terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Refúgio Poético

Poemas publicados no HUMANITAS nº 9 – Abril/2013

Sinais
Rafael Rocha- Jornalista- Recife/PE

Se algum deus por acaso aqui exista
Envie sinais para o fim do desalento.
Traga ações. Interaja à nossa vista.
Mostre-se real. Mostre-se atento.

Fé é ignorância por mais que persista
Insistir manter o invisível em confiança.
Como acreditar numa etérea pista
A qual não mostra onde seu fim alcança?

Que esse deus por vontade própria sua
Saia do armário e mostre a força nua
Interagindo com toda a humanidade.

Péssima ideia é seguir um fixo rumo.
O homem crendo em um deus, presumo:
É um ser perdido na idioticidade.
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Fluir
Antônio Carlos Gomes- Médico - Guarujá/SP

Viver
É sentir-se no tempo,
Como se sempre pertencesse,
Eternamente,
Apesar da breve passagem.

Viver
É congelar o tempo
E, quando este
Fluir entre os dedos
Saber que és saudade.
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A roda da vida
Genésio Linhares- Professor MS - Recife/PE

A noite, as estrelas e o olhar da lua
O dia, o sol, a luz intensa, a vida
A cidade, as gentes, carros na rua
Um frenesi, uma Babel na lida

Um louco corre-corre na avenida
Todos escravos da máquina crua
Alguém livre nesta urbe ressequida?
É livre a buscar a verdade nua?

Pelas ruas anônima multidão
Milhares de faces com seus disfarces
Alheias, aliadas na alienação

Fazendo a roda da vida girar
Gira gerando um mundo de sequazes
Roda o tempo, ovelhas só a pastar.
..............................
Necessidade
Valdeci Ferraz – Advogado - Caruaru/PE

Preciso arrancar do peito o poema
Que teima em fazer-se mudo.

Preciso fazer sangrar a alma
Até que a última gota se transforme em lágrima.

Nem só de risos vive o palhaço.

Preciso recriar a noite com seus mistérios
Para encontrar o amor das prostitutas
E a solidariedade dos embriagados.

Preciso, ah! Como eu preciso ser
Muito mais do que um demônio
Para enfeitiçar o tempo.

Preciso encontrar um velho amigo
Mesmo que apoiado em muletas
Ele possa ouvir a minha solidão.

Preciso tatuar no vento a imagem do teu corpo
Para que as tempestades sejam perfumadas.

Preciso decifrar a esfinge
Que se esconde em tua alma
Para não ser devorado
Pelos germes da incompreensão.

Preciso brincar com as crianças
Que visitarão o meu túmulo
Em busca do último verso:
A elas pertencem o reino das palavras.

Preciso ouvir o canto das sereias
Para que a minha canção seja imortalizada.

Preciso inverter o percurso do sol
Para reinventar a humanidade.

Preciso, ah! Como eu preciso.
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Quatro e meia da manhã
Charles Bukowski (1921-1994)

os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro
e dirão:
"ele tá bêbado de novo",
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo
e
como algo esfaqueado e
cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

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