terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Barbárie moderna

Editorial do HUMANITAS nº 11 – Junho/2013

Lamentável que estejamos retornando à barbárie da consciência. Que a velha luta do homem por um mundo melhor esteja dando em nada. Os guerreiros humanistas estão no campo de batalha e muitos deles saem frustrados e repletos de angústia.
Este momento em que vivemos é o retrato da sociedade mercantilizada. Muitas coisas se tornaram banais e essas banalidades se transformaram em regras de vida. Um exemplo é a violência que grassa pelo mundo, principalmente em nossa pátria, com os assassinatos gratuitos, jovens drogados, autoridades corruptas. Transgredir as leis tornou-se regra. Deixar que se matem uns a outros tornou-se lei.
Tudo agora é repleto de fragmentos e os guerreiros humanistas ficam estupefatos com as novas formas de viver e pensar. Os jovens de hoje se entregam à alquimia do agora e esquecem que devem lutar para tornar seu espaço de mundo um lugar onde se possa celebrar a liberdade.
A cultura hoje está googlitizada. As relações humanas celularizadas. Não mais existe uma Idade da Razão. Agora é a Idade do Cinismo, sobrevoando e habitando as consciências humanas, adentrando os cérebros em linguagens irracionais. O consumismo desenfreado é a palavra de ordem e o que conhecemos como filosofia tornou-se um conjunto de perguntas sem respostas. Tudo o que importa para o homem de hoje é a novidade do momento, o prazer do agora. Cada um pretende ser mais esperto que o outro para sobressair em um determinado espaço. O que mais se salienta na obra de arte para os críticos e estudiosos de hoje é a moldura e não o conteúdo do quadro.
Pensamento crítico? Nem pensar! Isso dá muito trabalho! O homem atual, em particular os jovens, prefere apenas observar, jamais ir para o campo de batalha. Poucos desejam ser protagonistas de mudanças. Muitos poucos pensam no futuro da raça. O shopping-center é mais importante que isso.
Os jovens homens e mulheres estão indiferentes à enorme dimensão social de suas existências. Estão se desconstruindo externa e interiormente. Aplaudem os big-brothers. Veneram autores de auto-ajuda. Trocam as bolas e fazem de um tal Paulo Coelho algo como Leon Tolstoi. Cantores jovens iludem as mocinhas com canções repletas de imbecilidade e pornografia. As igrejas fundamentalistas criam a ideia de um poderoso deus monetário e abrem as portas para abrigar a todos desde que paguem seus dízimos. Pastores dessas seitas compram enorme espaço na Grande Mídia televisiva para incrementar ao vivo e a cores a lavagem cerebral em seus crentes.
Esse perigoso retorno à caverna de Platão coloca o homem novamente em contato com as sombras, que ganham mais importância que nós mesmos e mais do que a realidade do mundo. Ninguém quer olhar de frente essa realidade. Hoje é difícil achar a paixão pela perpetuação humanística da vida.
Os verdadeiros humanistas, porém, estão formando seus exércitos ao redor do mundo. Vamos à luta para tentar retirar o homem da barbárie em que está mergulhando, vitimado pelo preciosismo do conhecimento sem sabedoria e pelos interesses grupais do capital internacional, do fundamentalismo religioso e do poder político.

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