domingo, 16 de fevereiro de 2014

Editorial do HUMANITAS - Janeiro/2013

Saber que nada sabemos
 
Gostaríamos de expor neste espaço algo para que todos os leitores pensem e busquem responder para si mesmos. A questão é simples: alguém que questiona outro alguém é porque se considera mais sábio? Cada um de nós pode ter seus próprios conhecimentos. Uns possuem conhecimentos maiores e outros menores, e alguns até conhecimentos ínfimos, tanto do mundo como de si.
Na realidade, podemos fazer livremente nossas próprias críticas ao alheio e buscar corrigir o posicionamento do outro. Assim, fica evidente que se pensamos possuir mais conhecimento, também acreditamos não ser necessário buscá-lo. Realmente, não é preciso buscar aquilo que já temos. No entanto, o outro, na maioria das vezes, em sua própria alçada, não aceita seus erros em relação ao que ele mesmo admitiu.
Todos nós já escutamos, lemos em algum livro ou fomos lembrados em alguma discussão sobre a mais famosa sentença filosófica: “Só sei que nada sei”. Quantos já pronunciaram essa frase em alguma ocasião? Essa sentença tem muito de criticismo em relação ao conhecimento alheio e faz com que seu autor se torne despretensioso naquilo que ele mesmo conhece. Temos em mente o conhecer como um longo caminho. Continuamos a aprender e a buscar esse conhecer nos nichos intelectuais e culturais mais diversos. E vocês?
Um sábio busca algo? Ou não precisa buscar mais nada? Precisamos primeiro nos entender como ignorantes para que possamos alcançar o conhecimento. Quem se julga sábio acredita não mais precisar desse entendimento. Dessa forma, o sábio fica acorrentado. É somente quando nos descobrimos ignorantes, que começamos a nos libertar das correntes, desmascarando tudo que nos confunde e nos ilude. Principalmente, no tocante ao nosso pseudoconhecimento, que praticamente prende nosso espírito em uma masmorra cerebral.
Às vezes, a sentença socrática é pronunciada repetidamente e torna-se quase um mantra no meio de todos os “sábios” que nos cercam. No entanto, se temos consciência de nossa ignorância, podemos, ao tentar dirimir essa ignorância, engendrar em nós o poder da dúvida, tão defendida pelo grande José María Vargas Vila. Como ignorantes teremos o poder de duvidar das mais evidentes verdades. Através da filosofia, principalmente. Exercitar a dúvida elimina as ilusões que nos foram encilhadas no cérebro ao longo de nossas vidas. Exercitando a dúvida alcançamos a ignorância. E na ignorância deixamos de sustentar as ideias infundadas e sem racionalidade que os pretensos “sábios” empurraram para dentro de nossos cérebros. 
Só sei que nada sei” reflete, portanto, a alma do verdadeiro filósofo. Ele busca na sua ignorância, o próprio valor do conhecimento. E essa busca deverá ser interminável. Assim, vemos que a autêntica ignorância é o único caminho onde podemos encontrar o conhecimento.
Coisa extraordinária! Ser ignorante é buscar conhecer. Depuraremos todas as coisas que o mundo nos oferece cotidianamente, principalmente as ideias enganosas e preconcebidas. E temos que nos esforçar nessa depuração.
Temos de possuir método nesse depurar. E aos demais que nos cercam, sempre que nos busquem corrigir erros e apontar acertos, estaremos a apresentar a frase do filósofo, provocando continuamente a lembrança de que sabemos que nada sabemos como uma maneira realista de debater e filosofar.

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