quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Complexo de Vira-Lata

Editorial do jornal HUMANITAS nº 02 – Outubro/2012

Para que alguém se sinta superior outros devem sentir-se inferiores. No mês de agosto passado, quando o planeta inteiro fez jactância entre nações sobre a força de milhares de atletas em uma Olimpíada, esta frase torna-se emblemática. Na realidade, essa é a filosofia onde se incrementa o chamado bullying esportivo em todos os atletas e nações que participaram das diversas competições. Sim, porque a intenção maior de todos os participantes é a de se sobrepor uns aos outros através dos esportes.
Observemos e analisemos friamente. Desde que os Jogos Olímpicos foram criados, lá para o fim do século XIX, sempre aparecem apenas três ou dois países monopolizando as medalhas. No máximo, cinco. A quantidade de medalhas que tais países conquistam mostra o poderio de cada um deles.
E, sejamos realistas, dentro da geopolítica do mundo esse poderio nada têm a ver com o enaltecimento do espírito esportivo e da capacidade humana de ultrapassar os próprios limites. Tem a ver, sim, e muito: mostrar o poder de uma nação ao resto do mundo! Essa é a verdade.
Os atletas dessas poderosas nações estão na disputa como joguetes de alguma ideologia política. São garotos-propaganda de grandes marcas. China e Estados Unidos lideraram o pódio nas últimas Olimpíadas? Não é novidade alguma! Quais as duas nações mais poderosas do mundo de hoje?
A Grã-Bretanha ficou em terceiro? E qual a colocação da Rússia? Aconteceu algo errado? Não! Tudo ficou dentro do figurino. Para os próximos quatro anos as conquistas deste ano de 2012 vão mostrar quais nações ditarão as regras do jogo na geopolítica mundial.
E o Brasil deve ficar satisfeito por ter conseguido suas 17 medalhinhas. Sim! Agora a pergunta que teima em sair: como poderemos ser respeitados dentro da geopolítica planetária com esse número mixuruca de medalhas? Fomos até vaiados nos campos ingleses. Tornou-se modismo por lá. 
 Mas o que dizer de um país como o nosso, onde a educação física não é mais obrigatória como disciplina nas escolas? Um país que trata a educação, no seu todo, apenas como algo para ser tolerado merece medalha?
E ainda aparece quem diz:o que vale é competir”. Incorporou-se na genética brasileira o gosto de ver o lado bom em qualquer tragédia. Isso é complexo de vira-lata! Isso é acomodação! Lamentamos o que perdemos e queremos que o resto do planeta sinta pena de nós. Tanta gente não diz que deus é brasileiro? Só falta dizer que essas faltas de conquistas esportivas são desígnios divinos, ou seja,foi porque deus quis”. 
Ainda vão mais longe tentando retirar o mérito de quem nos vence:aconteceu um apagão". Sempre que quaisquer esportistas e esportes do Brasil perdem é "apagão". Nunca a grande mídia diz que é porque os outros foram melhores. A mania nacional é que só perdemos porque deu "apagão", ou seja, nunca perdemos por mérito dos outros.A falta de educação adequada, a falta de um incentivo governamental prioritário, o comodismo e a famosa lei de Gerson tornaram-se fatores preponderantes dentro do Brasil e do nosso traço de personalidade.
No dia em que algo ou alguém resolva inverter esses quesitos, tornando a educação física disciplina obrigatória no currículo das escolas, deixando de acreditar que educar maciçamente o povo (em todos os sentidos) seja apenas algo a ser tolerado, mas sim que deve ser o maior dos princípios nacionais, talvez possamos impor respeito às outras nações nas disputas olímpicas. 
Mas até que essa revolução de costumes aconteça e que seja mudada a forma de governar, continuaremos a lamentar e a justificar como "apagão" as derrotas que acontecem no âmbito de nossa vida esportiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário