Editorial do HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012
As marcas da escravidão negreira continuam
presentes no Brasil. Apesar de existir uma lei denominada Áurea, assinada no
dia 13 de maio de 1888 por uma princesa brasileira, abolindo oficialmente a
escravidão. Na realidade a abolição ficou entre aspas. Cento e vinte e quatro
anos se passaram e os negros ainda lutam por igualdade. A princesa regente
Isabel assinou a lei, mas não reparou os 350 anos de escravidão. Hoje a
discriminação contra os negros ainda vigora no Brasil, bem como a exploração e
a opressão da classe trabalhadora, cuja maioria é negra.
Agora, em novembro, no dia 20, comemora-se
o Dia Nacional da Consciência Negra. Aqui lembramos que a repressão violenta
dos senhores de escravos foi substituída hoje pelo arrocho salarial, perda de
direitos sociais e ação bruta das milícias, que exterminam os jovens negros nas
periferias. Negros de Pernambuco, da Bahia, do Rio de Janeiro e de muitos
outros estados do Brasil sofrem perseguição extrema.
Uma pena que historiadores e cientistas
sociais defendam e digam ter sido uma vitória o fim da escravidão no distante
ano de 1888. Esqueceram que isso não é a consagração da verdadeira liberdade.
Não se pode ser livre sem emancipação econômica plena. Não se pode ser livre
sem inserção social e política. Não se pode ser livre sem acesso aos bens
culturais e econômicos. Não se pode ser livre se não se usufrui dessa liberdade
em todas as instâncias.
O racismo tem de ser superado através da
luta. Que se mantenha vivo na consciência brasileira o espírito de Zumbi, rei
dos Palmares. É preciso superar o racismo no mercado de trabalho, garantir
igualdade salarial entre negros e brancos, permitir que os negros tenham acesso
a empregos de qualidade, à mobilidade e ascensão no mercado de trabalho. É
preciso garantir a presença de negros nos espaços acadêmicos e de produção de
ciência. É preciso enfrentar de peito aberto o racismo. Se tivermos de ser
radicais, sejamos. Precisamos de políticas que proporcionem para toda a população
oportunidades iguais, com reparações e ações afirmativas na educação e na
saúde.
A lei Áurea não passou de um falso consenso
das elites. Consenso que servia para “libertar”, mas não em reparar todos os
erros contra os construtores da nação brasileira. Um engodo elitista que o
ensino oficial empurra na mente da população. O dia 20 de novembro é que deve
ser a verdadeira data de afirmação para o povo negro. É a data da lembrança do
seu líder maior. Aquele que lutou pela liberdade total: Zumbi. As elites o mataram e esqueceram que ele iria
se tornar a razão de luta de todos os negros. Cortaram-lhe a cabeça,
salgaram-na e a expuseram em praça pública, visando desmentir a sua liderança.
De nada adiantou isso, ainda que o
governador-geral de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, tenha dito em carta
ao rei dom Pedro II, de
Portugal, no dia 14 de março
de 1696:
"Determinei
que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para
satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que
supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta
empresa acabava de todo com os Palmares".
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