quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Descalabro e abuso de poder

Texto de Genésio Linhares – Professor/MS – Recife/PE
publicado no HUMANITAS Nº 01 – Setembro/2012

É um absurdo e um descalabro o que a “máfia evangélica” vem fazendo no Brasil. Primeiro, o total desrespeito para com a Constituição Federal. Esta vem sendo rasgada cotidianamente, tanto por este grupo, cujo deus é o dinheiro, e por outros grupos políticos do Congresso. Isto só faz  com que eu afirme e reafirme que o Brasil é uma republiqueta.
Um país de faz de conta, pois um país sério não muda de Constituição como se troca de roupa. Costumo dizer que nem Constituição nós temos. A Carta Magna é uma colcha de retalhos, contudo, é a que temos. Mas o descalabro é tanto, que mesmo com essa que está aí, não há nenhum respeito.  O pior é que esta máfia já tem o poder político na mão. Por que o silêncio dos legisladores e da Justiça? No mínimo já se “converteram” ou colocaram deus no bolso. É bastante inquietante e suspeito esse silêncio institucional e político.
Outra coisa, nenhuma igreja paga imposto, o que de “per” si é uma afronta a todos os cidadãos brasileiros pagadores de impostos. Além disso, essas igrejas podem impor tiranicamente suas ridículas doutrinas. No entanto, as expressões religiosas afro-brasileiras não podem.
Por quê? O que se passa nos bastidores do Judiciário, do Executivo e do Congresso brasileiro, em Brasília? Por que o Estado está dando tanto poder a essa máfia? Com certeza é mais que uma ditadura. É uma tirania disfarçada, antiética com toda a sociedade. O que consiste em uma gravíssima contradição. Quem tem conhecimentos e princípios políticos sabe que nenhuma sociedade civil e política pode ser erguida sem princípios éticos.
É um contrassenso. Basta ler A República” de Platão para saber que o sumo Bem é o fim, a causa final e razão de ser de qualquer Estado. E o sumo Bem se busca e se realiza com práticas éticas e virtuosas na vida social e política. É a base fundamental para se construir um país civilizado e constituído politicamente com suas instituições públicas e também privadas. A mesma ideia vamos encontrar em Aristóteles, na obra A Política”, guardando as devidas diferenças entre mestre e discípulo quanto à concepção filosófica.
Para o peripatético estagirista não é possível constituir e consolidar politicamente uma cidade-estado, separando princípios éticos do político. Ambos estão imanentemente imbricados. É a plataforma mínima para se construir um Estado político e civilizado.
Os mesmos princípios éticos e políticos encontram guarida em pensadores modernos e contemporâneos. Infelizmente, caminhamos em uma estrada perigosa, tirânica, antiética e antidemocrática.
Pior ainda, estamos vivenciando uma história de lavagem cerebral sistemática e institucionalizada com intenções claras de alienar o nosso povo que já tem mente fraca, devido à péssima educação e formação que recebe.
O império da unanimidade acéfala vem ganhando extensos espaços com a conivência silenciosa e indiferente das eminências pardas que estão no poder.
E ficamos mais indignados ainda porque se autodenominam ideologicamente de esquerda. Imaginem se não fossem.
A realidade é que o Congresso Nacional, o Governo Federal, o Judiciário e demais instituições de toda a nação estão sendo vilipendiados e cooptados sim, por estes grupos, ditos religiosos, uma máfia que conquistou o poder econômico por meios escusos, e vem conquistando o poder político por meios não menos antiéticos e corruptos.
Suas práticas de conquista, de aliciação e de se impor perante o nosso povo são assustadoras. De certo modo, estamos a reviver uma Idade Média anacronicamente, porém, digo eu, a repetição histórica sempre vem com uma versão piorada, mais trágica que a primeira. Lutemos para evitar essas tiranias, cujo deus é a moeda de troca. 
Para esta máfia o dito evangélico verdadeiro é “daí a César o que é de deus, e a deus o que é de César”. Não o contrário, porque para esta gangue sanguessuga, deus e César são os mesmos, só os nomes são diferentes, não a semântica.

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