sábado, 15 de fevereiro de 2014

A mulher

Texto de Manfred Grellmann - Autodidata - Camaragibe/PE
publicado no HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012

Ao falar da mulher os sentimentos se aquietam para a admiração e contemplação. Ela é o início de tudo e a vida gira, na verdade, em volta dela. Quantas músicas a envolvem  e quantos dramas se acirram por ela? Ela foi a origem de incontáveis conflitos e dramas, desde o pobre e despossuído indivíduo, afundado em não correspondidos sentimentos  até  uma nação inteira. Na mulher a natureza  esbanjou todos os seus caprichos, fazendo tantos se arrastarem em incontidas paixões, quantas  vezes, até à autodestruição. Com ela, o início. Sem ela, o fim.
O pequeno bebê ainda se desenvolvendo no ventre da mãe se relaciona de uma forma tão íntima e total com ela, que o pai apenas chega para ele no mesmo nível de presença como todos os outros ruídos ou presenças externas. Só depois de nascido é que se inicia uma longa relação mais completa e aprendida.
Mãe e filho são uma coisa só, que em certo momento foi separada e cuja gestação construiu célula por célula numa “divisão indivisível”. Um espermatozoide apenas liga o pai ao filho. A construção de relacionamento de pai e  filho  só é construída muito depois da mãe.
Com toda essa importância e destaque, poderíamos achar que sua força deveria se impor de uma forma natural e  decisiva. Pelo menos, o merecido respeito deveria ser a nota de destaque. Mas isto não acontece. E aí estamos diante de um enorme paradoxo. A mulher, a força geradora que  encarna o princípio do universo, a geração que tanto dá de si para continuidade da espécie, sofre abusos e crimes inauditos.
Por onde uma mulher passa arrasta em seu encalço a sombra do perigo. Ela sempre é a caça. Ela sempre tem a presença consciente do perigo. É desejada como ouro e poder. Modelo ideal de ostentação, de conquista e despertar da  inveja. Quantos  homens imbecis não renovaram sua autoestima ao desfilar com uma bela mulher?
O homem corteja a mulher com galanteios para atraí-la para seus prazeres pessoais e poucas vezes com ganhos para ela, isso quando não a transforma em sua escrava com promessas mentirosas embasadas na arrogância do macho, este convencido de ser um esperto gerenciador da alma feminina.
Apesar  da inserção da mulher em atividades antes apenas masculinas, ela continua sendo explorada e submetida ao desejo e machismo do homem, expondo e escancarando  seu  corpo para deleite bestial. O recato e a vergonha são aplainados pela mídia através de pseudos estudiosos comportamentais, torcendo o senso cultural à custa da inversão total de valores morais. De todos os tipos degradantes de  tratamentos  que uma mulher sofre, o homem  nunca é vítima. É autor!
Claro que a situação social da mulher melhorou muito em relação ao passado, época que fundamentou a máxima de que mulher era burra. O presente mostra o quanto eram burros os homens. Ambos os sexos tem suas qualidades e seus defeitos e são aspectos indivisíveis da natureza, assim como o claro e o escuro.

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