Publicado no HUMANITAS nº
02 – Outubro/2012
A percentagem de pessoas a quem é difícil dar um emprego
Há comentadores e
especialistas, que dizem já não fazer muito sentido falar de esquerda e de
direita, para mim faz todo o sentido! Na prática quem tem acesso a governar em
Portugal, são dois partidos, um social-democrata e o outro dito socialista, que
a governar pouca diferença fazem entre si. Têm-se vindo a alternar, numa
espécie de penalização que os votantes vão fazendo a um ou a outro. Estes
partidos são o «centrão» e revelam que as pessoas votam nos
socialistas, porque temem as consequências de votar num partido à esquerda mais
radical, o mesmo se passa relativamente aos sociais democratas, que não são a
direita mais extremista. Isto é obviamente a minha leitura do que se passa em
Portugal, onde a situação ainda mais complexa, porque na realidade quem está a
governar é o FMI. Nos midia vou lendo opiniões e contra-opiniões e acabei de
ler um artigo sobre o que se passou num debate ocorrido no Instituto Superior
de Ciências do Trabalho e da Empresa, onde foram ventiladas várias ideias.
A contestação é que a esquerda está em crise e apesar do capitalismo neoliberal estar em convulsão, a esquerda radical não consegue beneficiar desta situação. As mudanças da sociedade europeia que estão em curso podem ser tão grandes que podem motivar o desaparecimento dos partidos de esquerda. A situação é que a esquerda paralisou, sem conseguir apresentar alternativas, à receita da austeridade imposta pela direita, que comanda as operações.
Há crise de ideias, mas também de coragem de apresentar ideias ao eleitorado. Uma série de propostas foram lançadas, como a taxa Tobin (taxar fluxos de capital para financiar o desenvolvimento), taxar os rendimentos mais elevados de forma mais eficiente, combater a evasão dos advogados, notários, médicos, comerciantes.
Mas o Estado não quer ou não consegue. Pode chamar-se um estado falhado, isso aconteceu na Grécia, Itália, Portugal, Espanha.
Houve um refluxo em relação à esquerda que estava no poder quando surgiram as crises – a primeira em 2008, do mercado de capitais e a segunda, a crise fiscal dos Estados, que gastaram mais do que o que podiam. Um dos efeitos da crise foi uma espécie de anti-establishment, contra quem estivesse no poder. Mas nem sempre, na manta de retalhos europeia, houve prejuízos, outros beneficiaram da crise, como por exemplo o caso da Islândia. A esquerda radical, que tem um discurso anti-establishment e que ainda viu as suas ideias comprovaram-se, não foi compensada nas urnas, após a queda do banco Lehman Brothers, em 2008.
As pessoas querem ser tranquilizadas, sem apelo aos radicalismos. Em tempo de crise procuram quem lhes dê estabilidade, conforto emocional e não reviravoltas emocionais e a direita é melhor a lidar com as emoções e os medos e a fazer discursos de acordo com o que as pessoas querem.
O ano de 2011 foi o ano de todos os protestos – Occupy, Indignados... A classe média foi a que aderiu mais, porque têm sido os mais penalizados, com uma carga de impostos a que não podem fugir e os cidadãos são mais críticos em relação aos governos e parlamentos. Estes movimentos sociais não ajudam os partidos na sua crise de identidade.
Nos últimos anos os movimentos antiglobalização revelam desconfiança nos partidos, têm mesmo um sentimento antipartido. Estes movimentos são prejudiciais para os partidos da esquerda radical, enfraquece-os, tira-lhes protagonismo. A internet está a prestar um serviço útil, porque é lá que as pessoas se encontram e se mobilizam. Os partidos têm que se renovar, com novos programas, novos métodos de trabalho, utilizando de forma eficiente as técnicas modernas de comunicação. Num cenário sem partidos de esquerda na Europa, não é de excluir os movimentos de cidadãos, que podem entrar para a política, durante dois ou três anos, não para toda a vida, pessoas normais activas social e politicamente.
