terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Refúgio poético

Poemas publicados no HUMANITAS nº 10 – MAIO/2013


Fera noturna
Victor Hugo Medeiros de Vasconcelos- Estudante- Recife/PE

Silêncio na metrópole, o que a pouco havia
não há mais,
recolheram-se estes que transitavam em afazeres
poucos os que ainda rondam o asfalto,
sinistros seres.
Embarcaram as lembranças e vidas neste
imenso cais...

Respirações e roncos uníssonos...
Roncos de homens e máquinas!

Poucas as máquinas vorazes e velozes
que ainda teimam em quebrar o silêncio noturno,
muitos os homens que em seu leito
desfrutam de um sono oblíquo , profundo...

Mas meu ser permanece intacto e simplório...

Como tal lobo que uiva perante a luz do luar.
Já sinto a brisa que é vida,
é o vento que afasta minhas perguntas em ida,
fico então amaldiçoado, eternamente a me indagar:

será que por leis a terra é regida?
será racional meus instintos matar?

Espero que tudo isso não me venha a calar...

Pois nessas luas que passam minha missão é cumprida...
não há mais a presa calada e retida
agora há fera selvagem num surto a urrar!
................................

Rejeitado

Antônio Carlos Gomes – Médico - Guarujá/SP

Rejeitado foi, rejeitada a vida,
Agressão brutal que o desconserta
Perdido e solto no espaço sem guarida
Dos sonhos que já viveu: nada resta!

A imagem própria por si já emitida
De uma forma pontual, sempre correta,
Que levava altivo por toda vida
Perdida e fria ficou, ficou incerta.

Em rodeios tíbios, frouxos, desconexos,
Procura acertar o rumo dos passos
A vagar, no lugar incerto: o espaço
Perdido.  O ser total não tem mais nexo.

Olhando ao espelho ofuscado, nada!
A imagem de si está deformada.
...........................
O fingimento da arte
Genésio de Almeida Linhares - Professor MS - Recife/PE

Será que tudo na vida é fingimento
Ou haverá no mundo um pouco de verdade?
Talvez no cético haja sinceridade
Ao duvidar do próprio conhecimento

E no áureo idealismo o puro pensamento
Conquistou a essência da profundidade
Ou se perdeu na abstrata idealidade
E o inatingível de Kant ainda é um tormento?

Porém, o que professam as religiões
Com seus aparatos de simbologia
Ao velar mais que desvendar o mistério?

Ah! Como prefiro a arte e suas ilusões
Pois se finge verdade um mundo em magia
Sempre é fiel a este ofício e ministério.
.....................................
O divisor é o tempo
Robson Sampaio – Jornalista - Recife/PE

Torna a vida mais vida
e a morte mais morte.

Contraponto que induz
à busca do nada.

O divisor é o tempo...

Encurta a distância do sempre
na ilusão de tudo.

A vida é a morte,
a morte é a vida.

O divisor é o tempo...
....................................
Ser poeta
Silvia Mota – Poeta - Cabo Frio/RJ

Poeta é beijo e ferida.
Poeta é demo e asceta.
Poeta é morte e é vida.
Se não for – não é poeta!
.............................................
Glamour
Valdeci Ferraz – Advogado - Caruaru/PE

A minha alma não se cansa
Nem afronta meu corpo tal realidade
Prossigo sem ver mudança
No amor que ultrapassou a eternidade
Conservo-me vivo e forte,
Ainda que me estreite de leve a morte.

Sou de tal modo viçoso
Que trago no peito tamanha glória
Troféu de um vitorioso
A escrever com sangue a sua própria história,
Entrego-a aos desvalidos
Para que sejam por ela remidos.

Que o amor, ao amor se renda
Sem razão, sem reservas, sem mistério,
Que seja por fim só uma prenda:
Conservar-se inaudito, sempre etéreo,
E vencido todo mal,
Sejam todos amantes, amantes afinal.

Estabeleço assim meu destino
Contrariando roteiro de autor falaz
A conservar-me homem-menino
Amante da vida, amante da paz
Que todos digam amém
Os deuses e os diabos também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário