Texto
de Genésio Linhares – Professor MS – Recife/PE
Publicado no HUMANITAS nº 5 – Dezembro/2012
Quando
poderemos ver a atuação do Estado e de todos os Estados-membros protegendo com
justiça, os direitos essenciais dos seres humanos?
Duas datas neste mês de Dezembro não são
muito lembradas: o dia 8, dia da Justiça e o dia 10, quando se comemora o
aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Este é o 74º
ano de sua existência. Queremos aqui, neste espaço, prestar nossa homenagem a
essas datas mais simbólicas do que reais e de efetivas aplicações à humanidade.
Na verdade, queremos é denunciar os
propositais esquecimentos delas. E se não há extensa e cônscia comemoração, é
exatamente porque constatamos mais injustiças e falta de respeito aos direitos
inalienáveis da maioria de todo e qualquer ser humano, principalmente entre os
povos mais pobres e miseráveis do planeta.
Como poderemos falar de justiça e direitos
humanos quando em torno de 247 mega-empresários detêm as maiores fortunas do
mundo, enquanto países africanos como o Zimbábue tem uma grande parte da sua
população sofrendo com falta de trabalho, a miséria e a fome matando milhares
de crianças, jovens e adultos? Na Índia, outros milhares morrem de inanição. Na
América Central e do Sul, outros tantos se encontram abaixo da linha da
pobreza.
Onde estão a justiça e o cumprimento dos
direitos humanos?
É uma lástima para a História, pois já
deveríamos ter transposto essa página dramática, amarga, intragável e
inaceitável. Sobra lauta riqueza, luxo e desperdício de um lado, faltando quase
tudo do outro lado deste rio da vida, onde grande parte da população do mundo é
marginalizada, alienada e extirpada de seus justíssimos direitos mínimos para
poder sobreviver e ter a dignidade de reconhecer-se como ser humano.
O termo justiça vem do latim justitia que significa equidade, conformidade com o direito. E neste sentido,
entende-se também, o sentimento de equidade, espírito de justiça, bondade,
benignidade. E o termo equidade, do latim aequalitas,
é igualdade, uniformidade; figurativamente harmonia (igualdade de proporções),
regularidade na vida. O substantivo aequatio
entende-se como nivelamento, igualdade,
distribuição igual. (fonte: Dicionário
Escolar Latino – Português, organizado
por Ernesto Faria. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura –
Dep. De Educação, 1962).
No plano teórico, filosoficamente, e no
campo propriamente da ciência do direito a abordagem sobre justiça e sobre o
próprio direito são bastantes profundas e complexas, mas estão todos lá. Todos
têm consciência deles. Entretanto, o problema está no plano real, no plano da
sua aplicabilidade prática.
Pelos sentidos esclarecidos, podemos
perceber o quão distantes estamos da implementação eficaz e eficiente da
justiça, da distribuição mais igualitária das riquezas e dos direitos humanos
no seio de e para toda a sociedade. Sejam a nossa, a de países paupérrimos e
nos próprios países ricos, ditos de primeiro mundo, onde as contradições e as
crises socioeconômicas - muito comuns em países de terceiro mundo - no contexto
atual têm se mostrado alarmantes e sem soluções a curto e médio prazos.
Harmonia e espírito de justiça estão ou
muito aquém ou muito além das preocupações de muita gente e do estado, que
deveria inexoravelmente trabalhar e desempenhar todos os esforços em prol da
justiça e da proteção dos direitos universais do ser humano.
O que verificamos é a existência de um
sistema econômico basear a produção de riqueza na exploração desumana, selvagem
e bárbara. Além disso, alienando e massificando a todos com a falsa ideologia
de estar defendendo a liberdade, a democracia, a livre concorrência,
respeitando os direitos éticos das pessoas e praticando a justiça.
Puro discurso sofístico e retórico. Tudo
isto fere os princípios fundamentais que prega a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. No preâmbulo dessa Declaração encontramos:
“Considerando essencial que os direitos
humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja
compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão”.
Onde podemos ver a atuação do nosso Estado
e de todos os Estados-membros que assinaram este documento, protegendo com
justiça, os direitos essenciais dos seres humanos oprimidos, enganados, explorados
e arrancados de sua dignidade e de sua humanidade? Contudo, deveriam, pois se
comprometeram. “Considerando que os
Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações
Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a
observância desses direitos e liberdades.”
Parece
enfim, que tudo não passa apenas de inalcançáveis ideais que jamais iremos
vislumbrar a sua realização com seriedade e plenitude. Parece que a exploração
do homem pelo homem, a escravização, a discriminação entre etnias e povos, as
intolerâncias e fanatismos ortodoxos e dogmáticos religiosos, as desigualdades
entre homens e mulheres, o desrespeito às minorias, as profundas desigualdades
econômicas sociais, a falta de educação com qualidade, o aniquilamento das
culturas e tradições locais etc, tudo isso ainda irá continuar e se perpetuar
como se a Declaração não existisse. E ela já está em seu 74º aniversário. Se
queremos um mundo mais humano e mais justo, de acordo com esses direitos inalienáveis,
é evidente que teremos muita luta pela frente. O importante é não desistir e
não tomarmos aquela lição estoica da indiferença. O que nos levaria à total
inércia e conformismo.
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