sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

As cotas raciais

Texto de Celso Lungaretti – Jornalista-  São Paulo/SP
publicado no HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012

O ministro Márcio Thomas Bastos e outros eminentes juristas, quando da conclusão do texto do memorial em defesa das cotas para negros e índios nas universidades públicas salientaram que “a igualdade nunca foi dada em nossa história. Sempre foi uma conquista que exigiu imaginação, risco e, sobretudo, coragem. Hoje não é diferente". 
Rebatendo os alarmistas segundo os quais as cotas "estimulariam o ódio racial e baixariam a qualidade dos currículos da universidades", o jornalista Elio Gaspari observou que “já se passaram dez anos. Pelo menos 40 universidades instituíram cotas para afrodescendentes e hoje milhares de negros exercem suas profissões graças a essa iniciativa”. 
No meu caso mantenho o posicionamento que assumi em junho de 2009, quando acontecia um tiroteio de manifestos pró e contra tal política compensatória.
Para não embarcarmos numa discussão interminável e que talvez nem sequer comporte uma conclusão inequívoca, vamos admitir que negros e pobres tenham suas oportunidades reduzidas em função da desigualdade e da desumanidade que caracterizam o capitalismo no Brasil; e que os negros enfrentem dificuldades maiores ainda que as dos outros pobres.
Então, para os seres humanos justos e solidários, pouco importa se os negros estão em desvantagem por causa da escravidão passada ou por encontrarem-se hoje sob o fogo cruzado do capitalismo e de um racismo dissimulado, mas não menos real.
Merecem, sim, que os pratos da balança sejam reequilibrados em seu favor.
A política das cotas raciais é apenas um paliativo, não uma solução: ela ataca somente um dos elos da corrente da injustiça.
Não garante que os negros cheguem às portas da faculdade, apenas as abre para os que as houverem conseguido alcançar por seus próprios esforços.
E também não garante que tenham igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.
Nem, muito menos, que seus talentos e conhecimentos sejam posteriormente utilizados para o seu perfazimento como seres humanos e em real benefício da sociedade, em vez de servirem à acumulação do capital.
Entre os partidários da competição insensível entre seres humanos movidos pela ganância e os cidadãos decentes que procuram minorar as mazelas do capitalismo, eu me alinharei sempre com estes últimos. 
Mas, sem ilusões: as injustiças só serão realmente erradicadas quando o bem comum prevalecer sobre os interesses individuais, numa nova forma de organização social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário