Texto de Genésio Linhares – Professor MS –
Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 10 – Maio/2013
As contribuições dessa mulher são muitas
para nosso mundo hodierno, guardando, é claro, as limitações e o contexto
histórico de sua época
É impressionante como erramos quando fazemos
julgamentos apressados e deveras superficiais sobre as pessoas. Isto ocorreu
comigo ante uma distinta, lúcida e genial figura como a economista, filósofa e
militante Rosa Luxemburgo. A princípio, sem conhecer nada de seu trabalho e
suas reflexões filosóficas e de economia política, acreditava que ela não tinha
muito a contribuir nas críticas ao sistema capitalista. Enganei-me
completamente. Este pequeno artigo tentará mostrar um pouco quem foi esta
grande mulher e algumas de suas ideias políticas que têm uma atualidade
impressionante.
Rosa Luxemburgo ou Róża Luksemburg nasceu na cidade de Zamość, Polônia, em 5 de março de 1871 e foi assassinada em Berlim, em 15 de janeiro de 1919 por forças do exército alemão. Era judia, de família comerciante, mas defendia as ideias marxistas combinadas com muitas das ideias anarquistas. Obteve a nacionalidade alemã em 1898 e era internacionalista. Fundou, em 1894, o Partido Social-Democrata (SPD) da Polônia e Lituânia, que naquele período tinha um caráter revolucionário, e foi dirigente do Partido Social-Democrata alemão. Envolveu-se com a Revolução Russa, combateu as teorias revisionistas de Eduard Bernstein - de tendências direitistas pró-capitalismo na Alemanha - e discordava que o movimento dos trabalhadores se envolvesse no âmbito parlamentar. Desejava ampliar as ações sindicais nas convenções coletivas, defendia a greve geral política e era contra as posições centralistas e burocráticas de Lênin. Publicou várias obras e foi professora.
A filósofa e aguerrida militante em seu terceiro e mais conhecido escrito (na prisão) sobre a Revolução Russa, de 1918, mostrou-se bastante solidária com a causa do povo russo, mas segundo Michael Löwy “(...) ela formula sua crítica, radical, incisiva e profundamente lúcida aos erros dos dirigentes bolcheviques: não pode haver socialismo, insistia Rosa Luxemburg, sem liberdade de expressão e de organização, democracia, sufrágio universal”. (Prefácio da obra: Rosa Luxemburg ou o preço da liberdade, Jörn Schüntrumpf. São Paulo; Expressão Popular, 2006. p.10).
Além das profundas preocupações democráticas e da liberdade do povo e dos trabalhadores, Rosa respeitava a dimensão subjetiva de cada indivíduo envolvido no processo de luta contra a exploração do trabalho pelo sistema capitalista.
No final do prefácio da obra já referida Löwy assevera: “Gostaria de lembrar apenas um, o folheto sobre A crise da socialdemocracia, escrito na prisão em 1915 e assinado com o pseudônimo ‘Junius’. É ali que aparece uma fórmula crucial para a concepção marxista da história: socialismo ou barbárie. Isto é: a história é um processo aberto, em que o assim chamado ‘fator subjetivo’ – consciência, organização, iniciativa – dos oprimidos torna-se decisivo. Não se trata mais de esperar que o fruto ‘amadureça’, segundo as ‘leis naturais da economia’, mas de agir antes que seja tarde demais, antes que a barbárie triunfe. Com esse termo, Rosa Luxemburg não se referia a um passado tribal ou primitivo, mas às formas modernas da barbárie, como a própria Guerra Mundial, muito pior, em sua desumanidade mortífera, do que as práticas guerreiras dos conquistadores ‘bárbaros’ do Império Romano”. (Idem. p. 11).
As duas citações demonstram a sensibilidade de uma teórica humanista de grande respeito ético. Estas posições revelam como o seu pensamento independente ainda é bastante atual e mostram como uma mulher incomodava tanto ao sistema constituído como a esquerda marxista dogmática de sua época.
As suas análises críticas sobre o capitalismo são bem mais avançadas do que as análises de Karl Marx. Ela era marxista, mas como economista corrigiu muitos aspectos das ideias de Marx. Isto se deve principalmente porque o capitalismo no tempo histórico de Rosa Luxemburgo apresentava-se bem diferente do de Marx.
No entanto, o próprio Marx era bastante exigente e crítico consigo mesmo. Nenhuma obra estava acabada. Ele sabia da necessidade de sempre melhorá-la e avançar em novos conhecimentos. E neste sentido, Rosa, na verdade, foi deveras fiel a esta posição do seu mestre. Por outro lado, isto não significa que todas as suas análises e posições foram acertadas. Para os dias atuais, ante um capitalismo global e altamente técnico-científico que vem ampliando as suas formas de exploração, acúmulo de capital e aprofundando a desigualdade econômica, não é apenas a classe operária vítima deste sistema, mas outras classes (produtivas, prestadores de serviço e profissionais liberais) vêm sendo proletarizadas. Além disso, apesar das contradições se manterem e se aprofundarem, assim como a crise econômica dos EUA, Europa e Japão, particularmente, não conseguiremos ver o fim deste sistema tão cedo.
Agora, a ideia da “espontaneidade” das organizações operárias de Rosa Luxemburgo possui seu grande valor, estendendo-se hoje para toda uma população pobre e miserável. Até porque tem suas raízes na autogestão anarquista e de caráter democrático. No Brasil, nos últimos anos, surgiram muitos movimentos espontâneos e vários deles com sucesso, principalmente com o aparecimento e uso da internet e das redes sociais. Movimentos esses que deram mais resultados do que muitas organizações institucionalizadas as quais foram cooptadas e desviadas de seus legítimos objetivos. Exemplo bem contundente é a maioria dos sindicatos de diversas categorias.
Enfim, as contribuições de Rosa Luxemburgo são muitas para nosso mundo hodierno, guardando, é claro, as limitações e o contexto histórico de sua época. Ou seja, é preciso extrair e atualizar muitas dessas contribuições para ajudar a compreender e mudar a nossa história. Infelizmente nosso espaço é pequeno para aprofundar esses aspectos, mas que fique o incentivo para o leitor que ainda não a conhece: leia e descubra as obras desta grande mulher e faça a sua própria avaliação e crítica.
Rosa Luxemburgo ou Róża Luksemburg nasceu na cidade de Zamość, Polônia, em 5 de março de 1871 e foi assassinada em Berlim, em 15 de janeiro de 1919 por forças do exército alemão. Era judia, de família comerciante, mas defendia as ideias marxistas combinadas com muitas das ideias anarquistas. Obteve a nacionalidade alemã em 1898 e era internacionalista. Fundou, em 1894, o Partido Social-Democrata (SPD) da Polônia e Lituânia, que naquele período tinha um caráter revolucionário, e foi dirigente do Partido Social-Democrata alemão. Envolveu-se com a Revolução Russa, combateu as teorias revisionistas de Eduard Bernstein - de tendências direitistas pró-capitalismo na Alemanha - e discordava que o movimento dos trabalhadores se envolvesse no âmbito parlamentar. Desejava ampliar as ações sindicais nas convenções coletivas, defendia a greve geral política e era contra as posições centralistas e burocráticas de Lênin. Publicou várias obras e foi professora.
A filósofa e aguerrida militante em seu terceiro e mais conhecido escrito (na prisão) sobre a Revolução Russa, de 1918, mostrou-se bastante solidária com a causa do povo russo, mas segundo Michael Löwy “(...) ela formula sua crítica, radical, incisiva e profundamente lúcida aos erros dos dirigentes bolcheviques: não pode haver socialismo, insistia Rosa Luxemburg, sem liberdade de expressão e de organização, democracia, sufrágio universal”. (Prefácio da obra: Rosa Luxemburg ou o preço da liberdade, Jörn Schüntrumpf. São Paulo; Expressão Popular, 2006. p.10).
Além das profundas preocupações democráticas e da liberdade do povo e dos trabalhadores, Rosa respeitava a dimensão subjetiva de cada indivíduo envolvido no processo de luta contra a exploração do trabalho pelo sistema capitalista.
No final do prefácio da obra já referida Löwy assevera: “Gostaria de lembrar apenas um, o folheto sobre A crise da socialdemocracia, escrito na prisão em 1915 e assinado com o pseudônimo ‘Junius’. É ali que aparece uma fórmula crucial para a concepção marxista da história: socialismo ou barbárie. Isto é: a história é um processo aberto, em que o assim chamado ‘fator subjetivo’ – consciência, organização, iniciativa – dos oprimidos torna-se decisivo. Não se trata mais de esperar que o fruto ‘amadureça’, segundo as ‘leis naturais da economia’, mas de agir antes que seja tarde demais, antes que a barbárie triunfe. Com esse termo, Rosa Luxemburg não se referia a um passado tribal ou primitivo, mas às formas modernas da barbárie, como a própria Guerra Mundial, muito pior, em sua desumanidade mortífera, do que as práticas guerreiras dos conquistadores ‘bárbaros’ do Império Romano”. (Idem. p. 11).
As duas citações demonstram a sensibilidade de uma teórica humanista de grande respeito ético. Estas posições revelam como o seu pensamento independente ainda é bastante atual e mostram como uma mulher incomodava tanto ao sistema constituído como a esquerda marxista dogmática de sua época.
As suas análises críticas sobre o capitalismo são bem mais avançadas do que as análises de Karl Marx. Ela era marxista, mas como economista corrigiu muitos aspectos das ideias de Marx. Isto se deve principalmente porque o capitalismo no tempo histórico de Rosa Luxemburgo apresentava-se bem diferente do de Marx.
No entanto, o próprio Marx era bastante exigente e crítico consigo mesmo. Nenhuma obra estava acabada. Ele sabia da necessidade de sempre melhorá-la e avançar em novos conhecimentos. E neste sentido, Rosa, na verdade, foi deveras fiel a esta posição do seu mestre. Por outro lado, isto não significa que todas as suas análises e posições foram acertadas. Para os dias atuais, ante um capitalismo global e altamente técnico-científico que vem ampliando as suas formas de exploração, acúmulo de capital e aprofundando a desigualdade econômica, não é apenas a classe operária vítima deste sistema, mas outras classes (produtivas, prestadores de serviço e profissionais liberais) vêm sendo proletarizadas. Além disso, apesar das contradições se manterem e se aprofundarem, assim como a crise econômica dos EUA, Europa e Japão, particularmente, não conseguiremos ver o fim deste sistema tão cedo.
Agora, a ideia da “espontaneidade” das organizações operárias de Rosa Luxemburgo possui seu grande valor, estendendo-se hoje para toda uma população pobre e miserável. Até porque tem suas raízes na autogestão anarquista e de caráter democrático. No Brasil, nos últimos anos, surgiram muitos movimentos espontâneos e vários deles com sucesso, principalmente com o aparecimento e uso da internet e das redes sociais. Movimentos esses que deram mais resultados do que muitas organizações institucionalizadas as quais foram cooptadas e desviadas de seus legítimos objetivos. Exemplo bem contundente é a maioria dos sindicatos de diversas categorias.
Enfim, as contribuições de Rosa Luxemburgo são muitas para nosso mundo hodierno, guardando, é claro, as limitações e o contexto histórico de sua época. Ou seja, é preciso extrair e atualizar muitas dessas contribuições para ajudar a compreender e mudar a nossa história. Infelizmente nosso espaço é pequeno para aprofundar esses aspectos, mas que fique o incentivo para o leitor que ainda não a conhece: leia e descubra as obras desta grande mulher e faça a sua própria avaliação e crítica.
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Epígrafes de Rosa Luxemburgo
"Quem não se movimenta, não sente as correntes
que o prendem".
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“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais,
humanamente diferentes e totalmente livres”.
*****
“O
socialismo não é um problema de comer com faca e garfo, mas um movimento de
cultura, uma grande e poderosa concepção do mundo”.
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