Editorial do HUMANITAS de nº 01 - Setembro/2012
No último
mês de agosto completaram-se sete anos do falecimento de um dos maiores líderes
da esquerda brasileira. Miguel Arraes de Alencar foi o último representante da
geração de políticos que marcou fortemente a História do Brasil no século 20.
Nascido no dia 15 de dezembro de 1916 no Araripe (CE), Arraes teve forte
atuação na política regional pernambucana. Estudou Direito, no Rio de Janeiro,
em 1932, e iniciou sua vida pública em 1947, ao ser indicado para a chefia da
Secretaria da Fazenda, em Pernambuco. Apesar de ser cearense, Arraes construiu
sua carreira política em Pernambuco, onde se elegeu para cargos no Legislativo
e Executivo. Foi amigo pessoal do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, a
quem apoiou desde sua primeira campanha presidencial.
No
dia 1º de abril de 1964, o cearense Arraes saiu do palácio do governo de
Pernambuco para entrar na história humanista. Apeado de seu primeiro mandato
como governador pelo regime militar, ele adquiriu, aos olhos de seu eleitorado,
uma aura que perdurou pelas décadas seguintes. Nessa data, do lado de fora do
Palácio do Campo das Princesas, no Recife, militares fortemente armados não
deixavam ninguém passar. Com canhões apontados para o Palácio, exigiam que o
governador de Pernambuco renunciasse ao cargo e abandonasse o local. Perto
dali, uma centena de estudantes preparava uma passeata de apoio ao governador.
Miguel
Arraes de Alencar recusou-se a cumprir a ordem para não trair a vontade dos que
o elegeram. Terminou sendo preso pelos militares. O dia era 1º de abril de
1964, uma quarta-feira. No dia anterior, havia sido deflagrado o golpe militar
que derrubou o presidente João Goulart. Pelos 21 anos seguintes o Brasil iria
viver sob uma ditadura de milicos apoiada por aquela parcela da sociedade civil
que não se identificava com a voz do povo. Aqui estamos lembrando o nome desse
homem, pois a história de líderes desse naipe tem de ser levada ao conhecimento
dos mais jovens de nossa terra. Deve ser lembrada sempre.
Personalista,
populista e político por absoluta vocação, Arraes foi preso, exilou-se e voltou
ao Brasil sob os auspícios da Lei da Anistia, em 1979. Elegeu-se mais duas
vezes governador de Pernambuco (em 1986 e 1994) e três vezes deputado federal e
presidiu o Partido Socialista Brasileiro. Tornou-se um mito no universo
político nacional. Em seu livro, Tempo
de Arraes, o escritor Antonio
Callado salienta que "nos anos
60, Pernambuco era o maior produtor de ideias do Brasil". O Estado adquiriu essa condição "em decorrência de movimento de massa e
da eleição para o governo estadual de um homem ligado ao povo". E Miguel Arraes foi o criador de um novo
horizonte histórico de sentido popular e nacionalista.
Conhecido como Arraia, entre os sertanejos, ele considerava-se um homem marcado, tal como
disse ao citar o trecho de um poema de Joaquim Cardozo no seu discurso de posse
do segundo mandato como governador de Pernambuco, em 15 de março de 1987: "Sou um homem marcado, mas esta marca temerária
entre as cinzas das estrelas há de um dia se apagar".
Difícil apagar isso. O nome de
Miguel Arraes de Alencar está hoje inserido no panteão dos humanistas de
Pernambuco, com ligação direta junto ao povo da terra pernambucana e nordestina.
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