do
HUMANITAS Nº 5 – Dezembro/2012
Desisti de ser mulher
Silvia
Mota – Poeta - Rio de Janeiro/RJ
Destruo-me feroz e folha branca ao léu
desfaço-me da inércia, anônima nociva.
Em traje rico falso, estéril e lasciva,
ofendo à natureza e me ofereço ao céu.
Qual flor ferida ao mel e sem meu branco véu
defloro-me integral na lágrima cativa.
À chuva amargurada elevo a tez altiva,
corrompo-me em falsária e faço-te meu réu.
Adoro-te no macho - um fêmeo sem poder
que avilta meu rugido encarniçado - e proba,
amorfo ser mulher - permito-me abater.
Soluço ao beijo teu - invoco-te um jamais
e após fazer amor reluto - viro loba,
desisto da mulher - sou nada e um nunca mais...
desfaço-me da inércia, anônima nociva.
Em traje rico falso, estéril e lasciva,
ofendo à natureza e me ofereço ao céu.
Qual flor ferida ao mel e sem meu branco véu
defloro-me integral na lágrima cativa.
À chuva amargurada elevo a tez altiva,
corrompo-me em falsária e faço-te meu réu.
Adoro-te no macho - um fêmeo sem poder
que avilta meu rugido encarniçado - e proba,
amorfo ser mulher - permito-me abater.
Soluço ao beijo teu - invoco-te um jamais
e após fazer amor reluto - viro loba,
desisto da mulher - sou nada e um nunca mais...
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Sonhos num harém
Genésio Linhares – Professor - Recife/PE
Sonhos sinuosos de volúpia sensual
Invadem meu inconsciente intraduzível
Em noturna paisagem quase invisível
Por brumas velando cenário espectral
Contudo, deixando o rio fluir seu ritual
Percebi onde estava num harém crível
As brumas, incensos de fragor incrível
Na cama belas ninfas compondo o visual
Ó sonho magistral e maravilhoso!
Deitei-me entre aquelas flores seminuas
Como se fosse um xeique árabe dos contos
E enfronhei-me entre coxas libidinoso
Num bacanal de sexo vendo mil luas
Imenso era o êxtase e delírios prontos.
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Sempre
Aline Cerqueira – Historiadora - Itaberaba/BA
A naturalidade ressuscita minha vida
E os que ignoram, não sabem
O saber do meu ser
Detesto incerteza.
Liberto-me das mentiras
E os que ignoram, não sabem
O saber do meu ser
Detesto incerteza.
Liberto-me das mentiras
E falsidades
Diariamente...
Diariamente...
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O Vento
Valdeci
Ferraz – Advogado- Caruaru/PE
Rápido,
rútilo, ríspido
Rompe rindo a relva rala
Rasga o sonho roto, insípido
Retine, retumba, resvala.
Refulge rubro no céu esplêndido
Rompendo a noite em sua malha
Raios riscam o riso mórbido
Rastros de luz o vento espalha
Recusam restos de um rio morto
Reduz-se a sombra a um reles ponto
Rasteja a alma no corpo pútrido
Refaz-se a vida de um anjo torto
Repondo as frases de novo conto
Repõem-se as garras de um mundo sórdido.
Rompe rindo a relva rala
Rasga o sonho roto, insípido
Retine, retumba, resvala.
Refulge rubro no céu esplêndido
Rompendo a noite em sua malha
Raios riscam o riso mórbido
Rastros de luz o vento espalha
Recusam restos de um rio morto
Reduz-se a sombra a um reles ponto
Rasteja a alma no corpo pútrido
Refaz-se a vida de um anjo torto
Repondo as frases de novo conto
Repõem-se as garras de um mundo sórdido.
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Dizer
Karina Lemos – Estudante - Recife/PE
Dizer da vida o prazer
de ser mulher
e revelar
anseios de paixão
Dizer da vida o amor
de um alguém
e declarar
desejos de sentir
Quero dizer
ao macho da vida
aquele que virá:
preciso dele.
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Retorno
Antônio
Carlos Gomes – Médico - Guarujá/SP
Nada
é errado
O
retorno
Sempre
está marcado.
Nada
me chateia
O
sol não muda
Nasce
até com chuva
E
clareia.
O
relógio é circular
Volta
ao mesmo lugar.
Não
importam os desatinos
Nosso
reencontro é o destino.
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Quando olho para mim não me percebo
Álvaro de Campos
(Heterônimo de
Fernando Pessoa)
Quando olho para mim não
me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
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