Poemas publicados na
coluna REFÚGIO POÉTICO
do HUMANITAS nº 02 –
Outubro/2012
Hápax
Karline da Costa Batista – Estudante- Aracati-CE
Toma esta poesia torta
Escrita com dois cinzéis e uma horta
Na balada de uma sinfonia surda
Na toada de uma lavadeira curda
Toma esta vertigem amorfa
Feita de licores babilônicos e uma porta
Gole a gole, entulha-te o estômago
Rompendo-se a veia, abduz o âmago
Toma este grão-sótão arcaico
Teto Apache sobre piso incaico
Samba e cúmbia, cadência e passo
Do pé ameríndio a fugir do laço
Toma depressa este cálice
Ébrio cacto citadino de carbono e múrice
Toma, pois, que meu destino é ápice
E o meu nobre nome: um hápax.
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Receita
Valdeci
Ferraz – Advogado- Caruaru/PE
Retire a primeira camada de sonhos
Que se assentou sobre os lençóis da tua cama
Porque agora apenas exalam odores acres,
Como os velhos tênis dos adolescentes.
Que se assentou sobre os lençóis da tua cama
Porque agora apenas exalam odores acres,
Como os velhos tênis dos adolescentes.
Apanha o primeiro raio de sol
Que entra pela tua janela
E dança o bolero de Ravel
Verás então que sem mudar o ritmo,
É sempre possível escrever uma nova canção.
Que entra pela tua janela
E dança o bolero de Ravel
Verás então que sem mudar o ritmo,
É sempre possível escrever uma nova canção.
Extraia da alma uma nova matriz de cores
Para recolorir uma velha companheira
E descobrir novos diálogos, novos sorrisos
Para recolorir uma velha companheira
E descobrir novos diálogos, novos sorrisos
Não abandones o teu caldeirão de magia
Porque os feiticeiros rondam como as hienas
Que se alimentam dos restos putrefatos
Abandonados pelos fortes predadores.
Porque os feiticeiros rondam como as hienas
Que se alimentam dos restos putrefatos
Abandonados pelos fortes predadores.
No mais, vivei!
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Pontuações metafóricas
Genésio Linhares – Professor - Recife/PE
Vírgulas são
como pingos de sangue
Que caem do
meu rosto
Como pingos
amargos de morte
Ou de vidas
de dor e sofrimento;
Pontos de
interrogação são como árvores
Na estrada
do meu existir.
Na verdade,
vivo entre florestas
De dúvidas e
incertezas;
Reticências
são o não dito,
O mistério
das santas noites profanas,
O véu dos
segredos humanos,
Os beijos
não dados na cama dos solitários;
O ponto e
vírgula, as pausas para a ilusão,
Para o sonho
do que queremos, mas sem poder,
Sem nenhum
poder divino arrebatador,
Construções
imponentes a deixar vazios;
O ponto: o
nosso planeta perdido
Neste vasto
universo em que vivemos,
O alfa e
ômega dessa nossa existência
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Sonho encantado
Silvia Mota – Escritora e poeta- Rio de Janeiro/RJ
Armas destruídas
Luz através da janela
Vidas sem ruínas...
Luz através da janela
Vidas sem ruínas...
Sonho de um mundo melhor
Canto de amor e de paz!
Canto de amor e de paz!
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O Papão
Abílio
Manuel Guerra Junqueiro (1850-1923)
As crianças
têm medo à noite, às horas mortas,
Do papão que
as espera, hediondo, atrás das portas,
Para as
levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias
da infância, ó velha humanidade,
Que tu
também tens medo ao bárbaro papão,
Que ruge
pela boca enorme do trovão,
Que abençoa
os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que
não faz a barba há seis mil anos,
E que mora,
segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima,
detrás da porta do infinito!
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