Texto publicado no jornal HUMANITAS Nº 6 – Janeiro/2013
As palavras de Vargas Vila, hoje, por constrangedoras que sejam, servem
para pensar no indizível, no que não temos coragem de pronunciar
Os homens são capazes de amar a humanidade
em geral e até mesmo de se declararem dispostos a morrer por esta, mas são
profundamente incapazes de suportarem o indivíduo concreto e específico. O
próximo torna-se o distante, o conceito, a abstração. O ser humano tem dificuldade
de assumir a verdade para si e nas relações com os demais. Ele precisa se
refugiar na imaginação e na mentira.
Dostoievski, que compreendia como poucos a alma humana, observou que: “Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio...” Vargas Vila afirma algo semelhante: “A sinceridade é uma virtude que a devemos somente a nós mesmos. Praticá-la com os outros é um suicídio”.
“Seja sincero e você corre o sério risco de morrer socialmente. Muitos lhe considerarão inconveniente e grosseiro. Outros dirão que você padece da ingenuidade dos loucos e das crianças – os únicos que, em geral, não temem a espontaneidade – e o aconselharão a “pensar antes de falar”; dirão que seu tom de voz é ofensivo. O ser humano precisa mentir e, especialmente, ouvir mentiras. Ele não está preparado para conviver com a verdade. A mentira, como bem salienta Vargas Vila, é o fundamento da nossa sociedade”. (Bazzo, Ezio Flavio - Assim falou Vargas Vila - Brasília, Companhia das Tetas Publicadora, 2005).
“O único método reflexivo de triunfar é a mentira; a verdade é espontânea e irreflexiva; por isso leva sempre à derrota; ninguém se salvou por dizer uma verdade; todos os vencedores o foram pelo poder de uma mentira...”
“A mentira é o estado natural do homem. Na mentira vivemos, pela mentira gozamos e é do seio generoso da mentira que extraímos as únicas gotas de mel que adoçam a vida. A mentira é a esmola dos céus, nela vibra a bondade suprema, é ela que dá força ao espírito para não desfalecer, não morrer, não fechar as asas e cair dos céus exóticos do sonho sobre a terra miserável”.
“A verdade é de tal maneira odiosa aos homens, que quando mencionam uma, a colocam na boca de um louco como Hamlet. E é para provar sua loucura que este diz uma verdade”.
Nestas condições, onde a verdade deve ser socialmente dissimulada e substituída pelas aparências, talvez Vargas Vila esteja certo quando define a amizade como uma “... forma de comércio entre os homens, máscara de Aristófanes sob a qual se gesticula à vontade; consórcio de duas vaidades, junção de duas mentiras sob qualquer interesse sempre bastardo (...) a hipocrisia é o laço que une os homens em sociedade: no dia em que imperasse a franqueza, se destruiriam uns aos outros como os soldados de Cadmos”.
As palavras de Vargas Vila “falam” por si mesmas. Não precisamos acatá-las como verdades absolutas, claro. Resta-nos apenas escandalizar-nos ou suspender nossos preconceitos e refletirmos sobre o seu significado.
Contudo, se duvidamos, temos algo a aprender. As palavras dele em nosso tempo atual, por constrangedoras que pareçam, servem bem para pensar no indizível, naquilo que não temos coragem de pronunciar.
Como bem indagou Ezio Flavio Bazzo (*) em seu livro Assim falou Vargas Vila (Brasília, Companhia das Tetas Publicadora, 2005):
"Quantos de nós estamos dispostos a assumir os riscos de dizer aos nossos amigos e pessoas amadas o que realmente pensamos delas? Quantas amizades, casamentos etc, resistem à verdade? Talvez por isso preferimos nos enganar mutuamente, como se pisássemos em cristais sem assumirmos o risco de quebrá-los”.
Dostoievski, que compreendia como poucos a alma humana, observou que: “Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio...” Vargas Vila afirma algo semelhante: “A sinceridade é uma virtude que a devemos somente a nós mesmos. Praticá-la com os outros é um suicídio”.
“Seja sincero e você corre o sério risco de morrer socialmente. Muitos lhe considerarão inconveniente e grosseiro. Outros dirão que você padece da ingenuidade dos loucos e das crianças – os únicos que, em geral, não temem a espontaneidade – e o aconselharão a “pensar antes de falar”; dirão que seu tom de voz é ofensivo. O ser humano precisa mentir e, especialmente, ouvir mentiras. Ele não está preparado para conviver com a verdade. A mentira, como bem salienta Vargas Vila, é o fundamento da nossa sociedade”. (Bazzo, Ezio Flavio - Assim falou Vargas Vila - Brasília, Companhia das Tetas Publicadora, 2005).
“O único método reflexivo de triunfar é a mentira; a verdade é espontânea e irreflexiva; por isso leva sempre à derrota; ninguém se salvou por dizer uma verdade; todos os vencedores o foram pelo poder de uma mentira...”
“A mentira é o estado natural do homem. Na mentira vivemos, pela mentira gozamos e é do seio generoso da mentira que extraímos as únicas gotas de mel que adoçam a vida. A mentira é a esmola dos céus, nela vibra a bondade suprema, é ela que dá força ao espírito para não desfalecer, não morrer, não fechar as asas e cair dos céus exóticos do sonho sobre a terra miserável”.
“A verdade é de tal maneira odiosa aos homens, que quando mencionam uma, a colocam na boca de um louco como Hamlet. E é para provar sua loucura que este diz uma verdade”.
