os músicos pensaram dar ao povo mais animação nos folguedos carnavalescos. O povão queria música barulhenta e animada para extravasar alegria. No passar dos anos, a música ganha características próprias acompanhada por um bailado inconfundível de passos soltos e acrobáticos. A década de 1930 serve de base para a divisão do frevo em frevo-de-rua, frevo-canção, frevo-de-bloco. 
FREVO DE RUA - Suas características não se assemelham com nenhuma outra música brasileira, nem de outro país. O frevo-de-rua se diferencia dos outros tipos de frevo pela ausência completa de letra. Ele é feito unicamente para ser dançado.
Na música distinguem-se três classes: o frevo-abafo ou de encontro, no qual predominam os instrumentos metálicos, principalmente pistões e trombones; o frevo-coqueiro, com notas agudas distanciando-se no pentagrama e o frevo-ventania, constituído pela introdução de semicolcheias.
O frevo acaba, temporariamente, em um acorde longo e perfeito. Frevos-de-rua famosos: Vassourinhas, de Matias da Rocha, Último dia, de Levino Ferreira, Trinca do 21 de Mexicano, Menino Bom, de Eucário Barbosa, Corisco, de Lorival Oliveira, Porta-bandeira, de Guedes Peixoto, entre outros. 
FREVO-CANÇÃO - Nos fins do século passado surgiram melodias bonitas, tais como A Marcha n° 1 do Vassourinhas, convertida no Hino do Carnaval recifense, está presente tanto nos bailes sociais como nas ruas, anima qualquer reunião e enlouquece o passista. O frevo-canção ou marcha-canção tem vários aspectos semelhantes à marchinha carioca, um deles é que ambas possuem uma parte introdutória e outra cantada, começando ou acabando com estribilhos. Frevos-canção famosos: Borboleta não é ave, de Nelson Ferreira, Na mulher não se bate nem com uma flor, de Capiba, Hino de Pitombeira, de Alex Caldas, Hino de Elefante, de Clídio Nigro, entre outros. 
FREVO DE BLOCO - Deve ter se originado das serenatas preparadas por rapazes que participavam dos carnavais de rua da época, no início do século 20. A orquestra é composta de pau e corda: violões, banjos, cavaquinhos etc. Nas últimas três décadas observou-se a introdução do clarinete e da parte coral integrada por mulheres. Frevos-de-bloco famosos: Valores do Passado, de Edgar Moraes, Marcha da Folia, de Raul Moraes, Relembrando o Passado, de João Santiago, Saudade, dos Irmãos Valença, Evocação n° 1, de Nelson Ferreira, entre outros. Vários elementos complementares básicos compõem a dança. No frevo os instrumentos musicais serviam como arma quando uma agremiação se chocava com outra agremiação rival. Os capoeiras que vinham à frente das bandas originaram os passistas, exibindo-se e praticando a capoeira no intuito de intimidar os grupos inimigos. Os golpes da luta viraram passos de dança, embalados inicialmente, pelas marchas e evoluindo junto com a música do frevo. 
SOMBRINHA - Elemento complementar da dança. O passista a conduz como símbolo do frevo e como auxílio em suas acrobacias. A sombrinha em sua origem não passava de um guarda-chuva conduzido pelos capoeiristas pela necessidade de ter na mão como arma para ataque e defesa, já que a prática da capoeira estava proibida. Os primeiros frevistas não conduziam guarda-chuvas em bom estado, valendo-se apenas da solidez da armação. Com o decorrer do tempo, esses guarda-chuvas, grandes, negros, velhos e rasgados foram se transformando, acompanhando a evolução da dança, para converterem-se, atualmente, em uma sombrinha pequena de 50 ou 60 cm de diâmetro. 
VESTUÁRIO - O vestuário para dançar o frevo não exige roupa típica. A vestimenta é de uso cotidiano. A camisa mais curta que a comum, justa ou amarrada à altura da cintura, a calça também de algodão fino, colada ao corpo, variando seu tamanho entre abaixo do joelho e acima do tornozelo. Toda a roupa tem cores fortes e estampadas. A vestimenta feminina se diferencia pelo uso de um short sumário, de onde pendem adereços, ou minissaias, as quais dão mais sensualidade no momento de dançar. 
PASSOS DO FREVO - A dança se caracteriza pela individualidade. Os passos nasceram da improvisação dos dançarinos. Com o correr dos anos, foram adotados certos tipos ou arquétipos de passos. Existem atualmente um número incontável de passos ou evoluções com suas respectivas variantes. Os passos básicos elementares podem ser considerados os seguintes: dobradiça, tesoura, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, ponta de pé e calcanhar, saci-pererê, abanando, caindo-nas-molas e pernada, este último claramente identificável na capoeira.

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