segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Escrevendo uma nova história

Texto de Genésio Linhares – Professor MS – Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 8 – Março/2013

Nada é impossível para quem sonha e deseja mudanças de crescimento e evolução civilizatória e humanística para o seu povo.

Depois do melhor carnaval do mundo vêm os aniversários da capital pernambucana e da mágica e lendária cidade da Marim dos Caetés neste mês de março. Para que estes festejos fiquem marcados de modo especial, gostaríamos de enfatizar, neste artigo, não a importância histórica, política, libertária e dos grandes vultos que Pernambuco, mais precisamente Recife e Olinda já produziram, e ainda produzem, em vários campos como o político, literário, intelectual, cultural e artístico. Fatos estes conhecidos e reconhecidos por quem estuda e admira a riqueza e fonte inesgotável do legado dessas cidades. Mas queremos destacar a necessidade de darmos um salto qualitativo em nossa história atual. Observem o centro sudeste e sul, a partir da década de 1950 para cá, desenvolveu-se econômica, social, científica e tecnologicamente de forma assustadora. É uma realidade incontestável.
Contudo, os três últimos governos federais passaram a deslocar os investimentos maciços que ficavam concentrados naquelas regiões para a região Nordeste, comprovando - e quebrando falsos paradigmas - que é possível sim, fazer com que, não só o Nordeste, mas todo o país possa se desenvolver e crescer social e economicamente, a partir das vocações e da realidade de cada região. Investimentos estes que deveriam ter sido feitos com a Sudene, nos períodos que ela estava em franca atividade. No entanto, sabemos como inúmeros recursos públicos foram desviados e concentrados nas mãos de uma elite local, frustrando os sonhos de mudanças econômicas e sociais concretas para a maioria do nosso povo, tanto do campo como das áreas urbanas.
Hoje, porém, mais do que lamentar-se do que não foi feito, é preciso olhar para frente, para o que podemos e devemos fazer e realizar, principalmente ante este novo cenário que o Nordeste, Pernambuco, o grande Recife e o próprio estão vivendo. É preciso ter coragem e atitude para, não somente nos vangloriarmos de toda a riqueza cultural e artística que temos, como afirmamos inicialmente, mas tomar as rédeas de certos setores e passarmos a produzir aqui, tornando-nos mais independentes do sul e sudeste. No plano econômico e social estamos avançando de um modo muito promissor. Altos investimentos e projetos estão marcando um novo tempo para nosso estado. Suape é um grande exemplo disto. Entretanto, os investimentos no setor cultural e artístico ainda são muito tímidos. Nossos artistas para obter algum sucesso precisam sair daqui para aquelas regiões. Este descaso e indiferença com os nossos valores da música e mesmo da literatura devem acabar. Devemos assumir outra postura. Devemos e podemos criar políticas culturais e artísticas mais agressivas, ousadas e mais autênticas. Fala-se tanto em parcerias públicas e privadas, por que não direcioná-las também para estes setores? E o uso da Lei Rouanet? E a nossa mídia?
Esta, infelizmente, é totalmente atrelada e dependente da mídia do centro sul e sudeste. Quantas vezes ouvimos o frevo ser tocado nas rádios durante o ano? Salvo a Rádio Universitária nenhuma outra prestigia este nosso estilo musical. As rádios e TVs, de modo geral, não privilegiam as músicas de nossos compositores. Não criam espaços e programas de qualidade com o que há de melhor nesta área e muito menos incentivam os novos artistas, que não são poucos, com divulgação e repercussão nacional.
O governo do estado criou, recentemente, um projeto para transformar a TV Pernambuco em Empresa de Comunicação de Pernambuco. É bastante louvável a atitude, no entanto, é mais que necessário que ela volte a ter os programas que a TV Pernambuco produzia na época do governo Miguel Arraes, programas de excelente qualidade, e ir além.
A nosso ver ela deve ter a maior parte da programação local e nordestina, procurando transmitir para o todo o estado e todo o Nordeste, e em futuro próximo, transmitir esta programação para todo o país. O mesmo deve ser estimulado para as rádios. Criar alguma política para obrigá-las a criar programas locais de qualidade para serem transmitidos nacionalmente.
As rádios em Pernambuco, antes da entrada da televisão como grande meio de comunicação de massa, apresentavam vários programas locais, rádionovelas, festivais de música e tantas outras programações criativas. Nos anos de 1960 em diante, a ex-TV Tupi, a TV Jornal do Commércio e a TV Universitária foram pioneiras em novelas ao vivo, festivais de músicas, programas de auditório e outros produtos.
É importante e necessário retomarmos este espírito criador e inventivo. Precisamos mostrar a nossa face para o Brasil, produzindo programas, documentários, filmes etc. com a nossa linguagem, com o nosso modo genuíno e autêntico de ser e com a nossa perspectiva de visão do mundo, das coisas e do ser humano, como resposta e auto-afirmação à grande mídia que nos marginaliza e nos despreza. 
E para finalizar, não se pode esquecer o cinema que é produzido aqui com diretores e atores de nossa terra e região. A nova TV, a Empresa de Comunicação de Pernambuco deve também trabalhar para criar e incentivar projetos de produção cinematográfica com filmes de ficção, documentários, seriados etc. Quem sabe até possamos criar um Recifewood?! Nada é impossível para quem sonha e deseja mudanças de crescimento e evolução civilizatória e humanística para o seu povo. Estes são os votos de parabenização às duas cidades e a todo o estado. Que possamos realmente escrever uma nova história daqui pra frente e o rugido do leão do Norte seja escutado nos quatro cantos desta nação.

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