Editorial do jornal HUMANITAS nº 02 –
Outubro/2012
Para que alguém se sinta superior outros
devem sentir-se inferiores. No mês de agosto passado, quando o planeta inteiro
fez jactância entre nações sobre a força de milhares de atletas em uma Olimpíada,
esta frase torna-se emblemática. Na realidade, essa é a filosofia onde se
incrementa o chamado bullying esportivo
em todos os atletas e nações que participaram das diversas competições. Sim,
porque a intenção maior de todos os participantes é a de se sobrepor uns aos
outros através dos esportes.
Observemos e analisemos friamente. Desde
que os Jogos Olímpicos foram criados, lá para o fim do século XIX, sempre
aparecem apenas três ou dois países monopolizando as medalhas. No máximo,
cinco. A quantidade de medalhas que tais países conquistam mostra o poderio de
cada um deles.
E, sejamos realistas, dentro da geopolítica
do mundo esse poderio nada têm a ver com o enaltecimento do espírito esportivo
e da capacidade humana de ultrapassar os próprios limites. Tem a ver, sim, e
muito: mostrar o poder de uma nação ao resto do mundo! Essa é a verdade.
Os atletas dessas poderosas nações estão na
disputa como joguetes de alguma ideologia política. São garotos-propaganda de
grandes marcas. China e Estados Unidos lideraram o pódio nas últimas
Olimpíadas? Não é novidade alguma! Quais as duas nações mais poderosas do mundo
de hoje?
A Grã-Bretanha ficou em terceiro? E qual a
colocação da Rússia? Aconteceu algo errado? Não! Tudo ficou dentro do figurino.
Para os próximos quatro anos as conquistas deste ano de 2012 vão mostrar quais
nações ditarão as regras do jogo na geopolítica mundial.
E o Brasil deve ficar satisfeito por ter
conseguido suas 17 medalhinhas. Sim! Agora a pergunta que teima em sair: como
poderemos ser respeitados dentro da geopolítica planetária com esse número
mixuruca de medalhas? Fomos até vaiados nos campos ingleses. Tornou-se modismo
por lá.
Mas
o que dizer de um país como o nosso, onde a educação física não é mais
obrigatória como disciplina nas escolas? Um país que trata a educação, no seu
todo, apenas como algo para ser tolerado merece medalha?
E ainda aparece quem diz: “o que
vale é competir”. Incorporou-se na
genética brasileira o gosto de ver o lado bom em qualquer tragédia. Isso é
complexo de vira-lata! Isso é acomodação! Lamentamos o que perdemos e queremos
que o resto do planeta sinta pena de nós. Tanta gente não diz que deus é
brasileiro? Só falta dizer que essas faltas de conquistas esportivas são
desígnios divinos, ou seja, “foi porque deus quis”.
Ainda vão mais longe tentando retirar o
mérito de quem nos vence: “aconteceu um apagão". Sempre que quaisquer esportistas e esportes
do Brasil perdem é "apagão". Nunca a grande mídia diz que é porque os
outros foram melhores. A mania nacional é que só perdemos porque deu "apagão",
ou seja, nunca perdemos por mérito dos
outros.A falta de educação adequada, a falta de um incentivo governamental
prioritário, o comodismo e a famosa lei de Gerson tornaram-se fatores
preponderantes dentro do Brasil e do nosso traço de personalidade.
No dia em que algo ou alguém resolva
inverter esses quesitos, tornando a educação física disciplina obrigatória no
currículo das escolas, deixando de acreditar que educar maciçamente o povo (em
todos os sentidos) seja apenas algo a ser tolerado, mas sim que deve ser o
maior dos princípios nacionais, talvez possamos impor respeito às outras nações
nas disputas olímpicas.
Mas
até que essa revolução de costumes aconteça e que seja mudada a forma de
governar, continuaremos a lamentar e a justificar como "apagão" as derrotas que acontecem no âmbito de nossa vida esportiva.
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