Texto de Celso
Lungaretti – Jornalista- São Paulo/SP
publicado no
HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012
O ministro Márcio Thomas
Bastos e outros eminentes juristas,
quando da conclusão do texto do memorial em defesa das cotas para negros e
índios nas universidades públicas salientaram que “a igualdade nunca foi dada em nossa história. Sempre foi uma conquista que
exigiu imaginação, risco e, sobretudo, coragem. Hoje não é diferente".
Rebatendo os alarmistas segundo os quais as
cotas "estimulariam o ódio racial e baixariam a
qualidade dos currículos da universidades", o jornalista Elio Gaspari
observou que “já se passaram dez anos. Pelo menos 40
universidades instituíram cotas para afrodescendentes e hoje milhares de negros
exercem suas profissões graças a essa iniciativa”.
No meu caso mantenho o posicionamento que
assumi em junho de 2009, quando acontecia um tiroteio de manifestos pró e
contra tal política compensatória.
Para não embarcarmos numa discussão
interminável e que talvez nem sequer comporte uma conclusão inequívoca, vamos
admitir que negros e pobres tenham suas oportunidades reduzidas em função da
desigualdade e da desumanidade que caracterizam o capitalismo no Brasil; e que
os negros enfrentem dificuldades maiores ainda que as dos outros pobres.
Então, para os seres humanos justos e
solidários, pouco importa se os negros estão em desvantagem por causa da
escravidão passada ou por encontrarem-se hoje sob o fogo cruzado do capitalismo
e de um racismo dissimulado, mas não menos real.
Merecem, sim, que os pratos da balança
sejam reequilibrados em seu favor.
A política das cotas raciais é apenas um
paliativo, não uma solução: ela ataca somente um dos elos da corrente da
injustiça.
Não garante que os negros cheguem às
portas da faculdade, apenas as abre para os que as houverem conseguido alcançar
por seus próprios esforços.
E também não garante que tenham igualdade
de oportunidades no mercado de trabalho.
Nem, muito menos, que seus talentos e
conhecimentos sejam posteriormente utilizados para o seu perfazimento como
seres humanos e em real benefício da sociedade, em vez de servirem à acumulação
do capital.
Entre os partidários da competição
insensível entre seres humanos movidos pela ganância e os cidadãos decentes que
procuram minorar as mazelas do capitalismo, eu me alinharei sempre com estes
últimos.
Mas,
sem ilusões: as injustiças só serão realmente erradicadas quando o bem comum
prevalecer sobre os interesses individuais, numa nova forma de organização
social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário