sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Os tentáculos do poder evangélico

Texto de Manfred Grellmann – Recife
publicado no HUMANITAS nº 02 – Outubro/2012
 O único e verdadeiro deus é a natureza! Esse deus não pede templos, altares, rezas, obrigações religiosas e muito menos dízimos
Por quanto tempo ainda poderemos dizer, com alguma credibilidade, que o Brasil é um Estado laico? Pedra  por pedra, na calada da noite dos meios de comunicação os tentáculos do poder  evangélico se expandem sobre posições no governo. Perderam em 2006 por conta do envolvimento de alguns parlamentares em corrupções, mas depois voltaram com força, um aumento de 50% nas eleições seguintes.
Nos templos, os obreiros se encarregaram de distorcer, apagar e transformar o noticiário do pouco que poderia  remanescer, em inexistente memória dos fiéis. Embutido nisso vem o acalentado sonho de empossar um presidente evangélico. Uma nação ungida por um deus.
Para que  a fé se consolide e cresça, tem que haver solo fértil como ingenuidade, necessidades, miséria e pobreza. Como em nossa época essas situações se igualam ou ultrapassam a típica magnitude de todas as outras “obras” humanas, resultado da incompetência e omissão dos políticos, surge um fenômeno infeliz chamado movimento das massas. Este movimento tem poder magnético sobre as pessoas e age automaticamente, sedimentado na ignorância, na falta de uma cultura real, sendo entendido como um aviso divino de movimento e sinal dos tempos. Esta força faz com que o indivíduo  comum não precise fazer o que ele menos gosta: raciocinar e tomar decisão! 
Um povo onde os cidadãos têm todas as necessidades preenchidas, uma integração social definida, uma visão   do mundo de conhecimento real e onde as elites se destacam pela pura necessidade de comando e responsabilidade, não desenvolve o fanatismo cego de religiosidade.
Porque o conhecimento liberta (não confundir com instrução, receita de bolo). Religião não é conhecimento! É dogma que exclui a maior parte do que se precisa para se viver respeitosamente.
Se o Estado através de seus governantes enganou, mentiu, roubou, negou-lhes a saúde, a segurança, sendo conivente com o crime, deixando assaltar e assassinar seus entes mais queridos, em quem mais resta acreditar? Este acreditar é uma das coisas mais fortes, primárias e expressivas do sentimento humano, portanto, muito explorado. O Estado através dos governos, degrada, empurra para a miséria, depois vem o pastor evangélico oportunista  e alicia todo mundo.
É aí  que este conto de fadas,a religião”, cria sua metástase! As necessidades impõem uma busca pela mitigação do sofrimento e o alcance da fantasiosa fortuna apoiada na total ignorância de que nada vem sem esforço e competência. É a configuração de uma gritante fraude.
Vemos muito bem como o indivíduo é manipulado e usado como escada  pelos espertos e pelos que utilizam toda sorte de oportunismo político e financeiro. Utilizam a mesma pregação baseada no mesmo livro: a bíblia e, assim mesmo, as aparentes e diferentes igrejas se acusam, se agridem e se digladiam. Onde estão as diferenças que justificam tantas “correntes“ supostamente  antagônicas, senão o exercício puro de poder e dinheiro? O mesmo livro, o mesmo princípio e  constantemente novos templos são erguidos e o dedo em riste na pregação grita: venha para nossa igreja que aqui serás salvo! Que entendam os fiéis: nas outras  irão  para o inferno. 
Por que é necessário reunir aglomerados tão grandes para ouvir pregações da palavra divina e salvadora, senão para extrair contribuições que depois são transladadas em sacos e malas em vôos de jatos executivos para paraísos fiscais? Cadê a prestação de contas aos contribuintes dessa arrecadação?
Sacrilégio é, e surpresa seria o real destino, mas de forma nenhuma isso abala o crente! Afinal, são coisas da terra. No céu não haverá nada disto depois da peneira celestial ter feito seu trabalho. Coitados!
 A esperança de ir para o céu parece ser uma certeza nos rostos deles. Pelo que se vê, é de supor  que seu deus deverá reinar na solidão e satanás no inferno com graves problemas de superpopulação.
 Porém, quebrar a espinha desses movimentos é fácil, basta proibir a eles a menção de valores econômicos dentro ou fora de cultos e o show de curas, pois curar é da competência da ciência médica. E, ainda, criar pesadas multas e prisão para os pastores ou seus asseclas que transgredirem isso.
O único e verdadeiro deus é a natureza! Esse deus não pede templos, altares, rezas, obrigações religiosas e muito menos dízimos. Na verdade, ele não pede nada! Sua tácita implacabilidade sempre é demonstrada e é muito pior do que a do banqueiro: faça o que você quiser! Não importa o tempo, não existe prescrição às dívidas criadas pelo desrespeito à terra, pela violentação, pelo estupro à terra em que tu pisas! Serás cobrado com sofrimento e sangue até aos teus futuros descendentes!

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