Nestas condições, onde a verdade deve ser socialmente dissimulada e substituída pelas aparências, talvez Vargas Vila esteja certo quando define a amizade como uma “... forma de comércio entre os homens, máscara de Aristófanes sob a qual se gesticula à vontade; consórcio de duas vaidades, junção de duas mentiras sob qualquer interesse sempre bastardo (...) a hipocrisia é o laço que une os homens em sociedade: no dia em que imperasse a franqueza, se destruiriam uns aos outros como os soldados de Cadmos”.
As palavras de Vargas Vila “falam” por si mesmas. Não precisamos acatá-las como verdades absolutas, claro. Resta-nos apenas escandalizar-nos ou suspender nossos preconceitos e refletirmos sobre o seu significado.
Contudo, se duvidamos, temos algo a aprender. As palavras dele em nosso tempo atual, por constrangedoras que pareçam, servem bem para pensar no indizível, naquilo que não temos coragem de pronunciar.
Como bem indagou Ezio Flavio Bazzo (*) em seu livro Assim falou Vargas Vila (Brasília, Companhia das Tetas Publicadora, 2005):
"Quantos de nós estamos dispostos a assumir os riscos de dizer aos nossos amigos e pessoas amadas o que realmente pensamos delas? Quantas amizades, casamentos etc, resistem à verdade? Talvez por isso preferimos nos enganar mutuamente, como se pisássemos em cristais sem assumirmos o risco de quebrá-los”.
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ANÁTEMAS
POLÍTICA: “É
sendo homem de partido que se chega ao poder; mas é deixando de ser homem de
partido que se conserva o poder; os traidores sabem muito bem disso, e o praticam”.
“De todos os inimigos das revoluções ninguém mais incomodados nem mais intolerantes que aqueles que foram revolucionários; eles não perdoam aos que pretendem levar à vitória os movimentos que eles levaram ao desastre. Creem que porque eles envelheceram, as ideias envelheceram também, e que sua decrepitude é a decrepitude do mundo”.
“De todos os inimigos das revoluções ninguém mais incomodados nem mais intolerantes que aqueles que foram revolucionários; eles não perdoam aos que pretendem levar à vitória os movimentos que eles levaram ao desastre. Creem que porque eles envelheceram, as ideias envelheceram também, e que sua decrepitude é a decrepitude do mundo”.
“O direito ao voto me parece um direito ao
envilecimento; votar é abdicar; é eleger-se um amo; é dar-se um amo, é mais vil
que suportá-lo; um homem livre não pode se aproximar de uma urna eleitoral se
não é para Quebrá-la; votar é perpetuar a vida do tirano; daquele tirano que
nos escraviza e nos envilece a todos: o Estado”.
“É tão fácil ter partidários... para isso
basta renunciar a nossa liberdade. O que é difícil é conservar-nos autênticos e
livres”.
RELIGIÃO: “O homem é a mais forte razão de ateísmo que
existe na terra; o homem é um argumento contra Deus”.
“A virtude cristã é uma virtude de escravos”.
“O
homem que se ocupa em destruir ídolos, não tem porque se preocupar em fabricar
outros: toda idolatria é o culto à mentira. Não existe nada sobre a terra, nem
fora dela, nada digno de ser adorado pelos homens. A adoração é um sinal de
debilidade, para não dizer de inferioridade”.
“O ódio dos sacerdotes aos filósofos e dos filósofos aos sacerdotes, não é ódio, é rivalidade de pastores empenhados em conduzir sozinhos o rebanho... e de tosquiá-lo”.
“O mundo é tão absurdo que para explicá-lo, o homem teve necessidade de um absurdo ainda maior e criou Deus... e exclamou: credo in absurdum”.
“Nada nos faz desconfiar mais da existência de Deus do que as pessoas que acreditam nele”.
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“O ódio dos sacerdotes aos filósofos e dos filósofos aos sacerdotes, não é ódio, é rivalidade de pastores empenhados em conduzir sozinhos o rebanho... e de tosquiá-lo”.
“O mundo é tão absurdo que para explicá-lo, o homem teve necessidade de um absurdo ainda maior e criou Deus... e exclamou: credo in absurdum”.
“Nada nos faz desconfiar mais da existência de Deus do que as pessoas que acreditam nele”.
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(*) Ezio
Flavio Bazzo - Nasceu em Santa
Catarina no dia 8 de dezembro de 1949 e mudou-se ainda criança para o Estado do
Paraná. Iniciou os estudos em sociologia na cidade de Londrina (PR)
transferindo-se em seguida para o curso de psicologia. Cursou mestrado em
psicologia clínica na Universidade Nacional Autônoma do México e doutorado na
Universidade Nacional de Barcelona, com uma tese sobre Wilhelm Reich. Mais
tarde dedicou-se a um pós-doutoramento no Instituto de Altos Estudos da América
Latina, em Paris. Apesar dessa longa permanência no meio acadêmico, Bazzo considera
o estudo formal uma grande fraude, um adestramento desnecessário e inútil que
vai deixar limitações e cicatrizes profundas na capacidade de pensar dos
estudantes e dos futuros "doutores". Pai de dois filhos, nunca deixou
de fazer críticas radicais tanto ao casamento (uma idiotice compulsória) como à
família, segundo ele, o mais importante foco de psicopatologias.
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