Texto de Ricardo Matos Bezerra C. Vieira - Rio de Janeiro- RJ
publicado no HUMANITAS nº 01 – Setembro/2012
publicado no HUMANITAS nº 01 – Setembro/2012
Sou descendente de nordestinos, também,
assim como de sulistas, de cariocas da gema, de sarracenos, negros, portugueses
(anteriormente miscigenados, ainda na Península Ibérica), indígenas, mamelucos,
cafuzos. Somos alvarengas, fogoiós, lilases, marinheiras, castanhos,
enxofrados, melados, pálidos, roxos, sararás, turvos, verdes! Como definiu
Darcy Ribeiro, somos um POVO NOVO que se formou pela influência cultural e
miscigenação de várias etnias.
Pessoas que destilam o veneno do racismo
guardado dentro de si e deixam escapar em brincadeiras com os mais íntimos, em
momentos de efusão emocional ou cobertos pelo anonimato, esses são, em parte,
os POVOS TRANSPLANTADOS sobre os quais também escreveu o citado antropólogo.
Eles mantiveram os costumes dos países de origem, como em certas colônias no
sul do Brasil onde alguns apoiaram o nazismo na época, assim como na Argentina
e no Uruguai que receberam criminosos nazistas no pós-guerra. Já ouvi alguns
sulistas dizerem que têm sangue azul (de brincadeira, claro. Inocentes
brincadeiras).
O que seria de São Paulo sem os
nordestinos? O Brasil começou no Nordeste. De lá, muitos vieram para cá bem
antes dos movimentos migratórios mais recentes do século passado. Sei que
muitos paulistas consideram-se quase italianos. Da Itália temos muitos
episódios de preconceito. Talvez alguns deles queiram se esquecer da intensa
miscigenação na Bota desde a antiguidade. No sangue deles corre todo o Magreb,
Machrek, Pérsia e até, quem sabe, a Etiópia que eles colonizaram por breve
período.
O preconceito ultrapassa a barreira da
informação e cultura, pois é um elemento absorvido desde a mais tenra infância.
Pobres coitados esses racistas, pois eles têm vergonha de si mesmos enquanto
cortejam excessivamente o estrangeiro, acabando-se em louvores aos austríacos,
saxões, bávaros, italianos, franceses, ingleses, irlandeses, escandinavos,
eslavos. Muitos japoneses percebem-se superiores aos filipinos, malaios,
vietnamitas ou chineses. Na Era Tokugawa os japoneses costumavam referir-se aos
indianos como "aqueles macacos
pretos do sul" e aos europeus germânicos como "sujos ursos dourados peludos com olhos de gato que deveriam ser
expostos em jaulas".
É a
loucura suprema sobre a qual escreveu Erasmo de Rotterdam: "Cada povo
considera-se melhor que o outro e orgulha-se profundamente da sua nação".
Dentro de um mesmo país, cidade ou até
bairro há polarizações preconceituosas. Os seres humanos, tão orgulhosos de si,
vistos do Olimpo, se parecem mais com formiguinhas correndo de um lado para o
outro. De vez em quando alguma catástrofe ou epidemia leva milhares deles,
sejam nobres ou padres, ricos ou pobres, verdes ou roxos - o que mal se percebe
lá de cima.
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