Este cenário será para uma parte da população europeia, porque outra deixará de votar, presentemente 30% da população europeia já não vota. A democracia está a enfrentar um grave problema, que é um progressivo afastamento das pessoas do processo democrático. Deixam de votar, deixam de estar sindicalizados, de se filiar em partidos. A percentagem de pessoas a quem é difícil dar um emprego ronda a média de 15% a que se somam os desapontados da política. Os sindicatos e os partidos estão em declínio, o proletariado hoje também é diferente, uma grande parte é precária e o desemprego está sempre presente.
Será mesmo que os partidos de esquerda vão acabar?
A contestação é que a esquerda está em crise e apesar do capitalismo neoliberal estar em convulsão, a esquerda radical não consegue beneficiar desta situação. As mudanças da sociedade europeia que estão em curso podem ser tão grandes que podem motivar o desaparecimento dos partidos de esquerda. A situação é que a esquerda paralisou, sem conseguir apresentar alternativas, à receita da austeridade imposta pela direita, que comanda as operações.
Há crise de ideias, mas também de coragem de apresentar ideias ao eleitorado. Uma série de propostas foram lançadas, como a taxa Tobin (taxar fluxos de capital para financiar o desenvolvimento), taxar os rendimentos mais elevados de forma mais eficiente, combater a evasão dos advogados, notários, médicos, comerciantes.
Mas o Estado não quer ou não consegue. Pode chamar-se um estado falhado, isso aconteceu na Grécia, Itália, Portugal, Espanha.
Houve um refluxo em relação à esquerda que estava no poder quando surgiram as crises – a primeira em 2008, do mercado de capitais e a segunda, a crise fiscal dos Estados, que gastaram mais do que o que podiam. Um dos efeitos da crise foi uma espécie de anti-establishment, contra quem estivesse no poder. Mas nem sempre, na manta de retalhos europeia, houve prejuízos, outros beneficiaram da crise, como por exemplo o caso da Islândia. A esquerda radical, que tem um discurso anti-establishment e que ainda viu as suas ideias comprovaram-se, não foi compensada nas urnas, após a queda do banco Lehman Brothers, em 2008.
As pessoas querem ser tranquilizadas, sem apelo aos radicalismos. Em tempo de crise procuram quem lhes dê estabilidade, conforto emocional e não reviravoltas emocionais e a direita é melhor a lidar com as emoções e os medos e a fazer discursos de acordo com o que as pessoas querem.
O ano de 2011 foi o ano de todos os protestos – Occupy, Indignados... A classe média foi a que aderiu mais, porque têm sido os mais penalizados, com uma carga de impostos a que não podem fugir e os cidadãos são mais críticos em relação aos governos e parlamentos. Estes movimentos sociais não ajudam os partidos na sua crise de identidade.
Nos últimos anos os movimentos antiglobalização revelam desconfiança nos partidos, têm mesmo um sentimento antipartido. Estes movimentos são prejudiciais para os partidos da esquerda radical, enfraquece-os, tira-lhes protagonismo. A internet está a prestar um serviço útil, porque é lá que as pessoas se encontram e se mobilizam. Os partidos têm que se renovar, com novos programas, novos métodos de trabalho, utilizando de forma eficiente as técnicas modernas de comunicação. Num cenário sem partidos de esquerda na Europa, não é de excluir os movimentos de cidadãos, que podem entrar para a política, durante dois ou três anos, não para toda a vida, pessoas normais activas social e politicamente.
Este cenário será para uma parte da população europeia, porque outra deixará de votar, presentemente 30% da população europeia já não vota. A democracia está a enfrentar um grave problema, que é um progressivo afastamento das pessoas do processo democrático. Deixam de votar, deixam de estar sindicalizados, de se filiar em partidos. A percentagem de pessoas a quem é difícil dar um emprego ronda a média de 15% a que se somam os desapontados da política. Os sindicatos e os partidos estão em declínio, o proletariado hoje também é diferente, uma grande parte é precária e o desemprego está sempre presente.
Será mesmo que os partidos de esquerda vão acabar?
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