terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O preconceito e as suas violências na sociedade humana

Texto de Manfred Grellmann – Camaragibe/PE
publicado no HUMANITAS nº 10 – Maio/2013

Se o indivíduo não se guiar pelas regras estabelecidas ou tácitas, sofrerá segregação, o que não deixa de ser uma forma de preconceito

O preconceito existe desde os primórdios da espécie humana e com a “evolução” da sociedade está havendo esforço para banir este comportamento social. Será que isso acontecerá? Mas o que é preconceito? Uma consulta ao dicionário diz ser “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico; ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, ponderação ou razão; sentimento hostil assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância”. Como se pode ver pela definição, o preconceito está ligado à ignorância.
Numa análise mais detalhada, percebemos que o preconceito ocorre de uma maneira ou de outra em todas as classes sociais. Faz parte de nossas vidas muito mais constantemente do que a maioria pode imaginar. É um sentimento de muitas expressões e, apesar de em determinadas situações ele não ser condenável ou sequer ser considerado, não deixa de ser preconceito ou de gerar um sentimento preconceituoso em uma ou várias pessoas, em relação às mais diversas situações. Podemos falar de três formas de preconceito.
O primeiro é o chamado preconceito “barato” ou de fila de supermercado ou qualquer outra, quando se vê as mais estapafúrdias e preconceituosas reações em relação a organizações, funcionários, atendimentos, procedimentos exigidos etc, quando todos têm uma solução para tudo, principalmente para resolver seus egoísticos problemas imediatos ou porque todos sempre têm de reclamar de alguma coisa e nessa circunstância “consertam” com a língua a sociedade inteira.
O segundo já é mais ponderado, possivelmente analisado e estudado, tendo uma linha de raciocínio e argumentação. Dependendo de qual poder é estabelecido, pode ser motivo para muito barulho, mesmo estando certo. Em relação à política, a Grande Mídia pode se encarregar de “provar” que o certo está errado e aí teremos um preconceito estabelecido com “sinete de autoridade”. 
E o terceiro! O ser humano é extremamente gregário. Provavelmente existem poucas pessoas isoladas. Ora, a condição gregária ou societária, gera a necessidade de se organizar em grupos, em classes ou forças. Para pertencer a elas, existem regras, exigências e objetivos. Mesmo o simples convívio social tem regras que devem ser seguidas.
Se o indivíduo não se guiar pelas regras estabelecidas ou tácitas, sofrerá segregação o que não deixa de ser uma forma de preconceito. É um preconceito justificado, porque para atingir os objetivos do grupo, com sucesso, e gerar uma sensação de segurança e poder é preciso que ocorra cooperação entre os envolvidos.
Nós nos sentimos extremamente bem quando percebemos todos participantes do nosso grupo alinhados com o mesmo objetivo, filosofia ou causa. Isso nos dá sensação de segurança e força. A história mostra que líderes que conseguiram reunir todos os membros de uma nação em torno de alguma política de interesse e bem-estar comuns, geraram ressentimentos e preconceitos em outras nações.
Os modismos que hoje tanto são propagados pela Grande Mídia como tipo de corte de cabelo, roupas de grife, cosméticos, músicas, estilo de vida, estilo de morar e outros tantos, criam classes arrogantes e extremamente preconceituosas. Quem não acompanha é imediatamente olhado com desprezo. Se acompanhar a tendência, ainda se busca verificar de que classe é e se tem dinheiro. É o que se pode chamar de mercantilização do preconceito, que passa a gerar poder econômico.
Podemos perceber que há uma diferença bem clara no sentimento que sentimos quando nos lembramos de uma pessoa que concordou com nossos objetivos (pensamentos) e a outra pessoa que não concordou. Há um sentimento de antipatia em relação à última, o que é preconceito, mesmo sabendo que a única coisa verdadeiramente livre que existe é o pensamento. É claro que as divergências são necessárias, até porque as diferenças entre as pessoas também ocorrem nos pontos de vista, na forma de pensar.
Os dois preconceitos mais comuns na vida cotidiana são em relação ao negro e ao homossexual. O mais condenável é em relação ao negro. Eles foram caçados, sequestrados, arrancados de seu solo natal, transportados em condições de inaudita degradação higiênica e se ainda vivos, vendidos como mercadoria para a preguiçosa e vagabunda classe abastada que, além de total preconceito em relação ao trabalho, o tinha também em relação ao nativo africano.
Veja-se hoje que numa loja um branco compra facilmente com cartão de crédito, mas se aparecer um negro para fazer a mesma compra serão exigidos mais documentos a este do que ao primeiro. E o mais interessante é que por ironia do destino o negro é responsável pelo fim do branco. As miscigenações de ambas as raças e os meios de comunicação aceleram cada vez mais a mistura. O branco em extinção só colhe o que plantou! Mestiçagem!
Quanto ao homossexual, condição tão antiga como a existência da espécie humana, este ainda não achou na sociedade, porque lhe é negado, o espaço para convívio. E por outro lado, muitos homossexuais não se dão ao respeito.  Mostram-se muitas vezes numa ostentada reação de trejeitos e tiques que geram reações preconceituosas até das pessoas que aceitam a condição. Quantas não são as piadas feitas em relação a eles? Inclusive pelos meios de comunicação, pela TV. Essas piadas com requintes de imitação demonstram uma aversão da pior qualidade. Este é um preconceito dos grandes. Fazer piadas em relação a alguém é a manifestação de um status superior (suposto) em relação a um inferior. É preconceito! Uma coisa é indiscutível: cada ser deve viver com os recursos e expressões que tem! Por outro lado, impor uma bandeira e um estilo de vida na tentativa de corrigir atitudes da sociedade preconceituosa é incorrer em preconceito maior ainda.

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