Texto de Aline Cerqueira – Historiadora –
Itaberaba (BA)
publicado no HUMANITAS n º 01 – Setembro/2012
A população negra
no Brasil vive em apartheid social disfarçado
após 300 anos de escravidão. Os reflexos ainda sobrevivem nas favelas e lugares
mais pobres do país. A maioria negra está excluída do acesso aos direitos
básicos assegurados pela Constituição brasileira. E isso é uma verdade.
A mulher negra e
o homem negro foram subjugados por um sistema que cria imensas dificuldades de
ascensão social. As constantes lutas pela sobrevivência estão estampadas nas
ruas, nas praças e nas favelas brasileiras. A maioria da população negra vive
em condições subumanas. Sobre o pretenso
complexo de dependência do colonizado, o pensador Frantz Fanon afirma que o negro “é
escravizado por sua inferioridade, o branco escravizado por sua superioridade”, ou
seja, a alienação é mútua, o colonizador ao criar uma imagem mítica do
colonizado também é alienado.
Ainda hoje no
Brasil essas questões gerais aparecem de formas especificas nas expressões que
dizem respeito à reflexão cultural. Vemos que a mulher negra é submetida pelo
sistema a viver dentro da cultura imposta pelos europeus, incluindo valores e
comportamentos. Fanon observa que a intensidade do peso do
colonialismo no imaginário da mulher de cor, faz com que esta se sinta inferior
para se relacionar com o homem branco.
Por isso é
visível a preocupação da estética como alisamento de cabelos, roupas americanizadas,
embranquecimento da pele e todos os aparatos estéticos que assinalam um
condicionamento à cultura branca. Essas formas culturais são ocidentais e
modernas. Elas alienam e criam mecanismos para que a sociedade viva em padrões
disfarçados em valores de uma “sociedade perfeita”. Em que todos pareçam
iguais.
Historicamente é
preciso compreender que a maioria da população negra quer falar e agir, mas
suas ações foram condicionadas à cultura branca, a qual chegou ao Brasil há
mais de 500 anos, trazendo e impondo sua forma de pensar e de se comportar em
uma sociedade. O poder dominante da raça branca europeia estabeleceu regras de
submissão que predominam até hoje, ainda que os traços africanos e indígenas
estejam presentes nas características faciais do povo brasileiro.
O negro no Brasil
sempre foi considerado um ser inferior. Ainda existem pessoas temendo encontrar
um negro nos elevadores e nos locais de pouco movimento das cidades. O negro
continua sendo visto como um marginal. Essa percepção no tocante à população
negra vive na cabeça de muita gente. A escravidão de 300 anos incutiu na
mentalidade delas que o negro é ruim e que ele foi escravo para viver na
submissão e servir.
Por que o negro
ainda é o que mais morre através da violência? Por que as contradições de
pobreza da população negra ocorrem nos grandes centros? Por que as mulheres
negras não se apresentam como famosidades nas passarelas e nos grandes
programas de audiência? E por que quando algumas delas se apresentam se
disfarçam de brancas? É sobre esses questionamentos que entendemos como o negro
permaneceu inferior e marcado para ser escravo dos padrões moralistas e
racistas instalados em cada esfera de poder. É sobre essas questões de pensar o
humanismo que assinalo aqui a necessidade de excluir esses padrões
estabelecidos pelo sistema capitalista que segrega a maioria.
Por que grande parte dos negros vive sem entender a lógica do
capitalismo? Acredito que a liberdade de expressão e o senso crítico são a
chave para entender esse segredo. Precisamos ser livres pensadores. A população
negra habitante das favelas é vista como marginal e precisa reagir. A luta
humanista tem de romper essas correntes e ajudar o homem a pensar tendo como
objetivo construir uma reflexão para a luta. O negro precisa ser protagonista
da sua própria história.
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