quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A exclusão social do povo negro

Texto de Aline Cerqueira – Historiadora – Itaberaba (BA)
publicado no HUMANITAS n º 01 – Setembro/2012 
A população negra no Brasil vive em apartheid social disfarçado após 300 anos de escravidão. Os reflexos ainda sobrevivem nas favelas e lugares mais pobres do país. A maioria negra está excluída do acesso aos direitos básicos assegurados pela Constituição brasileira. E isso é uma verdade. 
A mulher negra e o homem negro foram subjugados por um sistema que cria imensas dificuldades de ascensão social. As constantes lutas pela sobrevivência estão estampadas nas ruas, nas praças e nas favelas brasileiras. A maioria da população negra vive em condições subumanas. Sobre o pretenso complexo de dependência do colonizado, o pensador Frantz Fanon afirma que o negro “é escravizado por sua inferioridade, o branco escravizado por sua superioridade”, ou seja, a alienação é mútua, o colonizador ao criar uma imagem mítica do colonizado também é alienado. 
Ainda hoje no Brasil essas questões gerais aparecem de formas especificas nas expressões que dizem respeito à reflexão cultural. Vemos que a mulher negra é submetida pelo sistema a viver dentro da cultura imposta pelos europeus, incluindo valores e comportamentos. Fanon observa que a intensidade do peso do colonialismo no imaginário da mulher de cor, faz com que esta se sinta inferior para se relacionar com o homem branco. 
Por isso é visível a preocupação da estética como alisamento de cabelos, roupas americanizadas, embranquecimento da pele e todos os aparatos estéticos que assinalam um condicionamento à cultura branca. Essas formas culturais são ocidentais e modernas. Elas alienam e criam mecanismos para que a sociedade viva em padrões disfarçados em valores de uma “sociedade perfeita”. Em que todos pareçam iguais.
Historicamente é preciso compreender que a maioria da população negra quer falar e agir, mas suas ações foram condicionadas à cultura branca, a qual chegou ao Brasil há mais de 500 anos, trazendo e impondo sua forma de pensar e de se comportar em uma sociedade. O poder dominante da raça branca europeia estabeleceu regras de submissão que predominam até hoje, ainda que os traços africanos e indígenas estejam presentes nas características faciais do povo brasileiro.
O negro no Brasil sempre foi considerado um ser inferior. Ainda existem pessoas temendo encontrar um negro nos elevadores e nos locais de pouco movimento das cidades. O negro continua sendo visto como um marginal. Essa percepção no tocante à população negra vive na cabeça de muita gente. A escravidão de 300 anos incutiu na mentalidade delas que o negro é ruim e que ele foi escravo para viver na submissão e servir.
Por que o negro ainda é o que mais morre através da violência? Por que as contradições de pobreza da população negra ocorrem nos grandes centros? Por que as mulheres negras não se apresentam como famosidades nas passarelas e nos grandes programas de audiência? E por que quando algumas delas se apresentam se disfarçam de brancas? É sobre esses questionamentos que entendemos como o negro permaneceu inferior e marcado para ser escravo dos padrões moralistas e racistas instalados em cada esfera de poder. É sobre essas questões de pensar o humanismo que assinalo aqui a necessidade de excluir esses padrões estabelecidos pelo sistema capitalista que segrega a maioria. 
Por que grande parte dos negros vive sem entender a lógica do capitalismo? Acredito que a liberdade de expressão e o senso crítico são a chave para entender esse segredo. Precisamos ser livres pensadores. A população negra habitante das favelas é vista como marginal e precisa reagir. A luta humanista tem de romper essas correntes e ajudar o homem a pensar tendo como objetivo construir uma reflexão para a luta. O negro precisa ser protagonista da sua própria história.

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