Poemas
publicados no HUMANITAS nº 6 – Janeiro/2013
Aconteceu
na minha rua
Karline Batista – Estudante- Aracati/CE
Karline Batista – Estudante- Aracati/CE
Não havia vagas
Braços fortes cruzados
Corpos robustos escorados
Sem vagas. Só lamento.
Mais uma vez o homem volta ao lar
Sem um tostão no bolso
Sem um quinhão de dignidade
Só um trago de desgosto.
A mulher vai perguntar.
O filho vai chorar.
A filha vai pedir.
Mas ele não lamentará.
Pois desta vez ele trará
Uma bala embrulhada no peito.
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Verso escuro
Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE
Olho a noite numa lascívia controlada
Sentindo o vento novo fruir na escuridão
Desejos de luxúria marcam a estrada
A olhar o corpo nu desta negra canção
Impávida e irredenta afra libertada
Onde o iluminar sideral faz aquarela
Noite escura e pronta para ser amada
Mesmo com a lua a fazer-se sentinela
E sorvendo goles das vidas verdadeiras
O poeta rima noite ao só e amor aos dias
E se entrega ao abandono derradeiro
E entre os farfalhares das palmeiras
Na virgindade luzente das estrelas frias
O verso quase escrito se destrói inteiro
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Pensando em você
Genésio Linhares – Professor – Recife/PE
Ontem pensei em você, onde fui?
Símbolos de cartas estão rasgando
Qual pátria é esta? Pois estou filmando
Juízo final no supremo, ui!
Ontem recolhi velhos poemas meus
Muitas traças nas rimas fui matando
Quando vi seu retrato se esgarçando
Em tal banheira de banhas. Ó deus!
No corredor da morte mil correndo
Saindo pela culatra fedida
Soçobram migalhas naquela lama
E ainda gravatas prometendo
Bravatas a uma alma desferida
Só resta agora você e eu na cama.
Genésio Linhares – Professor – Recife/PE
Ontem pensei em você, onde fui?
Símbolos de cartas estão rasgando
Qual pátria é esta? Pois estou filmando
Juízo final no supremo, ui!
Ontem recolhi velhos poemas meus
Muitas traças nas rimas fui matando
Quando vi seu retrato se esgarçando
Em tal banheira de banhas. Ó deus!
No corredor da morte mil correndo
Saindo pela culatra fedida
Soçobram migalhas naquela lama
E ainda gravatas prometendo
Bravatas a uma alma desferida
Só resta agora você e eu na cama.
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Revelação
Valdeci Ferraz – Advogado – Caruaru/PE
Alguém me disse: amor não existe
É tudo circunstância, interesses mútuos.
Apontou para o meu desejo e falou:
Amarás quem o matar.
Amarás o assassino do teu desejo.
Então eu desejei saber do amor
E o vi com a mala pronta,
Passagem na mão para outro mundo.
Pensei nas mulheres que amei
E nos desejos saciados, sepultados,
Teria eu amado sem desejo?
Até que venha e se proste
E se entregue sem reservas
Manter-se-á a chama de uma paixão
Infinita enquanto dure,
Porém o amor tomará mil disfarces
E desaparecerá no tempo,
Consumido na cremação dos ritos.
Desejo por desejo, paixão por paixão,
Um trato tácito com a aprovação
Dos corpos carentes,
Cansados da solidão.
Revelação
Valdeci Ferraz – Advogado – Caruaru/PE
Alguém me disse: amor não existe
É tudo circunstância, interesses mútuos.
Apontou para o meu desejo e falou:
Amarás quem o matar.
Amarás o assassino do teu desejo.
Então eu desejei saber do amor
E o vi com a mala pronta,
Passagem na mão para outro mundo.
Pensei nas mulheres que amei
E nos desejos saciados, sepultados,
Teria eu amado sem desejo?
Até que venha e se proste
E se entregue sem reservas
Manter-se-á a chama de uma paixão
Infinita enquanto dure,
Porém o amor tomará mil disfarces
E desaparecerá no tempo,
Consumido na cremação dos ritos.
Desejo por desejo, paixão por paixão,
Um trato tácito com a aprovação
Dos corpos carentes,
Cansados da solidão.
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Cicatrizes
Antônio Carlos Gomes – Médico – Guarujá/SP
Vapores abertos de um ocre abstrato
Tingem a noite que se esvai vaporosa
Ou como odores de virgens amorosas
Ou como vestes onde o negro é estrato.
É tudo oco, cupim ali passou em praga
Dono de gula voraz. Tudo destruiu...
E o nada gritando, berrando surgiu
Afogando no chopp tudo que é mágoa.
E o nada corre. Se sobressai gritante
Tremem abaladas as almas corroídas
Pela dor de não ter nada a cada instante.
E a chaga, já com o tempo endurecida
Fica só, nem os vermes a devoram
Pois o tempo também os evaporam.
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Cicatrizes
Antônio Carlos Gomes – Médico – Guarujá/SP
Vapores abertos de um ocre abstrato
Tingem a noite que se esvai vaporosa
Ou como odores de virgens amorosas
Ou como vestes onde o negro é estrato.
É tudo oco, cupim ali passou em praga
Dono de gula voraz. Tudo destruiu...
E o nada gritando, berrando surgiu
Afogando no chopp tudo que é mágoa.
E o nada corre. Se sobressai gritante
Tremem abaladas as almas corroídas
Pela dor de não ter nada a cada instante.
E a chaga, já com o tempo endurecida
Fica só, nem os vermes a devoram
Pois o tempo também os evaporam.
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Homenagem póstuma a Millôr Fernandes (1923-2012)
Obstinação dos Outros
Deixamos de beber
E em cada esquina
Abriram um novo bar.
Obstinação dos Outros
Deixamos de beber
E em cada esquina
Abriram um novo bar.
Abandonamos o fumo:
Passam homens, crianças
E navios
A fumar.
A rua, como nunca, está cheia de mulheres
Jovens, lindas de corpo, sedutoras de andar.
Ah, mas já deixamos de amar.
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Reflexão sobre a reflexão
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